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Um Pequeno Assassinato – a obra existencial de Alan Moore

Um Pequeno Assassinato é uma Graphic Novel escrita por Alan Moore e desenhada pelo argentino Oscar Zarate publicada no Brasil pela editora Pipoca e Nanquim. O livro conta a história de Timothy Hole, um publicitário que tem o desafio de preparar uma campanha de refrigerantes de marca americana para o consumidor russo. Além dos problemas no trabalho , ele descobre que a sua relação poderia tomar um ar bem complicado, com a gravidez da sua companheira. Em meio às diversas dúvidas que permeiam a sua mente, um estranho garoto o observa ao longe, uma criança que aparece e desaparece em diferentes lugares e por mais que procure, ele não consegue encontrá-la.

 

Quando eu peguei para ler, logo me veio a mente de que eu iria ler uma investigação policial, mas pelo enredo que eu apresentei acima, isso não está presente inicialmente. Após começar a ver que a história não se resumia ao título, um outro aspecto me impactou: a intensidade das cores. Um Pequeno Assassinato deve ser visto de duas formas, o enredo que vai lhe envolvendo e a arte pintada que traz em si diversos elementos narrativos além da beleza dos desenhos.

 

Eu percebi que a intensidade das cores estava associada ao ritmo frenético da cidade com pessoas falando uma diversidade de assuntos. Na narrativa, Zanate utiliza das cores para destacar acontecimentos dentro dos quadrinhos. Além disso, a arte em si traz diversas referências, infelizmente meu escasso conhecimento em arte moderna não me permite identificar tudo, por outro lado, isso mostra o quanto essa obra merece ser relida ao passar dos anos quando (espero) a minha bagagem cultural esteja ampliada.

Além de um ótimo desenho as cores contribuem na expressividade

 

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O roteiro traz elementos introspectivos, Moore descreve os pensamentos de Timothy mudando rapidamente entre os assuntos, a gente sente a perturbação com o personagem e como os problemas nos diversos aspectos parecem se mesclar. A profundidade com que isso é feito dá a impressão de que a gente conhece o personagem, as suas inseguranças, as suas dúvidas e a forma como ele vê o mundo gerando no leitor momentos de simpatia ou de repulsa por esse personagem. A obra traz diversos elementos que eu não citarei já que esse texto além de dar uma opinião não pretende estragar a leitura de quem ainda não leu. Essa é uma obra que rende discussões e textos sobre os diversos elementos ali presentes do início ao fim. Ao ler, comecei a refletir sobre a minha vida, uma sensação interessante que poucas obras propiciam. Ainda que o enredo não seja em si autêntico, acredito que é possível trazer ao público ideias já existentes de outras formas, desde que a gente se identifique com a maneira como isso é feito. Foi exatamente isso o que ocorreu, mesmo não sendo  um publicitário, as reflexões que a situação propicia a Timothy me fez compreendê-lo e a sentir as suas angústias.

 

Alan Moore é conhecido por grandes obras como Monstro do Pântano, a Liga Extraordinária, Batman – a Piada Mortal dentre outros clássicos e pouco material ruim como Sapwn – Feudo de Sangue. Após sofrer com a decepção que as grandes editoras trouxeram durante a sua brilhante contribuição ao universo dos super heróis tanto na Marvel quanto na DC, o autor britânico resolveu fazer quadrinhos independentes e enveredar por uma outra temática. Essa obra se distancia dos heróis de colantes ou de um mundo fantasioso, Moore reflete sobre o quotidiano e as escolhas que nos tornaram o que somos e os sonhos que deixamos de lado. Não é a toa que ela foi premiada com o prêmio Eisner como melhor Graphic Novel.

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 A obra em si já é ótima em si mas a edição brasileira consegue engrandecer a obra. Por essa e outras obras, a Editora Pipoca e Nanquim ganhou esse ano o prêmio Hq Mix de Melhor Editora. O acabamento gráfico da obra é lindo. A edição traz ao final uma entrevista que enriquece a leitura com a exposição dos autores sobre as ideias e como eles escolheram expô-las, a arte e os textos tem o seu brilhantismo próprio e se comunicam de maneira diferente com uma grande sintonia entre eles. Eu preciso advertir que os extras precisam ser lidos na ordem apresentada no livro para não estragar as surpresas. Quem conhece a obra de Moore, não irá se decepcionar com essa obra, porém aqueles que pouco leram quadrinhos e gostam de uma obra reflexiva, estejam convidados a conhecer, porém gostaria também de recomendar aos design gráficos e todos aqueles que admiram uma bela arte aquarelada.

Um Pequeno Assassinato possui 118 páginas coloridas em lombada quadrada com capa dura.

Sou psicólogo por profissão e um nerd em tempo integral. Eu gosto de cinema, séries, filmes, livros mas a minha paixão são as histórias em quadrinho que estão presente em minha vida desde a infância. Atualmente cismei em querer escrever, opinando sobre essa minha paixão.