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Resenha: A Guerra dos Mundos (Dobbs & Vicente Cifuentes)

QUADRINIZAÇÃO FRANCESA DO CLÁSSICO DE H.G. WELLS É EXTREMAMENTE FIEL À OBRA ORIGINAL (e isso não é bom!)

A Guerra dos Mundos
Capa da edição Gold Edition lançado pela Mythos Editora.

Lançado em 1897 através de edições que traziam os capítulos da obra, sendo compilado no ano seguinte em edição única, o clássico de ficção científica do inglês Herbert George Wells é uma daquelas obras que recebem adaptações de tempos em tempos pela sua importância para o imaginário popular.
A Guerra dos Mundos teve adaptação desde Steven Spielberg, contando no elenco com o astro Tom Cruise, como também foi o mote do segundo volume da série Liga Extraordinária, de Alan Moore. Seja no cinema, ou no mundo dos quadrinhos, essa clássica história de ficção científica foi adaptada diversas vezes, além de ser referenciada em muitas outras oportunidades.
Talvez, a mais famosa tenha ocorrido em 30 de outubro de 1938, quando a rádio americana CBS anunciou que uma invasão alienígena estava em curso naquele momento. Na verdade, se tratava de uma adaptação da obra Guerra dos Mundos pelo cineasta Orson Wells, que optou por fazer a dramatização no rádio em formato jornalístico. É claro que o ouvinte desatento, ou que tinha perdido a introdução que explicava que aquele programa era uma ficção, acreditaria que realmente estava ocorrendo uma invasão de seres de Marte, o planeta vermelho, naquele momento.
Marciano, arte de Warwick Goble, em 1897 para a revista Pearson’s Magazine, onde a obra foi publicada pela primeira vez.

Mas por que essa obra de ficção científica é tão importante não só para a cultura pop como, também, para a literatura em geral? A resposta é simples: lançada no século XIX, Guerra dos Mundos tratava de uma invasão alienígena marciana à Inglaterra no começo do século XX. Há que se frisar que, apesar de outros autores, como Júlio Verne em seu romance Da Terra à Lua (1865), já abordarem temática que tratavam acerca do espaço e seus mistérios, H.G. Wells narra uma história que não se trata acerca de deslumbramento com o desconhecido espacial, e, sim, aborda uma história de colonização por uma raça superior, com o consequente massacre do ser humano, o qual achava ser absoluto em sua visão eurocentrista.
Na trama, acompanhamos um personagem sem nome que se vê no meio de uma invasão marciana à Terra. Contando com tecnologia superior, os marcianos subjugam os terráqueos, provocando um massacre desenfreado, já que os humanos nada podem fazer com a tecnologia que tem. A narrativa se passa toda na Inglaterra, e acompanha a sobrevivência de um homem naquele novo ambiente hostil.
Interessante notar que a popularização da ficção científica, logo, também, o interesse pelo espaço e a vida alienígena, só foi se popularizar 50 anos depois do lançamento original de Guerra dos Mundos, quando o cinema americano lança obras como O DIA EM QUE A TERRA PAROU (1951), VAMPIRO DE ALMAS (1956) e o próprio GUERRA DOS MUNDOS (1953).
 
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Imagem do filme de 1953.

Com o intuito de adaptar para os quadrinhos e fazendo parte da coleção que trás para a nona arte clássicos da literatura, a editora francesa Glénat produziu A Guerra dos Mundos, com adaptação do roteiro de Dobbs e arte de Vicente Cifuentes. É esse trabalho que a Mythos editora trouxe em janeiro de 2018 para o Brasil, fazendo parte da sua proposta de publicar álbuns europeus sob o selo Gold Edition, pelo qual lançou também Elric, o Trono de Rubi.
O quadrinho lançado pela Glénat e pela Mythos se trata de uma adaptação ipsis litteris da obra de H.G. Wells.
Dobb e Cifuentes adaptam ao pé da letra a obra original, não cabendo inovações no texto e muito menos surpresas para o leitor que já teve a oportunidade de conhecer a obra por meio de outras adaptações.
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Os Tripods na arte de Vicente Cifuentes.

Não que o texto e a adaptação não funcionem ainda para os dias de hoje, em um mundo no qual já fomos tão influenciados por Guerra dos Mundos que a cultura pop transborda de histórias sobre alienígenas e apocalipses pelo qual sofre a raça humana. Porém, ao tratar-se apenas de uma adaptação fidelíssima, a obra só surte efeito de forma plena no leitor que até então nunca teve contado com Guerra dos Mundos. Cabendo ao veterano dessa obra apreciar os desenhos de Cifuendas.
A chegada dos marcianos à Inglaterra. Arte de VIcente Cifuentes.

E aqui cabe destacar que a narrativa de Cifuentes contém alguns erros aparentes. A primeira e mais notável é a mulher do protagonista sem nome. Nos primeiros quadros em que ela aparece, não é demonstrado de forma alguma que ela está grávida. Porém, ao se refugiarem na casa de um primo do protagonista, a mesma personagem aparece grávida em apenas um quadro das páginas, apenas para justificar a fala do personagem principal.
Outra falha da narrativa, ou, talvez, decisão editorial, já que a adaptação trata de trazer livros clássicos para o público juvenil, é em uma passagem onde o protagonista vê boiar diversos corpos rio abaixo. Momento de destaque na obra, já que mostra o terror da invasão marciana, é resumida a apenas um pequeno quadro na página 90.
Para falar a verdade, a obra da Glénat serve mais para apresentar a obra Guerra dos Mundos a um público novo, um que consome quadrinhos, sejam em formato de álbum, seja em formato de mensais. E isso leva a um debate sobre a forma como foi publicado no Brasil pela Mythos editora. A edição brasileira, que compila os dois álbuns europeus em apenas uma edição, faz parte da linha Gold Edition da editora. Um formato mais caro, custando R$ 79,90 em seu preço de capa.
E essa é a fonte do debate: se a proposta do quadrinho trata de uma forma de apresentar a um público novo adaptações literárias de grandes clássicos, por que lançar Guerra dos Mundos em um formato de luxo caríssimo, afastando o leitor novato que não dispõe de condições financeiras para adquirir a edição? É um desserviço com a proposta da obra e com o próprio mercado, já que, ao invés de formar novos leitores, apresentando um clássico da ficção, a Mythos mira apenas colecionadores já formados, que buscam ter todas as edições Gold Edition de álbuns europeus.
Contanto com um roteiro que simplesmente adapta a produção original, e com desenhos que falham aqui e ali em demonstrar a grandiosidade do ataque marciano, a adaptação em quadrinhos de Guerra dos Mundos só se mostra convidativa apenas para leitores que não conhecem a obra, indivíduos esses que podem passar longe desse quadrinho lançado pela Mythos devido ao preço abusivo, apesar do formato de luxo belíssimo. Os leitores que já conhecem a importância da história criada por H.G. Wells não encontrarão aqui um trabalho essencial que valha a pena gastar R$ 79,90.

Ficha técnica: Capa dura, formato 32 x 42 cm  – grand format, em cores, 116 páginas, preço de capa R$ 79,90.
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Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.