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Janeiro Literário | Entrevista Com Samária Andrade (Revista Revestrés)

Em circulação desde 2011, a revista Revestrés se firmou como o grande painel gráfico da cultura piauiense nas suas diversas vertentes. Nascida do desejo em comum que dois amigos – André Gonçalves e Wellington Soares – alimentavam de criar uma revista cultural, a publicação segue firme em seu propósito, perto de alcançar a marca da 40º edição. E apresenta a cada edição, com o capricho que lhe é peculiar, entrevistas, reportagens, crônicas, ficção e fotografia.

Conversamos um pouco sobre a trajetória da revista e seus desafios com Samária Andrade, membro do Conselho Editorial da Revestrés. Samária é professora de Jornalismo da Universidade Estadual do Piauí, jornalista de carreira, doutoranda em Comunicação na UnB e mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí. É autora do livro Jornalismo em mutação: estudo sobre a produção de conteúdo na fase do capitalismo avançado, além de participações em outras publicações.

 

Passados quase 7 anos desde a primeira edição lançada, imaginavam no início não apenas perdurar, mas crescer e alcançar prestígio nacioalmente?

A gente nunca sabe exatamente o que vai acontecer, mas se tinha um otimismo e uma persistência para que perdurasse, ainda que se enfrentasse dificuldades. “Prestígio nacional” são palavras suas. Não chega a tanto. Mas temos consciência que a Revestrés apresenta um bom trabalho. Recebemos muitos comentários positivos sobre a revista, de várias partes do país. Críticas também e elas são bem-vindas, pois ajudam a iluminar questões. Temos respostas animadoras. Por exemplo: João Moreira Salles, da Revista Piauí, disse que não conhece uma revista tão inquieta quanto Revestrés, nem no sul do país. O estímulo também é responsabilidade.

O espírito editorial que orientou a fundação da Revestrés se preserva ou a realidade comercial foi moldando algumas propostas?

Acredito que se mantenha. Temos algumas discussões que são pautas constantes, como as produções culturais, artísticas e intelectuais atravessadas por questões de direitos humanos, relativas a racismos, feminismos etc. São discussões com um tom crítico que estão desde o início, como norte do espírito editorial e que se mantêm. Revestrés também não faz matéria paga e isso é importante pra manter a independência editorial. Os anunciantes que permanecem já sabem disso e consideram positivo anunciar num veículo com esse espírito editorial.

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Qual a entrevista “dos sonhos” que ainda não aconteceu? Por quê? E entre as já publicadas, quais tiveram mais repercussão?

Temos uma lista dos sonhos. Vou citar uma que nunca poderá mais acontecer. Procurávamos por Belchior. Tínhamos alguns contatos em Fortaleza, mas a entrevista terminou nunca se concretizando.

Das publicadas é difícil dizer as que se gosta mais, algumas se gosta por afinidade com algum tema, outras por questões pontuais. Geralmente aprendemos muito com questões expostas pelos entrevistados. Sobre as que tiveram maior repercussão acho que podemos citar as de Marcelo Evelin e a de Ferreira Gullar.

As colaborações têm papel fundamental no conteúdo da revista. Como se dá a escolha dos nomes e a relação com eles? Pautas e prazos são estipulados?

As colaborações são combinadas primeiro em reunião de pauta. Sugerem-se nomes, se discute e se entra em contato pra saber se aquela pessoa tem interesse em contribuir com aquela edição. Pautas e prazos são sempre estipulados.

Vocês consideram que o conteúdo produzido ao longo desses anos pela revista levou a cultura piauiense, em suas diferentes vertentes, a um novo patamar, em termos de reconhecimento e status?

Eu não colocaria dessa maneira. O Piauí é tão grande, em termos territoriais e de produção. Tem tanta gente boa produzindo, tem tanta coisa que a Revestrés ainda não cobre e tanto a ser conhecido por todos. Mas nos sentimos provocados a conhecer mais e mais e acho que a revista tem esse papel: uma provocação a conhecer mais. Acho que Revestrés coloca algumas discussões, faz provocações importantes e é uma amostra do que é possível realizar e a que tipo de realização é possível se chegar. Colocando assim, sem falsa modéstia, acredito que a revista já tem um local e um papel. Mas tem também algumas lacunas e a dificuldade de recursos é certamente um limitador. Tem também  muita capacidade, inteligência, criatividade e vontade de fazer o seu melhor em toda a equipe. Esse é um estado de espírito constante e um ânimo muito importante. Acho que quem dá o tamanho do que você faz não é você, é o público, são as pessoas que entram em contato.

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As assinaturas têm peso relevante na manutenção da tiragem?

Os gastos com correios e com distribuidora são altos. Mas as assinaturas têm, antes de tudo, a importância de ter um público fiel e de contribuir com a repercussão da revista, o que ajuda a trazer anunciantes. A Revestrés tem assinantes que estão desde o segundo número – o primeiro com assinaturas. Tem muita gente que coleciona a revista e tem todos os números. Isso é um patrimônio incrível. Tem uma coisa curiosa: a assinatura bianual não foi criada pela revista, mas por assinantes que passaram a dizer que queriam assinar logo pelos próximos dois anos. Então isso foi incorporado pela revista. E outra forma de assinatura importante é chamada “amigos Revestrés“, são pessoas que assinam e recebem a cada edição cinco, dez ou mais exemplares pra distribuir com amigos. Alguns estão também desde o início nessa forma de assinatura e se tornaram tanto leitores como divulgadores da revista.

Qual análise fazem do público leitor de vocês?

As pessoas entram muito em contato pra comentar o que leram, sugerir pautas etc. Penso que isso seja um bom sinalizador sobre retorno de público. Penso que há espaço para as revistas e que as pessoas gostam de ler e gostam de ler também no formato impresso.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br