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Resenha | Tex nº 591 & 592 (Editora Mythos)

A trama Coração Apache, escrita por Pasquale Ruju e com belíssima arte de Ginosatis, carrega todos os elementos para se impor como um grande épico na extensa biblioteca de aventuras texianas, mas as limitações de espaço narrativo e as próprias ambições do roteiro acabam podando esse potencial.

A busca por identidade e as próprias raízes, eclipsada por tragédias e erros ao longo de sua trajetória, o que acaba levando a um levante indígena com resultados imprevisíveis. No meio de tudo, Tex e Carson procurando agir de forma a evitar o pior, ainda que os atores em cena se mostrem dispostos a tudo. É essa atmosfera, que renderia um grande filme de faroeste por sinal, que guia a história publicada originalmente entre maio e junho de 2018 na Itália.

O enredo abre com uma cena de batalha em curso no Arizona durante a Guerra Civil, num embate entre apaches e o exército americano. Frente a força do armamento militar, o chefe apache Cochise determina o recuo dos índios e subsequente fuga.

É com os ânimos à flor da pele que o capitão Wharton, vitorioso no combate, lidera seus homens rumo a uma fonte de água próxima. Ao perceber uma movimentação nos arbustos ao redor da fonte, determina os disparos de seus soldados, para depois descobrir que se tratava de um casal apache desarmado, possivelmente em fuga, com um filho a tiracolo, sendo a criança a única sobrevivente do massacre.

Passam-se os anos e encontramos um jovem com traços indígenas e roupas elegantes chegando no posto administrativo da reserva apache, bem na hora em que Tex e Carson expulsam o agente responsável Barkley a pontapés, acusando-o de fraudar os recursos recebidos e vender clandestinamente os estoques de alimento que o governo envia regularmente aos índios da reserva.

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Diante do espanto de Tex, o jovem se apresenta: chama-se Johnny Wharton, e é justamente o pequeno indígena da cena anterior: resgatado pelo atônito capitão do exército que, tomado pelo remorso, adota e cuida da formação do pequeno Johnny. Embora tenha frequentado os melhores colégios e se comporte com modos urbanos, lembra com amargura dos constantes ataques que sofreu ao longo da vida por sua aparência e ascendência indígena.

Após ser expulso da escola militar, onde despontava com um futuro brilhante mas sofria constantes humilhações, cursa Direito. No entanto, as inquietações sobre seu passado e o sentimento de deslocamento o levam de volta ao Arizona, onde pretende descobrir sobre seus pais verdadeiros.

Tex o ajuda como pode, levando-o para conversar com Cochise, mas o velho índio nada sabe sobre o fim que os pais de Johnny tiveram. Buscando animá-lo, o ranger incita Johnny a assumir o papel de agente indígena dos apaches até que uma decisão seja tomada pelo governo pelo posto vago. Seria tanto uma forma de trabalhar a favor de sua tribo como também um meio de se aproximar do povo apache.

O jovem se empenha na nova função, mas velhas lembranças voltam a atormentá-lo diante de inesperados ataques sofridos por quem reage às ações de Tex contra o corrupto Barkley. Para piorar o quadro, o jovem apache Mathalay, em busca de reconhecimento por sua gente, se envolve na morte de dois homens brancos que caçavam na reserva apache.

Os caminhos de Johnny e Mathalay se cruzam, acendendo de vez o espírito da vingança entre os jovens apaches, que iniciam um movimento de revolta contra o exército.

A história apresenta estofo para algo verdadeiramente épico e complexo, de forma a entrelaçar a subjetividade conflituosa de Johnny às cenas de luta e reviravoltas na trama, que por vezes mostra um Tex um passo atrás dos acontecimentos, algo raro nas histórias do ranger.

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Mas a decisão editorial de limitar o curso da história a duas edições sufoca esse potencial, ainda que Ruju equilibre como pode os rumos do roteiro e entregue algo satisfatório. A arte de Ginosatis é rica em detalhes num nível que enche os olhos, o que fica ainda mais evidente nos pequenos painéis espalhados ao longo das páginas.

 

Coração Apache fica assim marcada, entre prós e contras, como uma grande história de Tex. Do alto de seus 70 anos, nosso herói mostra ter fôlego ainda para muitas aventuras, mesmo que trabalhando elementos costumeiros, como o embate entre brancos e índios.

FICHA TÉCNICA:

  • Capa mole, com 116 páginas cada;
  • Editora Mythos;
  • Lançamento em janeiro e fevereiro de 2019;
  • Preço de capa: R$ 9,90 cada.
Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br