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Crítica | “Hereditário” cria uma nova forma de horror no cinema

Critica do filme Quinta Capa

A coisa mais assustadora em Hereditário é o barulho, um filme onde o medo é simbolizado por um: KLOKK. Aquele som que fazemos sacudindo a língua para baixa do céu da boca. A maioria das pessoas não conseguem fazer isso, lembra cascos de um cavalo, mas Charlie Graham (Milly Shapiro), uma garota não sorridente de treze anos, faz esse barulho com frequência e cada vez se torna mais assustador. É o tipo de som que você escuta no canto do quarto ao escurecer sem a pessoa que faz isso está lá.

Milly Shapiro em Hereditário (2018)

Ou, pelo menos, você acha que sim. A maioria dos personagens do filme, que é escrito e dirigido por Ari Aster, não sabe exatamente em que acreditar ou quanto deve confiar em seus olhos e ouvidos. A mãe das crianças, Annie (Toni Collette), não sabe dizer se suas próprias emoções são de uma pessoa sã. Sua mãe acabou de falecer, e Annie está perplexa, ou meio envergonhada, por não se sentir triste por essa perda. Sua mãe era uma pessoa reservada, que fazia “rituais privados”. Esses ditos rituais ecoarão em todo o filme como um sussurro em uma caverna. Cena após cena tem o rigor hermético de um rito, que pessoas de fora – ou até mesmos outros membros da família – podem se esforçar para entender.

Toni Collette em Hereditário (2018)

Existe uma sensação de fechamento, de se preservar. O marido de Annie, Steve, também pode ter problemas (já que é interpretado pelo sempre sombrio Gabriel Byrne), mas, no caso dele, o filme prefere não se importar. Agora, sobre Charlie e Annie, por outro lado, descobrimos coisas que ninguém gostaria de saber. A menina gosta de arrancar cabeça de pássaros e construir brinquedos que parecem ter surgidos de pesadelos escritos pelo Stephen King. Uma herança de sua mãe que constrói casas de bonecas nada convencionais e assustadoramente realistas. Um bagulho é sinistro, cumpade.

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Os outros hobbies de Annie incluem monólogos lindos e longos em sua terapia, quase como se esses trechos falassem o que ela não pode gritar, como se fossem segredos ditos nas entrelinhas. Essas cenas, essas inter-relações entre os personagens baseados no que Annie declama é um dos segredos do filme.

Um dos resultados da terapia é que Annie conhece Joan (Ann Dowd), uma mulher que conversa com os espíritos. Depois disso, a coisa desanda, o filme muda de inquietante para o horror propriamente dito. Parece um sonho quando estamos com febre, tudo muda rapidamente, tudo parece não fazer mais sentido. Uma estrada para inferno com luzes brilhantes. Hereditário não é apenas um monte de sustos, é bem embasado, assusta, ele traz algo novo ao cinema do gênero como foi com a Bruxa (2015) ou Invocação do Mal (2013).

Toni Collette e Milly Shapiro em Hereditário (2018)

É um filme pesado. Os Grahams são sombrios, a casa deles é estranha e isso incomoda. Além do mais, o filme é cheio de nuances de cores, sombras, animais e milhares de referências do cinema de terror. O diretor consegue petrificar o expectador. Prestar atenção e assistir ao filme no escuro será uma experiência aterrorizante.

“Hereditário” é muito mais perturbador do que assustador. É notável e um clássico no novo cinema de terror que ganhou força nos últimos anos.

 

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.