O grande atrativo do exuberante documentário “Virando a Mesa do Poder” – onde conta a história de quatro mulheres que concorreram ao Congresso Americano em 2018 – é a Representante Alexandria Ocasio-Cortez, democrata eleita de Nova York.
A ex-barman que se tornou congressista na primeira vez que concorreu é a membro de maior destaque da turma de calouros que entraram este ano no poder político americano, além disso, ela não precisa de uma apresentação. Sua presença nas mídias sociais por si só mostra por que se transformou em celebridade pop, seja ela tuitando ou fazendo streaming ao vivo no Instagram enquanto come pipoca. Hoje ela é uma das mulheres mais poderosas da política dos Estados Unidos.
https://youtu.be/GIfhjE48x08
O documentário surgiu após a diretora Rachel Lears falar em entrevistas que após a eleição presidencial de 2016, procurou alguns grupos progressistas. Para explicar como isso funciona, deixa eu resumir. Nesse mesmo ano, o Partido Democrata havia perdido a conexão com uma grande parte de sua base tradicional – que é geralmente mais urbana e composta por trabalhadores do que a base dos Republicanos. O Partido Democrata desde 2016 que está com problemas e perdendo grandes nomes importantes após a era Trump, porém, está apostando na nova geração de “Democratas insurgentes”, liderada por grupos progressistas como Indivisible, Justice Democrats e Brand New Congress. E atualmente grupos são uma peça-chave nesse sentido.
Eles estão pegando políticos sem carreira, mas com ideias brilhantes e dando a eles uma chance de concorrer à vagas no congresso estagnado americano.
Foi dessa perspectiva que Lears escolheu quatro candidatas democratas do sexo feminino – Ocasio-Cortez, Cori Bush, Paula Jean Swearengin e Amy Vilela – cada uma com uma história única e uma plataforma progressista com um adversário aparentemente imbatível. Rachel com seu marido, Robin Blotnick, escreveram e produziram “Knock Down the House” que na versão nacional ficou, Virando a Mesa do Poder; onde ela atuou como diretora de fotografia enquanto ele assumia o papel de editor.
As histórias de cada uma é contada aos poucos em Virando a Mesa do Poder, com os dois seguindo a campanha delas até a noite da eleição de 2018 que ocorreu em novembro passado. Foi disputada vagas para governador, câmaras locais e para o Congresso dos Estados Unidos. O Congresso é dividido por duas Casas: o Senado, com 100 parlamentares, e a Câmara dos Representantes, com 453 deputados. Foi o ano onde todas as cadeiras da Casa dos Representantes foram colocadas em votação. O mandato dura quatro anos. O Senado por sua vez, a pessoa tem um mandato de seis anos, onde se renova um terço durante cada eleição, ou seja, ano passado tinha 36 cadeiras do senado em votação.
De volta as nossas protagonistas do documentário, algumas parecem que estão por dentro de tudo e como funciona o período pré-eleitoral, já outras, nem tanto. Amy Vilela, que concorria uma vaga por Nevada, parece ter investido mais em algo pessoal, tendo sido levada à política por uma agonizante tragédia familiar sobre a qual ela fala com uma sinceridade crua e pesada. Tanto Cori Bush (do Missouri) quanto Jean Swearengin (Virgínia Ocidental) parecem estar fartas dos democratas que representam seus distritos.
Ocasio-Cortez rapidamente, e sem surpresa, surge como o foco do documentário. Ela é uma presença que qualquer pessoa quer assistir: afiada, jovem, enfática e quando fala em público, é tremendamente confiante. Nada parece tirá-la de seu jogo, quer esteja sorrindo para os transeuntes alheios à sua campanha ou limpando vigorosamente o relógio de seu oponente na TV, Joe Crowley, que estava no cargo desde 1999. Nos meados de 2018, Crowley – que tinha sido originalmente colocado na cédula por seu antecessor, Thomas J. Manton – foi o quarto democrata mais importantes dos Estados Unidos. Ela estava concorrendo a vaga com alguém muito poderoso.
Durante sua campanha, Crowley nunca se importou como estava as intenções de voto para Ocasio-Cortez. Poucos políticos grandes fizeram isso, além desses cineastas. Por causa do acesso de Lears aos candidatos, ela e sua câmera parecem estar nas salas de guerra desde o começo. Rapidamente e eficientemente, e com a ajuda de textos concisos na tela e entrevistas, ela esboça como o Brand New Congress e Justice Democrats operam. Muito disso é fascinante, mas poderia ser mais claro para quem não entende o funcionamento das eleições americanas. Há cenas atmosféricas nos bastidores com os candidatos e suas equipes, mas chega um momento que uma pergunta surge em nossa mente: quem contratou quem?
A linha do tempo as vezes não é sutil. Ocasio-Cortez começa o filme com uma divertida análise de gênero enquanto se maquia. Depois corta para o Kentucky nove meses antes, onde um grupo de jovens com laptops estão discutindo um potencial candidato. Há uma conversa e uma chamada no que parece uma votação, depois corta para Corbin Trent, representante do Justice Democats, sobre que é importante acabar com o sistema corrupto da política velha americana.
Mas a mensagem mais importante desses grupos é oferecer um caminho alternativo ao Congresso, livre de lobistas e grupos de interesses. “Neste momento nosso congresso é de 81% de homens”, diz Trent no documentário. “É principalmente homens brancos milionários, e principalmente advogados.” Esta espiada em organizações externas é fascinante e poderia ser facilmente transformada em um documentário separado. Foi mais ou menos assim, de pessoas comuns, que o Barack Obama chegou e venceu a eleição. Na verdade, ele é bastante citado de forma sutil no filme, sendo por imagens ou por pessoas que foram peças chaves de sua campanha em 2008.
O documentário explica da insurgência de novos nomes para a política americana, uma coisa que fazia parte de uma mudança nacional mais ampla e metendo o dedo na ferida dos aliados do Trump. A diretora Lears não se interessa por essa mudança tão profundamente quanto podia, pois o filme poderia ser um pouco maior para trabalhar melhor essas questões. Mas apesar de tudo, é um documentário poderoso. Ela mostra mulheres que estão correndo para uma mudança no cenário político – enquanto dirigem, caminham, conversam e andam-tentando ganhar corações, mentes e votos. Muitas vezes, parece que elas estão fazendo isso por suas vidas. Eles também estão, como diz Ocasio-Cortez, “correndo para vencer”. Recomendo. Eu senti um pouco de esperança na nova política americana.
Diretora: Rachel Lears
Estrelas: Alexandria Ocasio-Cortez, Cori Bush, Joe Crowley, Paula Jean Swearingen, Amy Vilela
Duração: 1h 26m
Gênero: Documentário
Plataforma: Disponível na Netflix
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