Não deixe de conferir nosso Podcast!

Umberto Eco, És Tu Que Aí Vens?

Os sinais estavam em todos os lugares, mas não consegui percebê-los. O primeiro foi a chegada de um querido amigo após prolongada estadia em Bolonha, na Itália. Pondo os assuntos em dia, tocamos na grande questão da atualidade, as fake news, e lhe ocorreu a lembrança de um famoso estudioso de semiótica que se ocupou do tema pouco antes de sua morte, em 2016.

Dias depois, fui abordado na padaria por dona Lúcia, a leitora mais dedicada desta modesta coluna literária. Elogiou as últimas matérias, disse conhecer Roth de vista e de chapéu, e pediu por mais textos sobre literatura italiana. “Você a aborda muito pouco”, talhou, sem esconder a admiração que nutre pela Velha Bota após assistir certo filme com Julia Roberts.

Mesmo assim não aludia à missão que o destino (e o além) me impunha. Foi preciso que as forças misteriosas envolvidas se manifestassem. Assim, chegava ao meu prédio quando o porteiro, a encarnação do medo em pessoa, me abordou sem rodeios:

– O senhor acredita em fantasmas?

Olhei-o de súbito, sem entender patavinas. Foi quando me colocou a par. Nas últimas noites, junto com as badaladas que marcam a virada dos dias, um fantasma se aproximava da portaria e parecia esperar por alguém por horas, imóvel na sua paciência. Embora incrédulo com o fenômeno, estava curioso acima de tudo; portanto decidi esperar a madrugada na sua companhia.

Anunciava o relógio as duas da manhã quando o vulto surgiu. A princípio indefinido, aos poucos foi assumindo a forma de um homem robusto, barbudo, com ares de bonachão. Aproximei-me cautelosamente, até ouvi-lo sussurrar:

– Sei il ragazzo che scrive di letteratura?

Não atinei de pronto, enferrujado que está meu italiano. Por isso, falei:

LEIA TAMBÉM:  Novidades sobre o Guia de Campanha do Mar Interior.

– Repete, faz favor.

– Sei il ragazzo che scrive di letteratura?

– Sì, sono io.

– Scusami… Voglio solo ricordare che il mio libro più famoso è stato ripubblicato. Ciao.

E assim, da mesma forma que surgiu, o fantasma desapareceu, como uma pena levada pelo vento noturno.

Você se pergunta, mas afinal, escriba, o que disse o fantasma? Esqueces que nem todos são poliglotas? Ora, a questão de fundo é simples: Umberto Eco veio me pedir para falar que seu romance mais famoso, O Nome da Rosa, lançado originalmente em 1980 e levado aos cinemas anos depois, com Sean Connery no papel principal e direção de Jean-Jacques Annaud, está saindo em edição luxuosa pela Record.

Com lançamento programado para dezembro, o livro chega em capa dura, com tradução revisada pela consagrada tradutora Ivone Benedetti, contendo uma atualização da biografia de Umberto Eco, uma nota de revisão e um glossário com a tradução dos termos em latim utilizados pelo autor. São 592 páginas pelo preço de R$ 104,90.

Para os incautos que ignoram a trama, aqui vai a sinopse: Durante a última semana de novembro de 1327, em um mosteiro franciscano italiano, paira a suspeita de que os monges estejam cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é, então, enviado para investigar o caso, mas tem sua missão interrompida por excêntricos assassinatos. A morte, em circunstâncias insólitas, de sete monges em sete dias, conduz uma narrativa violenta, que atrai pelo humor, pela crueldade e pela sedução erótica. Não apenas uma história de investigação criminal, O nome da rosa, sucesso mundial desde sua publicação original, em 1980, é também uma extraordinária crônica sobre a Idade Média.

LEIA TAMBÉM:  World of Warcraft: Não faremos com Sylvanas o que fizemos com Garrosh

Pronto, caro amico Eco. Os leitores brasileiros estão avisados da nova oportunidade de ler uma das obras fundamentais do cânone literário ocidental do século XX, apresentado com a grandeza digna de teu nome.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br