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Resenha: Scooby Apocalipse (Giffen, DeMatteis e Potter)

Adaptação do famoso desenho infantil para os quadrinhos se distancia demais do material original

A premissa é básica e muito conhecida para quem já assistiu mais de dois episódios de Scooby-Doo:
“Constituído por um grupo de quatro pessoas metidas a detetives Fred, Velma, Daphne e Salsicha, com um Dog Alemão falante chamado Scooby-Doo, que viajam numa van chamada Máquina Mistério, e ajudam a investigar casos misteriosos. Visitam lugares inóspitos, casas mal-assombradas, parques abandonados, pântanos e ilhas, a maioria das vezes ameaçados por monstros, zumbis, vilões, mas considerando os episódios, são a maioria das vezes chamados de “fantasmas”, mesmo não sendo.
Os detetives seguem pistas, fogem dos vilões e, muitas vezes, veem-se perdidos em labirintos, passagens secretas e porões escuros. Dividem-se sempre em dois grupos quando vão procurar pistas: Fred e Daphne vão por um lado, enquanto Salsicha e Scooby acompanham Velma, que, apesar da esperteza e inteligência, vive perdendo seus óculos e se metendo nas confusões de Salsicha e Scooby.” (texto retirado da Wikipedia)
E assim foi por 28 temporadas desde 1969, sendo o desenho no Brasil imortalizado pela voz de Orlando Drummont, o dublador por quatro décadas de Scooby-Doo.

Porém, em 2016 o estúdio Hanna-Barbera, criador de Scooby-Doo e outros famosos desenhos que marcaram a infância de muitas pessoas, fechou uma parceria com a editora DC Comics para publicar histórias em quadrinhos de seus personagens. Foi assim que nasceu a minissérie Future Quest, contando com Jonnhy Quest, Space Ghost, os Herculóides, os Impossíveis e outros, sendo também publicado os Flintstones e Corrida Maluca. Dessas publicações que reinterpretam os desenhos clássicos para as HQs, Future Quest e os Flintstone já foram publicados pela editora Panini Comics no Brasil, tendo a editora publicado em março de 2018 Scooby Apocalipse.
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Os roteiros ficaram a cargo da mesma dupla que escreveu uma das fases mais lembradas da Liga da Justiça da DC: Keith Giffen e J.M. DeMatteis, os criadores da Liga Cômica. Mas o leitor se engana se pensa que a dupla usará de seu humor para essa interpretação das aventuras de Scooby e Cia. Ao contrário, tudo é levado muito a sério em Scooby Apocalipse.
Guardando um segredo que pode mudar o mundo, a cientista Velma entra em contato com a repórter em descrédito Daphne para que seja publicada uma matéria que revelaria um plano de controle mundial. Acompanhada de seu cinegrafista Fred, Daphne e Velma se veem no meio de um ataque biológico que transforma grande parte da raça humana em monstros. Enquanto isso, o adestrador de cães Norville, para os amigos, Salsicha, se vê no meio dessa confusão ao lado do cão modificado pelo projeto de Velma, Scooby.
Sim, é muita informação para o leitor que conheceu esses personagens através dos desenhos possa assimilar. E não é só nas profissões e na aparência que os personagens foram adaptados para os quadrinhos não. Suas personalidades foram deveras mudadas em prol da narrativa contada. Dessa forma, Daphne não é a donzela em perigo, sendo uma repórter intrépida e que sabe atirar; A fragilidade de Velma não é transmitida pelo seu semblante físico e óculos e, sim, pelo seu emocional abalado; Fred é um caso patológico de amor não correspondido por Daphne, sempre ponto a vida em risco para ajudar aquele que é seu amor obsessivo; E, pasmem! Salsicha e Scooby não são os eternos covardes que só se aventuram se houvesse comida envolvida. Os dois são muito pro ativos nesse mundo onde existem monstros aos montes e todos tem que sobreviver.

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Capa alternativa de John Paul Leon.

Também, sai a figura do monstro do mês e o mistério que ronda a presença dele e entra em cena um cenário apocalíptico pelo qual os personagens tem que passar. Sim, Scooby Apocalipse tem mais um clima de história de zumbi (com monstros, no caso) do que de um filme de monstro ou fantasma da série original.
Tratando da história em si, é inegável que há um excesso de texto que atrapalha a trama. Não é um caso de diálogos engraçados ou que levem a situações cômicas, como ocorria na fase da Liga da Justiça de Giffin e DeMatteis, tratando-se mesmo de um excesso de informações, muitas vezes repetidas. Em quase todos os seis capítulos dessa edição, Velma repete que os nanitas (seres microscópicos) que causaram a praga dos monstros seriam inicialmente usados para o bem da humanidade.
Não ajuda, também, o ritmo lento que a trama adota. Após saírem da instalação de pesquisa de Velma, os personagens passam 03 edições em paradas para reabastecer e são atacados por vampiros e demônios seguidamente.
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Porém, quando se trata de desenvolver os personagens os autores acertam. A história dividida em 06 partes contém um extra de como Salsicha encontrou pela primeira vez Scooby, e, na sexta parte, é contado como foi o passado de Velma, tendo uma revelação nessa história que joga luz sobre quem liberou a praga mostro no mundo. Há que se falar que vai sendo mostrado aos poucos um famoso coadjuvantes, o Scooby-Loo, que promete ser parte importante na trama no futuro. São nesses momentos que o encadernado vale a pena, além da interação entre os personagens.
A edição brasileira da Panini conta com 06 partes, capas originais, as capas variantes e os designs originais dos personagens.
Os desenhos ficam a cargo de Howard Potter, outro artista famoso por trabalhar com a Liga da Justiça da DC Comics. Os desenhos não fogem muito ao padrão de uma história em quadrinhos comum, contando com muitas páginas de seis quadros e desenhos de página inteira. Felizmente, Potter consegue desenhar páginas com muitos detalhes em cada quadro, o que importa em uma história de fim de mundo com muitos monstros horripilantes.
O desenhista não está só no encadernado. Dale Eaglesham, Wellington Alves e Scott Hanna assumem em algumas partes. Mesmo o estilo desses desenhistas sendo muito diferente do de Potter, isso não compromete a leitura desse encadernado e a unidade narrativa da trama.
Jim Lee cuida das 04 primeiras capas desse encadernado em 06 partes, sendo que Potter desenha as duas últimas.
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Contando com um roteiro que abusa do excesso de texto, sem que se mostre a veia do humor que os roteiristas outrora tinham em outros trabalhos, e que também desenho original possuía, Scooby Apocalipse é uma história que mais parece uma trama de sobrevivência zumbi do que uma adaptação do clássico de Hanna-Barbera, falhando onde as adaptações de os Flintstones e Future Quest acertaram: uma abordagem moderna reverenciando o material original.
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Nota:
Roteiro: 06/10. Apesar da trama girar em torno de um mistério (o porquê da praga monstro ter se espalhado) a história nesse encadernado não se desenvolve bem, ocorrendo muitas vezes diálogos repetidos e informações já contadas em capítulos anteriores. Os bons momentos estão guardados para o passado de Velma, Salsicha e Scooby, não para a trama principal.
Arte: 08/10. Howart Potter e o time de desenhistas que o acompanham fazem um excelente trabalho nesse encadernado, mesmo com a composição sem surpresas das páginas.
Narrativa: 06/10. Apesar da trama não andar, o mistério que ronda a origem da praga monstro é um motivo para fazer o leitor continuar a ler esse encadernado, além de mais informações sobre Velma e a presença de Scooby-Loo nos próximos capítulos. Mesmo com 04 desenhistas não há mudança drástica no traço das histórias, o que é um ponto positivo.
Acabamento da edição nacional: 7/10. Edição nacional contando apenas com capas originais, variantes e design dos personagens. Mesmo um personagem tão famoso quanto Scooby-Doo merece um editorial contando um pouco sobre sua criação e como se dá essa nova proposta do universo Hanna-Barbera na DC Comics. Apesar de não fazer falta, enriqueceria a edição.
Nota Final: 6.75/10.
Ficha Técnica:
Capa Cartão
176 páginas
Lançamento: 26 de março de 2018
Tamanho: 25,8 x 16,6 x 0,8 cm
 

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Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.