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Resenha | Demolidor 16

O escritor Charles Soule, enfim, entrega uma instigante trama de tribunal envolvendo o Demolidor

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O escritor americano Charles Soule chamou atenção dos fãs ao escrever títulos como Monstro do Pântano para a DC Comics, Inhumanos e A Morte de Wolverine para a Marvel Comics, entre outros. Porém, a empolgação ao tê-lo trabalhando no título do Demolidor na fase Totalmente Nova Marvel foi grande por dois fatores: primeiro, Soule assumiria os roteiros da série após a premiada passagem de Mark Waid e, segundo, por Soule e Matt Murdock serem algo em comum. Os dois são advogados.

E as notícias para essa nova fase não podiam ser mais empolgantes. O Demolidor não mais atuaria como advogado de defesa, fazendo agora parte da promotoria de Nova York. Também, a identidade do herói voltaria a ser segredo, mudando o que está estabelecido desde a fase do escritor Brian Michael Bendis, quando foi revelado que o Demolidor e Murdock eram a mesma pessoa.

Porém, ao assumir o título na edição número 12 brasileira, lançada pela Panini em fevereiro de 2017, pouco do que se prometeu com Soule assumindo a revista se concretizou. Em vez de enveredar para o lado mais jurídico do personagem, criando tramas envolventes de tribunal e discutindo o papel de super humanos nas cortes americanas, o escritor preferiu se concentrar em histórias envolvendo refugiados, um novo parceiro de combate ao crime, a sua relação com Elektra (seu amor do passado), a caça a um serial killer inhumano e em mostrar o como a identidade do Demolidor voltou a ser segredo.

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Porém, na edição 16 do título do Demônio da Cozinha do Inferno, Soule entrega a trama que muitos esperavam dele. No arco chamado SUPREMO, encontramos o assistente da promotoria da cidade de Nova York Matt Murdock buscando criar uma nova jurisprudência (conjunto das decisões e interpretações das leis feitas pelos tribunais superiores, adaptando as normas às situações de fato) acerca de como os ditos super-heróis podem auxiliar com seus poderes os casos nos tribunais onde esses mesmos indivíduos efetuam as prisões e precisam depor, só que sem tirar a máscara, revelando sua identidade.

Pode parecer um caso simples, onde um indivíduo pode ou não prestar depoimento, porém, não é.

Imagine uma sociedade onde esses seres vivem aos montes combatendo o crime, mas possuem uma identidade secreta. Se eles efetuam uma prisão, não poderiam depor, afinal, seus rostos estão cobertos e ninguém sabe quem está debaixo daquela máscara, impossibilitando que o juri ou o juiz do caso possam constatar que os fatos levantados ali são verdadeiros, já que não se sabem quem está alegando aquilo. Usemos o caso da legislação brasileira, onde a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso IV, veda o anonimato. Ou seja, esses indivíduos podem até parar um crime naquele momento, mas tem que rezar para que outras provas assegurem a condenação do infrator (ponto levantado por Murdock)

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Com todas essa informações acerca de tribunais e julgamentos o leitor desavisado pode pensar que essa trama é muito técnica e enfadonha. Ao contrário. Sendo uma história que envolva super-heróis, SUPREMO tem todos os elementos de uma boa trama do gênero, como: participações especiais (da Mulher-Hulk, por exemplo, outra advogada do universo Marvel), vilões (a presença do Lápide, para matar Murdock antes que ele chega a ganhar a causa em um tribunal superior) e o retorno de um aliado (Foggy Nelson, que estava sumido das histórias do Demolidor desde que Soule assumiu o título).

Mas o maior destaque recai sobre o pior inimigo do herói cego: O Rei do Crime. Afinal, se Murdock consegue mudar o entendimento sobre a presença de heróis como testemunha de acusação, os vilões serão condenados mais facilmente. E o Rei considera isso uma verdadeira trapaça, e, para impedir isso, contrata alguém que lute nos termos de Murdock: o melhor advogado dos Estados Unidos, tendo sido o advogado mor de Tony Stark.

O interessante de SUPREMO é que a história tem uma conclusão acerca do caso que Mudock quer introduzir no mundo jurídico da Marvel, evitando ser uma daquelas tramas bobinhas onde, ao final, o que o personagem queria e afetaria a todos não acontece, deixando apenas uma boa ideia que poderia afetar a todos pelo meio do caminho.

Os desenhos da trama são por conta de Goran Sudzuka (primeira parte) e Alec Morgan (4 partes finais). A dupla entrega uma boa narrativa, com boas cenas de ação e enquadramentos sóbrios. São bons desenhistas, porém, não arriscam muito, sendo a sequência de quadros, em sua maioria, bem habitual.

Do ponto de vista narrativo, apenas uma parte destoa do que está sendo contado, que é quando ocorre uma “luta” de argumentação sobre o caso tratado. É bem bobo esse momento, mas nada que prejudique a história.

O número 16 da revista Demolidor não tem apenas a trama SUPREMO. As 03 últimas partes do volume contam a história TERRA DE CEGO, e contam com desenhos do veterano Ron Garney. A história dá prosseguimento ao que ocorreu com o herói e ajudante Ponto Cego. É uma trama com alguns dos elementos que fizeram o sucesso da passagem do maior escritor do personagem, Frank Miller, na década de 1980: Ninjas, pertubação nos poderes do Demolidor e artes marciais.

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É uma boa trama, mas que empalidece perto da história anterior, SUPREMO. Mas o destaque dessas 03 partes é para o desenhista. Desde que assumiu, junto com Soule, o título do Demolidor, Ron Garney vem fazendo um dos seus melhores trabalhos da sua carreira. As cenas de luta e a narrativa são de aplaudir o desenhista. E se Garney merece os aplausos, os mesmos devem ser compartilhado com o colorinista Matt Mila, que cuida de todas as edições desse volume 16 de forma magistral. Porém, brilhando mais quando encontra o traço de Garney.

É inegável que foi uma decisão acertada da Panini publicar o título do Demolidor em edições encadernadas sem periodicidade mensal, situação que vinha desde a fase de Mark Waid. Nesses encadernados de capa cartão, as tramas do herói cego se fecham de forma mais satisfatório do que acompanhar em uma edição mensal de mix em 25 páginas. O acabamento é muito bom, o preço é o praticado para essa publicação normalmente. e o leitor pode acompanhar apenas as história do Demônio da Cozinha do Inferno em volumes de 05 ou 08 partes. A edição 16 ainda conta com as capas originais americanas (muitas do brasileiro Mike Deodato Jr.) e algumas variantes.

Após 4 edições de sua passagem pelo título do Demolidor, o escritor Charles Soule enfim entrega a história que muitos esperavam dele, contando com uma trama de tribunal instigante e relevante para o universo Marvel e importante para o advogado Matt Murdock. SUPREMO pode não figurar ao lado de outros clássicos do personagem como A QUEDA DE MURDOCK ou O HOMEM SEM MEDO, mas merece ser conferida pelos temas aqui levantados, tornando esse volume 16 do título brasileiro um dos melhores do personagem em tempos, já que junta o que há de melhor do personagem, as tramas de tribunal e o seu lado envolvendo as artes marciais, em TERRA DE CEGO. Tudo isso muito bem desenha e colorido, em uma edição no ponto para os fãs e leitores comuns.

Ficha Técnica:

Número de páginas: 180
Formato: 17 x 26 cm
Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 26,90

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.