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Resenha| Os Invisíveis Vol. 1

“Os Invisíveis” é uma obra sobre tudo.

Não consigo me imaginar escrevendo qualquer coisa sobre esta obra do escritor Grant Morrison (Homem Animal, Kid Eternidade) sem deixar isso bem claro.
Na minha primeira leitura do volume 1 de Os Invisíveis, não muitos anos atrás, tive um enorme êxtase por toda a rebeldia e conceitos ali inseridos. Magia, anarquismo, teorias da conspiração… Toda a obra parecia enérgica em mostrar o quão caótico o nosso mundo poderia ser, e eu estava realmente ansioso para mergulhar nisso.
Para escrever essa resenha (que já havia prometido desde a primeira leitura, aliás) fiz questão de reler todo o primeiro encadernado da editora Panini – que compila THE INVISIBLES #1 a #8 – novamente, e tive uma experiência no mínimo interessante.
Não sou do tipo que costuma voltar atrás e re-ler obras, (até porque acredito que nem idade eu tenho pra isso rs) mas com os Invisíveis abri uma excessão, para ter certeza que eu lembrava de todos os detalhes e me deparei com uma grata surpresa: Não só eventos dos quais eu nunca havia notado antes mas também interpretações completamente diferentes me atingiram como um tapa de luva de cetim preenchida de cacos de vidro.
“Os Invisíveis” se passa em uma sociedade moderna nos anos 90, e seu primeiro arco ‘Na pior entre o céu e inferno’ segue as desventuras de Dane McGowan, um delinquente juvenil que possivelmente está passando pelas experiências mais insanas de sua vida. Sua mãe não o quer em casa e seu pai o abandonou quando era muito criança. Seu passatempo é queimar bibliotecas, roubar carros e desafiar autoridades. O nome da obra se refere à uma ‘Sociedade Secreta’ de Terroristas Anarquistas, que são liderados por King Mob, que nada mais é do que o Grant Morrison querendo entrar em seu próprio gibi (como já havia feito em trabalhos anteriores, como em seu run de Homem Animal).

Acredito que qualquer coisa dita após isso é um spoiler atrás do outro, ou no mínimo uma descrição incompleta e nebulosa da obra. Acredito que não é segredo pra ninguém, mas se for, aqui está o fruto do conhecimento: Grant Morrison se considera um mago, e fez questão de deixar isso bem claro neste quadrinho, que está repleto de referências diretas ao Tarot, simbolismos místicos e Magia do Caos. Este é um dos charmes da obra, tal qual as músicas de Raul Seixas com referências à Thelema de Crowley.
Apesar de eu recomendar bastante uma leitura Wikipédica sobre o assunto antes de essa leitura, não é algo exatamente obrigatório, uma vez que o roteirista fez questão de atirar para todos os lados e fazer de Os Invisíveis uma obra acessível até para quem acredita em alienígenas.
Na verdade, especialmente para quem acredita em alienígenas.
Isso é algo que me causa um espanto de êxtase ao mesmo tempo que me faz pensar em desgosto: Grant Morrison fez uma obra acessível e adaptável à mente daqueles que lêem ou ele só atirou para todos os lados possíveis fazendo a trama mais absurda que conseguiu? Gênio ou canastrão?
Os Invisíveis é desenhado por diversos artistas, tal qual Steve Yeowell e Denis Cramer, que fazem trabalhos competentes na caracterização dos personagens.
Mas apesar disso, nem tudo são flores: Os Invisíveis não é uma obra para todos os públicos, e se o primeiro arco não te convence disto, o segundo “Arcádia” definitivamente o fará. Uma mistura de viagem no tempo, literatura sadomasoquista e alienígenas mostra a que veio a obra: É necessário prestar bastante atenção e saber abstrair os diálogos nonsense do autor para se ter o mínimo de noção do que está acontecendo.
Por fim, “Os Invisíveis” não é uma obra para todos, sua leitura exige mais concentração e energia do que boa parte dos leitores está acostumado a gastar; mas se você ainda sim estiver disposto a explorar esta obra, só posso avisar: Abra sua mente antes de começar a leitura. Se não fizer isso, a obra o fará e é bem provável que você fique atônito o resto do dia.
Antes de encerrar o post, sinto-me na obrigação de explicar sobre a lendária polêmica que estas primeiras edições de “Os Invisíveis” traz consigo: Como já afirmado anteriormente, a obra não é para todos e exige um gasto de energia considerável. Não deve ser surpresa para ninguém que a revista vendeu relativamente mal, e estava à beira do cancelamento quando Morrison fez algo que até hoje é lembrado: Junto de uma edição de os Invisíveis, ele explicou que a revista estava passando por maus bocados e junto deste recado, estava um Sigilo (lembra da leitura sobre Magia do Caos que recomendei antes? Então) e um pedido: Para que todos os leitores batessem uma foderosa punheta olhando para aquele símbolo em um dia e horário marcados para evitar o cancelamento da revista. Claro, no pedido ele também dizia para falar sobre Os Invisíveis com qualquer amigo que gostasse de coisas estranhas.
A revista foi cancelada, mas pouco tempo depois ganhou um segundo Volume para que o Morrison continuasse a escrever sobre suas loucuras, então… Funcionou?
E você? Tem algum comentário a fazer sobre esta polêmica revista? Acha que a magia do Morrison para continuar escrevendo funcionou? Escreva nos comentários!

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