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Janeiro Literário | Resenha: “A Companhia Negra” cria novos elementos para o gênero de fantasia

Companhia Negra (Record)

A Companhia Negra é o primeiro de uma série de dez livros, iniciada nos anos 1980 e publicada no Brasil pela editora Record em 2012. O autor Glen Cook nos joga em seu universo sem qualquer aviso: você pensa que vai ler uma fantasia e acaba entrando num mundo sombrio, original e assustador. A Companhia Negra é um grupo de mercenários, cujos tempos de glória há muito passaram.

Reduzidos a um pequeno contingente, eles se veem envolvidos num grandioso conflito entre a Dama, a mais poderosa feiticeira que já existiu, e um numeroso exército rebelde. Recrutados por um dos dez Tomados, principais servos da Dama (outrora ferrenhos adversários dela, corrompidos por uma espécie de lavagem cerebral mágica), os membros da Companhia logo se destacam por sua destreza, ao mesmo tempo em que passam a questionar se estão do lado certo dessa luta.

A Companhia é arrastada de um conflito, talvez desonrosamente, para outro. Mas eles estão do lado do bem ou do mal?

Cook tem um estilo único de narrativa. Começa a contar sua história como se o cenário e os personagens já tivessem sido apresentados. Sua preocupação em situar o leitor na geografia, história e política daquele universo é mínima, pra não dizer nula. Você se sente meio perdido nas primeiras páginas, mas depois, como que por mágica, passa a acompanhar o que ele está narrando.

 

Capa: A companhia negra (Vol. 1 Companhia Negra) – Editora Record

 

Sabemos o que precisamos saber, e QUANDO precisamos saber. Pra alguém habituado a Tolkien, ou mesmo George R. R. Martin, é um choque e tanto. Mas, passada a estranheza inicial, é fácil e prazeroso embarcar na história, também porque a escrita em si é a mais direta e objetiva possível. O livro é narrado em primeira pessoa pelo médico Chagas, o responsável por registrar os anais da Companhia.

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Um detalhe divertido é que ele mesmo censura-se quando começa a ter alguma divagação mais filosófica, dizendo algo como “Ei, diabos, eu sou um mercenário, não um poeta”. Dessa forma, a linguagem dos personagens nada tem do lirismo tipicamente medieval, soando incrivelmente contemporânea. Também no quesito desenvolvimento dos personagens não há nada muito aprofundado.

Eles são definidos por suas características mais marcantes, virando estereótipos. Isso e a forma como se relacionam entre si torna a Companhia Negra comparável, muito mais do que a qualquer obra literária, a filmes de ação com militares, em especial os oitentistas. O que faz muito sentido, sabendo que Glen Cook foi fuzileiro da Marinha norte-americana.

O resultado de toda essa simplicidade (que passa longe de mediocridade, porém) é uma obra que se pode chamar de única no gênero. Com pouco mais de 300 páginas, A Companhia Negra é uma leitura rápida e agradável, uma grata surpresa muito bem-vinda no campo da fantasia medieval. Recomendável até para os não-apreciadores desse estilo, que não suportam longas descrições e enrolações.

 

Veredito

Livro sem caracteres bidimensionais, A Companhia Negra é maravilhosamente amoral, muitas vezes obscuro e contendo batalhas violentas e personagens fantásticos. Glen Cook mudou a cara do gênero de fantasia para sempre – e para melhor.

Editora Record até o momento lançou três volumes de dez que esta coleção incrível tem.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.