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Daytripper e suas viagens existenciais

Fábio Moon e Gabriel Bá

[wp-review]Daytripper é uma mini-série feita pelos gêmeos paulistas Fábio Moon e Gabriel Ba e a gente já colocou na lista de 9 quadrinhos que todos deveriam ler. A história é sobre a vida do escritor de obituários de nome Brás, esse também filho de um escritor bem sucedido. O quadrinho foi publicado em 2010 nos EUA pelo selo Vertigo que publica quadrinhos adultos para a DC . A Vertigo geralmente traz histórias de terror ou com muita violência, gêneros que não tem nada a ver com Daytripper cujo foco são reflexões sobre o cotidiano.

O protagonista da história é Bras. A sua vida é como a de qualquer pessoa que levanta todos os dias para trabalhar e volta para casa, não há nada de tão especial. Quando ele se dá conta disso, que ele não se tornou exatamente aquilo que realmente gostaria de ser e vê toda a pompa destinada ao pai ao completar quarenta anos de carreira, ele faz uma viagem com o seu amigo Jorge. Jorge era tudo o que Brás não era, uma pessoa desligada das suas obrigações que fazia do seu ofício de fotógrafo também como um robby. Brás descobre amores que se desfazem e novos são construídos, decisões e frustrações estão presentes na vida dele e enquanto ele divaga, a gente se vê fazendo os mesmos questionamento. A história tem uma temporalidade própria, enquanto alguns fatos são bem detalhados outros ocorrem com a velocidade de um passar de páginas. A proposta é que cada capítulo narre um dia na vida do personagem, por isso que o tempo é conduzido de acordo com os momentos que os autores querem enfatizar. Um outro aspecto a ressaltar, é o fato da temporalidade nem sempre ser linear, um recurso que pode atrapalhar a narrativa, aqui foi muito bem utilizado, não deixando a leitura confusa.

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Daytripper traz um roteiro ousado por focar em situações cotidianas, algo que poderia não prender a atenção. Entretanto, ainda que não haja um grande crime misterioso a ser desvendado, a obra prima pela reflexão. É inevitável que a gente tenha vivido alguma das situações que o Brás vive ali ou tenha feito em algum momento algumas das indagações presentes no gibi. Eu, assim como Brás, gosto muito de escrever porém eu não crio nada. Eu sou uma pessoa que não escreve sobre quadrinhos por profissão e, por isso, fico imaginando a frustração do personagem em estar ali escrevendo obituários que vão interessar apenas aos amigos e familiares do falecido. Escrever é algo prazeroso e catártico e quem escreve quer ver o seu texto atingindo o maior número de pessoas possível. Como conseguir tal intento se você é o portador da má notícia, que precisa utilizar da sua habilidade para tentar passar uma mensagem sem causar tanta dor? Isso me faz pensar de como eu imaginei a minha vida quando adolescente e onde eu cheguei. Contudo, a obra mostra que mesmo com as frustrações de Brás, a sua vida e profissão não é em vão, as circunstâncias se encarregam de mostrar que a sua existência não tem nada de banal.

A questão sobre a vida e morte e as escolhas em decorrência disso é um outro tema trabalhado com ênfase em Daytripper e quando a gente vai conhecendo a história, percebemos que narrar em quadrinhos foi a melhor opção. Em alguns momentos as palavras não descrevem ou deixam o impacto que a cena transmite, os quadros mudos em momentos de grande emoção fez com que a gente se aproxime das emoções dos personagens, é inevitável não se deixar tocar nesses momentos, próprio aspecto da temporalidade, que um quadrinho mostra um momento e no quadrinho seguinte horas ou meses já se passaram, é algo que a linguagem dos quadrinhos encaixa bem na ideia de estar divagando.

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A história é toda ambientada no Brasil e os desenhos trazem belos cenários do Rio de Janeiro e da Bahia, mostrando uma cultura típica mas sem ser panfletário. Os desenhos cativam o leitor e os autores sabem parar os diálogos nos momentos certos para que o leitor sinta apenas através dos desenhos. Ao mesmo tempo em que a obra convida pessoas de outros países a conhecer as belezas brasileiras, ela possui uma temática universal que faz com que pessoa de qualquer cultura consiga se conectar com a obra.

Os gêmeos Bá e Moon tornaram-se conhecidos pelo Fanzine 10 Pãezinhos que logo depois foi ampliado e tornaram-se livros de sucesso. A temática deles gira em torno das reflexões do cotidiano, algo bem mais difícil de fazer do que parece. Um herói ou um monstro já gera em si uma expectativa ao leitor. Todavia falar sobre vidas comuns requer uma habilidade narrativa destinada a poucos, por isso essa temática não é tão recorrente nos quadrinhos.  Daytripper consegue mostrar que a extensão da nossa vida pode ser vista como viagens curtas quando nos deixamos levar pela memória e são essas experiências que nos permitem aprender e evoluir como pessoa. Por isso, delicie-se com essa obra, guarde e releia após alguns anos, certamente em diferentes momentos da sua vida você perceberá a história de outras formas.

 

Ficha técnica:

  • Capa dura: 260 páginas;
  • Editora: Panini;
  • Lançamento: setembro de 2011;
  • Dimensões: 17 x 26 cm;
  • Preço de capa: R$ 66,00.[wp-review id=”Roteiro 9,5″][wp-review id=”Desenhos 9,5″][wp-review id=”Narrativa – 9,5″]
Sou psicólogo por profissão e um nerd em tempo integral. Eu gosto de cinema, séries, filmes, livros mas a minha paixão são as histórias em quadrinho que estão presente em minha vida desde a infância. Atualmente cismei em querer escrever, opinando sobre essa minha paixão.