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Ensaio | O que faz o Superman… bem… um Super-Homem

(Imagem: Reprodução)

 

O Superman é um mito, como aqueles que a gente estuda na aula de filosofia, só que moderno. É um figura cultural. É um símbolo. E, claro, alguns o consideram monótono e entediante, consigo entender isso, mas deixe-me explicar o motivo do Superman ser julgado um dos maiores super-heróis do panteão gigante dos quadrinhos: Sabe aqueles conceitos gregos sobre o amor? Dividido em três tipos e tudo? É de certa Ágape, a compaixão, caridade, simpatia por conjuntos, e, acima de tudo, esperança, que o Escoteiro Azulão consegue (me) arrancar lágrimas.

Considero a série de quadrinhos Grandes Astros: Superman a história definitiva e mais tocante dele, tanto pelo fato de estar solta da continuidade exceto pela origem do herói quanto por, depois de outros escritores andarem em círculo, Grant Morrison escrever o ápice do Supes. Fazendo um sumário básico dessa série, Superman salva um nave perto da superfície do Sol fazendo com que ele absorva muita radiação solar e gradativamente causa sua morte (Além de dar impulsionada nos seus poderes e na sua inteligência) . E ele é dado um tempo limitado para viver. A partir daí o Supes tenta aproveitar seu tempo na Terra da melhor forma que pode.

Ele salva quanta vidas consegue. Mas, veja, o presente deste Superman não é só resgates, mas a promessa de um futuro melhor. Ele espalha quanto amor consegue, um amor de sensibilidade, quase paterno, pela Terra, o já mencionado Ágape. Veja, quando você cria uma pessoa tão poderosa quanto o Superman, como estabelecer riscos ou desafios para ele? Focando em batalhas intelectuais e emocionais e, principalmente, na sua batalha de melhorar o mundo e cuidar dos que ama. Apesar da iminência mórbida, Grandes Astros é um ode a esperança, a coragem, a verdade, a diversão, ao otimismo e a vida.

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Tem esse texto de 2008 do Mark Waid falando sobre essa HQ que faz um melhor uso das palavras do que eu jamais conseguiria: “Não é o poder dele, não é a fantasia que ele veste, não é sua descendência. É que, diferente da grande maioria, ele tem mais fé em nós do que temos em nós mesmos. […]Em toda luta, Superman soca quando precisa e luta quando é necessário, mas ao fim de cada batalha ele consegue a vitória maior fazendo seus adversários ver o mundo deles — nosso mundo — da mesma forma que ele vê.”

Ainda falando de Grandes Astros, em um dos volumes que esqueci o número há esta página, uma página só, que mostra o Superman parando seus afazeres para salvar uma garota suicida no terraço de um prédio:

Fonte: Comics Alliance

Quando li essa HQ pela primeira vez eu passava por um tempo muito difícil do ano passado, estava com depressão há alguns meses e por causa de certas condições externas e internas eu não conseguia procurar ajuda profissional, e depois de ler essa página não aguentei segurar as lágrimas, senti um enorme conforto. Aquelas palavras foram a melhor ajuda que eu poderia pedir, elas ressoam comigo até hoje e às vezes escuto-as na minha cabeça na voz do dublador Guilherme Briggs. Sei que pode parecer ridículo colocar todo esse peso emocional num personagem fictício, porém, na condição de mito moderno, o Superman transcende a ficção para um ideal, sim, intangível, mas que é, com certeza absoluta, admirável.

Nas palavras de Mark Waid: “[…]Quando o Superman, sem hesitar por um segundo, toma tempo de seus feitos de construção mundial, para abraçar e confortar uma jovem garota suicida. Quando ele diz ‘Você é mais forte do que pensa que é’, isso torna-se as palavras mais comoventes que já lemos na história do Superman. E elas são perfeitas porque revelam, em uma frase, o segredo fundamental do Superman e porque nós o amamos: Deuses atingem seu poder nos encorajando a acreditar neles. Superman atinge seu poder acreditando em nós.

(Imagem: Reprodução)

E é por isso que fiquei tão chateado com o Superman dos cinemas (Tudo bem que ainda não vi Justice League…), especialmente Man of Steel (e a “relutância do herói” cínica e interpretação vazia e equivocada do personagem) e Batman v Superman (e o embate ideológico falso e a inconsistência egoísta do personagem). Perceba, em mundo cinzento e sombrio como relatado nestes filmes o farol da esperança não brilha como deveria. Um Superman que considera nosso mundo despreparado para sua chegada e um Superman cegado por objetivos morais de atingir a própria felicidade e os próprios interesses não representa o que há de melhor no personagem: De que é bom seguir a vida sabendo que há um herói acreditando na humanidade, que há um benevolente e íntimo Deus nos guiando para a melhora, que há um monumental e emblemático símbolo ajudando que, embora distante, é o mais marcante (Pelo menos para mim) dos mitos que a humanidade criou.
Superman: As Quatro Estações

Essas últimas imagens são da última edição da série Superman: As Quatro Estações, desenhada maravilhosamente pelo Tim Sale, é sobre ser ciente de sua responsabilidade com/pelo mundo e aceitá-la (Primavera) de Clark, a ascensão do Superman e solidão (Verão) e a derrota do herói e seu estado mais profundo de abatimento (Outono). Humanizando o personagem a história ganha bastante competência e confiança. Na última edição, o Inverno, há o gradual ressurgimento do Superman. Nesta edição as palavras de um pastor de Smallville de que as estações podem ser difíceis e sombrias mas melhoram e aprimoram o amanhã e o futuro falam não só com Clark mas com o próprio leitor.

Em 2018 o Superman fará 80 anos de existência, faremos especiais e convidados falando do maior ícone da cultura pop.

Texto de Ítalo de Oliveira

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.