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Crítica | Little Witch Academia: É realmente divertida!

Se você me perguntar por que eu decidi assistir uma série de bruxinhas, vou ter que dizer que é pela mesma razão que eu assisti tudo o que eu assisto: meu sensor aranha disse que era pra ver. Isso e o fato de que não parecia existir absolutamente nada bom no universo. Então se você tá no inferno, abraça o capeta, né não?
Eu tinha preconceitos. A arte era muito infantil, logo de cara parecia bobo e eu já sentia que até os personagens que me atraíam nas imagens do tumblr não seriam desenvolvidos com a profundidade que eu queria. Afinal, é uma historinha sobre bruxinhas pra crianças. E eu estava… eu não sei se estava errada. O que eu sei é que Little Witch Academia me levou muito mais longe do que eu imaginava.
Já vou começar falando que eu imagino que você tem preconceitos também. Ah, é um anime. Ah, é infantil. Ah, a arte é ruim. A nossa cultura ensina a gente a desvalidar coisas pra menininhas. Que adulto vai gostar de uma coisa ridículas dessa? Pior ainda, quem vai levar isso a sério? E eu fico tentada a querer te convencer de que Little Witch Academia é mais do que isso, mas quer saber? Foda-se. Foda-se porque ser isso não é ruim, e Little Witch Academia é uma prova. Foda-se também porque se você se preocupar mais com a imagem de parecer fodão ou Adulto™ e não tem capacidade de reconhecer uma boa história em qualquer meio artístico, não quero você perto de Little Witch Academia também. Minhas garotas merecem mais do que isso.
Dito isso, sobre o que é Little Witch Academia?
Imagina Harry Potter, mas Hogwarts é só pra garotas, todos os personagens relevantes são mulheres e em vez de derrotar o mal, a missão do Harry é despertar a magia nas pessoas. Mas não vamos tão rápido, porque Akko, a protagonista, não sabe que essa é a missão dela. Ela é só uma garota de uma família não bruxa que depois de um espetáculo de magia da sua ídola Chariot fixou na cabeça que queria ser bruxa também. E o primeiro passo é ir para a escola de magia onde a própria Chariot estudou: Lua Nova!
Pra sorte da Akko, ou azar, a mágica no mundo está se tornando cada vez mais rara, o que leva a escola de magia Lua Nova a quebrar suas regras conservadoras e decidir aceitar uma aluna de família não bruxa. Afinal, até bruxas precisam pagar as contas. A partir daí começa toda a aventura da Akko, que vai pra escola, faz amigas e inimigas, sofre por não ter a mesma habilidade que as outras bruxas e cada dia é uma nova oportunidade para quebrar a cara de um jeito diferente.
Sucy, Akko e Lotte
Constanze, Amanda e Jasminka
Diana – foi uma fanart dela que me fez assistir!

 
Professora Ursula defendendo a Akko

Basicamente, é isso. No início, a sensação era de que fizeram uma série animada de Hogwarts mais focada no cotidiano dos alunos. E não é nem por coincidência, Little Witch Academia foi feita em 2017 e é cheia de referências atuais. Foi até legal ver algo (nem só anime, filme/série/livro também conta) que não parece ter sido feito 20 anos no passado. Em um dos episódios, por exemplo, tem um livro chamado Night Fall que é basicamente Crepúsculo desse universo.
Olha a referência

Little Witch Academia é CHEEEIO de referências assim descrição: print de uma breve cena da série que mostra um livro com foto de uma personagem e informações sobre ela. No canto aparece parte da descrição de outro personagem que é a famosa personagem Sabrina, a Feiticeira.

Em outro, um personagem lida com hate na internet e críticas negativas. Na verdade, isso acontece várias vezes. E eles tem umas versões de internet e ipads e o caramba.
Eu só sei que nessa história a magia acaba sendo uma metáfora pra conquistar os seus sonhos e encarar desafios pra fazer algo que você quer, mesmo quando você não tem a habilidade necessária e ninguém mais acredita em você. Então é basicamente perfeito pra Escritores Sofredores como eu, que vivem quebrando a cara no mundo da escrita e ultrapassando tempestades de insegurança.
No início da série, foi realmente bobo. O primeiro episódio tem umas palhaçadas sem graça que pelo amor de deus. Eu continuei assistindo pelo mero fato de que não tinha nada pra assistir, e os episódios são só 20 minutos. Mas aí conforme a gente conhece as personagens e a trama principal – Akko, a garota que encontra uma varinha mágica e precisa despertar 7 palavras esquecidas, que podem trazer ao mundo uma nova era de magia – e os segredos que envolvem o desaparecimento da Chariot, tudo vai ficando mais interessante.
Um exemplo é o episódio da Sucy.
Veja bem, eu odeio episódio de alucinação e aparentemente o mundo inteiro ama um episódio de alucinação, mas até esse episódio me conquistou em Little Witch Academia. A Akko tem duas amigas mais próximas: a Lotte e a Sucy. A Lotte é a booknerd que parece a Velma de Scooby Doo, um pouco mais medrosa. A Sucy é a amiga gótica que adora ver a Akko sofrer (de verdade, ela gosta de sofrimento). Tem episódios centrados pra gente conhecer mais elas, mas como você vai entrar na cabeça de uma pessoa super fechada como a Sucy? Entrando na cabeça, literalmente.
Acontece uns babados mágicos e a Akko precisa entrar no sonho dela para acordá-la. Porém, quando chega lá, encontra várias partes da personalidade da Sucy e vive uma aventura própria.
Akko encontra um cinema de memórias que passa filmes, usando outros traços de animação famosos que refletem como a Sucy enxerga certos acontecimentos da história

 
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A parte legal é que em um momento a Akko encontra um tribunal de julgamento, que fica sentenciando à morte todas as versões da Sucy mais fofinhas e delicadas. Aí é claro que a Akko precisa se meter. Como alguém pode ficar se julgando tanto ao ponto de se destruir assim?!! Você precisa dar liberdade para experimentar essas outras versões de você mesmo!!! Não seja tão cruel com si mesmo!!!
PORÉM. SE JÁ NÃO TAVA BOM O BASTANTE, NO FIM ISSO CAUSA A CRIAÇÃO DE UM MONSTRO QUE DEVORA TUDO. Ou seja, talvez seja bom não se julgar tanto, mas ao mesmo tempo ser crítico de si mesmo e “cortar partes” de si faz parte do processo natural de criação de identidade. Como já dizia algum professor em alguma aula sobre alguma coisa, a nossa identidade é criada através de escolhas, através da negação de algo. “Eu sou o que eu não sou.” Então julgar e condenar faz parte da nossa natureza, só não pode deixar sair de controle.
Isso foi um episódiozinho de 20 minutos divertido e nem o meu preferido, mas que traz umas coisas interessantes pra pensar e, de quebra, a gente vê que a Sucy não é só crueldade, tem ali 1% que se importa com a Akko e gosta da amizade que ela criou com a Akko e a Lotte.
Um outro detalhe sobre Little Witch Academia: a série é super pra cima, idealista, fala de sonhos e magia, mas não tira os pés do chão. As personagens lidam com um monte de limitações e fracassos.
Além de temas assim, os episódios começam a ficar realmente engraçados e surpreendentes. Falo isso em termos de história mesmo. Em comparação, tava assistindo essa temporada 7 de Game of Thrones e aí vão aqueles episódios cheios de blablabla onde dá pra saber tudo o que acontece. Já Little Witch Academia nem tanto. Mesmo quando tá na cara algo, sempre tem um detalhe diferente.
Agora, no geral, minha única tristeza é que Little Witch Academia não é uma série adulta e onde pode ser abertamente gay. Alguma coisa – se não tudo – é gay nessa história, não é possível. Tem um episódio que é sobre a Akko indo proteger a Diana e a Diana protegendo a Akko, que ainda termina com a Akko falando pra Diana “a gente protege o que ama.” Se não elas, ainda tem a Chariot e a Croix, não existe explicação heterossexual pra essas duas. Ainda tem Amanda e Akko, e até a Lotte e a amiga da Diana lendo juntas no final.
E queria que fosse mais adulta pra explorar mais a jornada das personagens, o lado emocional. Queria muito ver mais sobre o passado da Croix e a Chariot, entender como aconteceu a transformação da Croix e ver mais o impacto da separação entre as duas. Também adoraria um traço menos “fofinho.”
Imagina um filme de Little Witch Academia com a produção de Harry Potter. Garotas bruxas voando em vassouras, encontrando dragões e vivendo aventuras. Diana live-action em um beco escuro meio à noite já mais adulta andando apressadamente. Os efeitos especiais. Meu coração precisa disso.
É claro que Little Witch Academia não é perfeito. Apesar de ser incrivelmente bom em continuidade e desenvolver detalhes da trama principal, ainda tem aqueles episódios mais fracos. Tem um perto do final que, apesar de bom e importante pra trama, parece quase jogado ali no meio do resto e perderam a mão no drama. Mas acho que perto da quantidade de filme e série ruim que fazem por aí, isso não é nada. Cada episódio me enchia de felicidade. Eu ri, chorei (nem de tristeza, acho que de emoção) e fiquei com coração acelerado.
Eu terminei a série… com um novo mundo imenso dentro de mim. Um mundo melhor. Um mundo tão vasto que toda vez que eu tento falar de Little Witch Academia, eu fico sem palavras, porque eu não vou conseguir capturar tudo o que eu sinto, vivo e vejo quando tento falar sobre, por isso vim escrever esse texto.
Agora só fica a tristeza de ter acabado e não ter previsão pra uma nova temporada. A perspectiva é boa, os criadores já falaram que querem mais, mas vamos ver.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
Little Witch Academia foi criado pelo estúdio japonês Trigger.
– saiu uma versão que parece um mini-filme alguns anos atrás
– depois conseguiram no Kickstarter fazer um outro
– agora saiu de verdade a série, que tem 25 episódios e está no Netflix
– o Netflix lançou a temporada dividida em duas partes, como se fossem duas temporadas
– Acho que em português é chamado de Academia de Bruxinhas?  Não sei se tem tradução
– Todos esses estão no Netflix, mas não recomendo os outros dois além da série porque eles são mais o protótipo da ideia, mais infantis e bobinhos e menos desenvolvidos. Vale a pena assistir se você tá com saudade, que foi o que eu fiz, mas se começar por isso vai ser bem ruim.
– Eu assisti dublado em japonês com legenda.
Também tem uns mangás e parece que vai sair um jogo de videogame??? Eu não sei. Eu não sou acostumada com anime nem com como coisa japonesa funciona, só sei que a série é o meu canon.
A Dana Martins escreveu está crítica.
Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.