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Domenico Starnone E A Verdade Revelada

O escritor italiano Domenico Starnone vive atormentado por uma polêmica que o ronda há anos: seria ele o verdadeiro talento por trás de Elena Ferrante? Muito já se vasculhou a respeito, desde estudos comparativos de seus textos com os dela até uma investigação promovida anos atrás por um jornal que apontou sua esposa, Anita Raja, como a verdadeira identidade da escritora-sensação, responsável, entre outras obras, pela série chamada “tetralogia napolitana”.

Fofocas à parte, o leitor ganha mais em saborear as obras de ambos os autores sem reservas, destaques que são do que de melhor a cena literária da Itália tem produzido. Starnone, por sinal, chega com mais um lançamento às livrarias: Assombrações (184 páginas, preço sugerido R$ 49,90) sai pela editora Todavia, que ano passado apresentou seu trabalho ao público brasileiro com Laços, romance muito bem recebido pela crítica.

Abordando mais uma vez o microcosmo familiar, Assombrações é um elegante drama sobre ambição, família e velhice. Imagine um duelo entre dois homens. Um deles, Daniele Mallarico, é um ilustrador que sente que sua reputação e sua habilidade artística estão desaparecendo. O outro, Mario, é seu neto de quatro anos. Daniele vive em uma cidade do norte há anos, na solidão virtual, concentrando-se obsessivamente em seu trabalho, quando sua filha pergunta se ele viria a Nápoles por alguns dias para tomar conta de Mario. Encerrado em sua casa de infância – um apartamento preenchido com os fantasmas de seu passado –, Mallarico se dirige para um acordo com suas próprias ambições e escolhas de vida enquanto avô e neto tentam se integrar.

Professor de formação, Domenico Starnone iniciou sua carreira literária aos 42 anos, tendo lançado desde então 20 romances, além de roteiros e peças de teatro. Em 2001, recebeu em seu país natal o prestigioso Prêmio Strega, uma das maiores honrarias literárias.

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Em recente entrevista ao El País, fez interessantes reflexões sobre o ofício da escrita. Ao discorrer sobre os ensinamentos que a literatura nos traz, afirmou que ela “deve mostrar aquilo que resistimos a ver, ou que escondemos porque nos dá medo. Mas é preciso contar a verdade da própria experiência, isso é a única coisa que um escritor tem. E isto não significa fazer autobiografia, e sim usar a experiência para traçar as histórias.”

Se verdadeiro ou não o mistério que o liga à Elena Ferrante, a verdade é que Starnone nos presenteia com textos tão intrigantes, explorando os subterrâneos emocionais de seus personagens, que seu talento vale por si só a conferida.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br