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Janeiro Literário | Resenha: O Livro do Cemitério, De Neil Gaiman

          Estamos no Janeiro Literário e fui convidada a falar de pelo menos uma obra do escritor que, a cada lançamento, consegue fisgar mais pessoas para o mundo da literatura: Neil Gaiman.

          Poderia discorrer sobre muitos livros dele e fazer, talvez, uma lista com os melhores textos para adentrar no mundo lúdico e macabro do autor de forma mais apropriada. No entanto, decidi enaltecer O Livro do Cemitério, que continua sendo meu romance favorito escrito por Gaiman.

          Desde o começo de minha coleção de livros, sempre comprei muito pela internet, mas este em especial adquiri numa livraria física; por acaso, a Quinta Capa. Ver a capa, pegar o livro fez muita diferença. Eu já conhecia Gaiman por Sandman, mas até então, nunca tinha lido nenhum romance dele e toda essa experiência somada a capa encantadora foi o que me fez trazê-lo pra casa.

Capa da edição nacional

          Sempre fui cativada por histórias e personagens infantis, personagens líricos, ainda mais se eles tem uma pitada de elementos soturnos. O Livro do Cemitério reúne tudo isso.

          A história é sobre um garotinho que, com apenas um ano e meio, teve sua família assassinada pelo misterioso Homem Chamado Jack. Sem ao menos ter consciência da tragédia em andamento, ele consegue escapar de seu berço por pura sorte e sai engatinhando rua afora. Graças a uma série de coincidências, sua engatinhada o leva até o cemitério.

          Lá ele conhece os “habitantes locais”, entre os quais estão o Sr. e a Sra. Owens, um bondoso casal de fantasmas que em vida não teve filhos  e, com a permissão dos demais moradores do cemitério, decide acolhê-lo. O bebê recebe o nome de Ninguém Owens (ou Nin, para os íntimos) e lhe é concedida a Liberdade do Cemitério, que lhe dá algumas vantagens dentro dos limites do local.

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          É nessa atmosfera mítica que passamos a acompanhar as aventuras de Nin, o único vivo habitando o Cemitério da Colina. De seus passeios entre as lápides, seu relacionamento com seus “pais” e os outros fantasmas do lugar ao encontro com bruxas ou o tenebroso mundo dos Ghouls.

          Longe dos perigos que espreitam além dos muros do cemitério, Nin vai crescendo a salvo do terrível Homem chamado Jack, que ainda vive a sua procura para encerrar sua tarefa.

          Acompanhamos o protagonista em suas primeiras amizades e em algumas aventuras além dos portões da necrópole, expandindo paradigmas ao se deparar com o inusitado mundo dos vivos. Esse contato e seu inevitável crescimento faz com que o Cemitério da Colina pareça cada vez menor para Nin, mas também lhe traz a certeza de que sua convivência com os vivos só será segura quando questões como o mistério que envolve o Homem Chamado Jack e o assassinato de sua família forem resolvidos.

          A leitura é extremamente envolvente e rica, os personagens são muito bem colocados e Nin é um personagem muito cativante e carismático. A mistura de elementos e mitologias, marca registrada de Gaiman, só engrandece ainda mais a obra.

          Cheio de mistério, drama e aventuras, O Livro Do Cemitério nos apresenta a maestria com que Gaiman conta histórias e, mesmo sendo uma obra dedicada ao público infanto-juvenil, se torna uma leitura prazerosa para todas as idades.

          As encantadoras e sombrias ilustrações (todas em preto e branco), de Dave McKean, precisam ser mencionadas. O artista é um velho parceiro de Gaiman e seu primoroso trabalho neste livro o torna mais especial!

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Ilustração de Dave McKean para o livro

          Os fãs de Neil Gaiman já sabem que o autor adora espalhar easter eggs em tudo que faz e fomentar a teoria de que suas obras se passam todas no mesmo universo. Uma das pistas desse livro é a primeira professora de Nin, a Sra. Letitia, personagem que reapareceria no livro O Oceano no Fim do Caminho, onde a conhecemos melhor.

          Com o sucesso do livro, sua adaptação para outras mídias foi um processo natural. Assim, encontramos uma versão da história em quadrinhos, feita por P. Craig Russel e um time de renomados artistas. Os direitos para a produção de um filme, por sua vez, foram comprados pela Disney em 2012, embora não haja previsão para o início de sua produção. No entanto, certamente tem potencial para se tornar um filme tão bom e querido quanto Coraline, outro romance de Gaiman levado para as telas em 2009.

           O Livro Do Cemitério é uma narrativa maravilhosa e acredito que ideal como introdução para crianças ou adolescentes aos encantos da literatura que brinca com o lúdico e macabro.

Headbanger, prolixa e apaixonada por literatura, com preferência pelos temas mais macabros da ficção.