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A Verdade não dita de J.R.R Tolkien

Uma pequena história sobre o maior autor de fantasia medieval do século, J. R. R Tolkien.

J. R. R. Tolkien
Reprodução/Divulgação

Uma pequena história sobre o maior autor de fantasia medieval do século, J. R. R Tolkien.

J.R.R. Tolkien foi verdadeiramente “o pai da fantasia moderna”. Ele pode não ter inventado dragões, mas ele é o cara que os tornou conhecidos em grande parte do mundo. Sem Tolkien, Voldemort provavelmente teria um nariz e Daenerys Targaryen teria que andar por toda Westeros. Quase todo escritor de alta fantasia foi profundamente influenciado por J.R.R. Tolkien ou teve que trabalhar ativamente para não ser profundamente influenciado por ele. De qualquer forma, isso é um grande elogio.

Mas a maioria de nós sabe mais sobre Frodo e Bilbo do que sobre o homem que os criou. Como se vê, J.R.R. Tolkien não era apenas um inventor de mundos fantásticos, personagens amados e criaturas terríveis/horríveis e adoráveis, ele também era um gênio linguístico e um romântico incorrigível. Além disso, não importa o que alguém tente lhe dizer, ele claramente tinha algum problema com aranhas.

Esse texto é uma tradução e adaptação do artigo escrito por Becki Robins para o site Grunge.

Uma infância infeliz e o problema com seus quatro nomes

A pergunta mais frequente sobre J.R.R. Tolkien é essa: Qual é o problema com as três iniciais de seu nome? Nenhuma. As pessoas só se acostumaram a chamá-lo de “J.R.R. Tolkien”.  Mas, infelizmente, Tolkien realmente tinha três nomes próprios, então ele não é totalmente responsável pelo fato das pessoas o chamarem assim em voz alta, ninguém chamava ele de John Ronald Reuel Tolkien, o máximo que o chamavam era Ronald.

De acordo com a sua biografia, Tolkien nasceu em Bloemfontein, África do Sul, em 1892. Quando ele ainda era bem pequeno, sua mãe se mudou com ele e seu irmão mais novo para Sarehole em Birmingham, Inglaterra. Seu pai ficou para trás na África do Sul e depois morreu de febre reumática quando ele tinha 4 anos. Então sua mãe também morreu, quando ele tinha apenas 12 anos, passando sua adolescência como órfão, morando com um parente e em pensões, antes de ser finalmente colocado sob a tutela de um padre católico chamado Padre Francis. É impossível dizer o quanto daquela infância difícil informou sua escrita, mas as histórias de Tolkien tendem a ser um pouco sombrias e melancólicas, então é tristemente possível que Tolkien não fosse o mesmo escritor se ele tivesse uma infância  totalmente livre de tragédias e perda.

O problema com as Aranhas

Na trilogia O Senhor dos Anéis, Frodo quase é comido por Shelob a.k.a Laracna, a aranha-demônio gigante que vive no subterrâneo de algum lugar em Mordor. E essa não é a única história de Tolkien que apresenta horror de aracnídeos – Bilbo também encontra uma floresta cheia de aranhas em O Hobbit. Então, claramente, Tolkien tinha algum problema com aranhas. Por quê?

Bem, esquecendo o fato de que 99% da população humana tem medo de aranhas, o problema de Tolkien com aranhas pode ter se originado de um encontro que ele teve quando criança morando na África do Sul. De acordo com o site Tor.com, Tolkien foi mordido por uma tarântula enquanto aprendia a andar.  No entanto, o autor disse uma vez que tinha pouca memória do evento e na verdade alegou gostar de aranhas, a ponto de resgatá-las da banheira em vez de deixá-las ir pelo ralo.

O mesmo site informa que a história de Tolkien com aranhas foi por causa do filho Michael que tinha medo de aranhas quando era criança e ele fez a cena da Shelob para assustar a criança. No final ele acabou assustando meio mundo de leitores também.

A história do BAG END e nomes inventados

O nome “Bag End” parece realmente bobo e totalmente inventado por alguns leitores. Mas o buraco é mais embaixo. É meio que vagamente parecido com o nome do nosso herói, Bilbo “Baggins” (que por sinal significa “almoço embalado” no dialeto de Yorkshire) e ficamos com a impressão de que a palavra “fim” se refere a um destino final, o lugar onde os hobbits planejam voltar para quando terminarem suas aventuras pela Terra-Média. Alguns tradutores fizeram o favor de literalmente chamar a casa de Bilbo (Bag End) como “ponta de saco” e isso gera conversas sobre traduções e suas versões em outras línguas desde 2005.

Surpreendentemente, Tolkien não inventou o nome “Bag End”. De acordo com a Library Tolkien, ele o pegou o nome de sua tia Jane, que possuía uma fazenda em Dormston, Worcestershire, Inglaterra. A fazenda não se chamava apenas Bag End, sempre foi chamada de Bag End, talvez desde os tempos anglo-saxões.

E só estamos utilizando o termo “Bag End” como exemplo de como Tolkien pegou bastante influência dos locais que morou e visitou para criar seus nomes originais.

Educação domiciliar

Como visto acima, Tolkien criou diversos nomes originais e dão até hoje dor de cabeça para os editores e tradutores de suas obras. Mas já parou para pensar como era a educação domiciliar no final do século 19? O ensino domiciliar meio que anda de mãos dadas com o peculiar, mas o peculiar não é necessariamente uma coisa ruim, e você precisa ter uma mente peculiar para criar coisas tão incríveis na Terra-Média.

Tolkien e seu irmão mais novo foram educados em casa, mas não era como dormir até as 10 da manhã e assistir desenhos animados quando terminavam seus afazeres educacionais. A mãe de Tolkien ensinou a seus filhos coisas que a maioria das mães modernas não aprende até a faculdade, como latim e botânica. Aos 4 anos, Tolkien sabia ler e escrever. Ele também tinha talento para o desenho, mesmo quando criança – um talento que ele colocou em bom uso quando cresceu e fez todas as ilustrações originais de O Hobbit. Essa forma de educação acabou despertando coisas no autor que uma criança numa escola não teve a mesma experiência e isso mudaria o resto da vida dele.

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O amor de sua vida

Quando Tolkien tinha 16 anos, ele fez amizade com uma vizinha de 19 anos chamada Edith. E a coisa mais emocionante que eles faziam, era ficar sentados numa sala de chá coberta jogando torrões de açúcar na cabeça das pessoas que passavam por ali. Isso que é uma aventura, hein?

De acordo com a biografia, o guardião de Tolkien, padre Francis, achava que a relação entre Tolkien e Edith era escandalosamente inapropriada, não por causa dos torrões de açúcar, mas porque Edith era uma protestante! Então ele proibiu Tolkien de vê-la novamente até completar 21 anos. Tolkien obedeceu pacientemente, e na noite anterior ao seu 21º aniversário ele escreveu a Edith uma carta contendo uma proposta de casamento. 

O casamento produziu quatro filhos e pelo menos dois personagens memoráveis. A história de Tolkien de Beren e Lúthien, um mortal que se apaixonou pela filha do Rei Élfico depois de vê-la dançar em uma clareira, foi inspirada por um momento da vida real em que Tolkien assistiu Edith dançar em uma clareira cheia de flores brancas de cicuta.  Então, não apenas Tolkien era irremediavelmente estranho sobre aranhas, nomes engraçados e línguas antigas, ele também era um romântico incorrigível. 

Tolkien falava línguas com mais de dois mil anos

Enquanto a maioria das crianças ainda está aprendendo a dizer “fralda suja de cocô”, Tolkien poderia dizer “fralda suja de cocô” em uma dúzia de idiomas. Ok, estamos exagerando, obviamente, mas mesmo quando criança, Tolkien tinha talento para idiomas e um grande interesse em aprendê-los. Uma de suas biografias, chamou Tolkien de “um aluno excepcional que era capaz de dominar facilmente idiomas antigos e modernos”. Ele sabia quatro idiomas quando era adolescente e, quando adulto, falava sueco, norueguês, dinamarquês, alemão, holandês, francês, espanhol, italiano, galês, russo e finlandês. Ele não se contentava apenas com idiomas que você poderia usar para falar com pessoas reais e vivas. Ele também conhecia um monte de línguas antigas, incluindo nórdico antigo, inglês antigo, inglês médio, galês medieval, germânico antigo (comum), sendo esse último tendo surgido antes de Cristo. 

Para quem não sabe, ele é considerado um dos maiores estudiosos de línguas da história da Inglaterra.

Quanto mais línguas aprendia, mais línguas criava em seu mundo fantástico

Quando Tolkien não estava aprendendo a falar e estudar línguas, ele estava inventando línguas também no processo. Na verdade, de acordo com Hobbits, Elves and Wizards: The Wonders and Worlds, Tolkien já havia criado idiomas completos antes de se tornar adolescente, e ele criou mais de uma dúzia de idiomas ao longo de sua vida. 

Esses não eram apenas alguns tipos de idiomas engraçados ou em latim, onde você apenas troca uma palavra por outra, mas a sintaxe permanece praticamente a mesma. Eram linguagens reais com sintaxe, morfologia e fonologia únicas e complexas. Sua primeira tentativa em um idioma chamado Naffarin – era fortemente baseado no espanhol, mas com suas próprias regras gramaticais.

Criar um idioma totalmente novo também não é algo que você possa fazer em uma tarde. Tolkien tinha todo um sistema que englobava não apenas a versão “moderna” de sua linguagem inventada, mas seu contexto histórico. Ele também projetou alfabetos, o que parece tão incrivelmente complexo que é difícil entender como o cara ainda encontrou tempo para escrever histórias.

Mas ele só gostava de criar gramáticas e línguas que ninguém entendia?

Não. E agora que a coisa fica mais impressionante sobre o autor. Então, se você já se perguntou quem escreveu o dicionário britânico, foi Tolkien. 

Não o dicionário inteiro, mas entre 1919 e 1920, o próprio Oxford English Dictionary diz que ele estava na equipe e trabalhando nas palavras no início da letra W. Suas contribuições para o dicionário incluem definições de “waggle“, tanto o substantivo quanto o verbo. Ele também trabalhou em “walnut“, “walrus” e “wampum“, porque os editores achavam que essas palavras tinham “etimologias particularmente difíceis” e, portanto, precisavam de alguém habilidoso em feitiçaria de palavras para fazer justiça a elas.

Como você pode esperar de alguém que é claramente obcecado por palavras, Tolkien levou suas responsabilidades muito a sério. Na verdade, há evidências de que ele ainda estava ponderando todas as etimologias de “morsa” anos depois de não estar mais trabalhando para o Dicionário Oxford – um de seus cadernos contém várias páginas sobre o assunto. 

Um dia ele traduziu BEOWULF e nunca mais foi o mesmo

Todos nós já lemos Beowulf, é claro! Mentira! Quase ninguém leu Beowulf, com exceção de pessoas que gostam de aulas de inglês britânico e aquelas que foram educadas em casa no início do século 20.

Tolkien leu Beowulf, claro. Ele não apenas o leu, ele também o chamou de “o maior dos trabalhos sobreviventes da antiga arte poética inglesa”, e porque ele ainda não estava ocupado o suficiente com toda a invenção de linguagem que estava fazendo, ele também escreveu sua própria tradução da obra.

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De acordo com o New York Times, Tolkien foi inicialmente contra a ideia de traduzir o inglês antigo original para o inglês moderno – ele se perguntou se seria um “abuso” transformar o famoso poema em “prosa simples”. E ele nunca mudou essa visão desde que expressou insatisfação com sua tradução e, basicamente, apenas a colocou em uma gaveta, onde permaneceu por 88 anos até que seu filho Christopher tirou a poeira e a enviou para publicação em 2014. Mais o incrível não apenas sua tradução, mas todos os comentários do autor sobre a obra. 

É divertido notar que Tolkien realmente se inspirou nesta obra escrita a mil anos, para construir a cena em que Bilbo rouba o dragão Smaug. Muitos estudiosos do autor acreditam que essa obra foi a grande revelação para ele sobre o mundo de criaturas mágicas e seres fantásticos.

Tolkien escreveu O Hobbit por causa de uma prova

Um dia, J.R.R. Tolkien estava totalmente entediado. Era a década de 1930, e ele trabalhava como professor de anglo-saxão (inglês antigo) na Universidade de Oxford e, como todos os professores universitários, parte de seu trabalho era avaliar o trabalho super chato de seus alunos. Agora, imagine como esse trabalho teria que ser chato para entediar alguém como Tolkien, que evidentemente leu e até traduziu Beowulf sem cochilar!. De qualquer forma, de acordo com o Independent, ele ficou entediado e então largou o trabalho por um tempo e pegou uma folha de papel em branco. No papel, ele escreveu as palavras: “Em um buraco no chão vivia um hobbit”. E o resto da história todo mundo sabe o que aconteceu.

O Hobbit que conhecemos hoje é na verdade uma revisão desse primeiro manuscrito – Tolkien reescreveu uma segunda edição para que fosse um companheiro melhor para sua continuação  de O Senhor dos Anéis. Mas tudo começou por causa de uma tarde entediante corrigindo provas e trabalhos acadêmicos chatos.

Ele se inspirou em lugares reais

A Terra-Média de Tolkien é pura fantasia, mas, como todos os autores, ele se inspirou em coisas e lugares que encontrou em sua vida. O Um Anel no centro da trilogia O Senhor dos Anéis foi baseado em uma anedota que Tolkien ouviu uma vez sobre um anel amaldiçoado que foi encontrado perto das ruínas de um templo romano. A casa de Bilbo, O Condado (The Shire), foi baseada na casa de infância do autor em Sarehole, Inglaterra. Na verdade, o Moinho Sarehole foi uma fonte particular de inspiração para Tolkien – em O Hobbit, Tolkien descreve Bilbo “correndo tão rápido quanto seus pés peludos podiam levá-lo pela estrada, passando pelo grande Moinho, atravessando a água e depois por uma milha. ou mais.”

Se você estiver inspirado para fazer uma turnê mundial pelos lugares que aparecem (pelo menos em espírito) nos romances de Tolkien, você também precisará visitar as Malvern Hills nos condados ingleses de Worcestershire, Herefordshire e Gloucestershire, que foram a inspiração para Rohan e Gondor. Rivendell foi inspirado nos Alpes Suíços, e as próprias Duas Torres são ecos da Folly de Perrett e da Waterworks Tower em Edgbaston, em Birmingham, Inglaterra.

A experiência e o horror da primeira guerra mundial

Tolkien sempre negou que tenha sido influenciado por seu tempo nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, mas é difícil não acreditar que a Batalha dos Cinco Exércitos foi pelo menos subconscientemente influenciada por suas próprias experiências pessoais na Batalha do Somme em 1916. Em uma carta que Tolkien escreveu em 1960, ele admitiu que poderia ter se inspirado na paisagem do norte da França após a Batalha de Somme para seu retrato dos Pântanos Mortos, mas ele parecia relutante em ir além disso.

Não há dúvida, porém, que Tolkien foi afetado pela Grande Guerra. Ele passou meses entrando e saindo das trincheiras e conseguiu evitar ser ferido, mas acabou com “febre das trincheiras”, que foi causada por bactérias por meio de piolho a febre das trincheiras finalmente mandou Tolkien para casa, mas muitos de seus amigos morreram e ninguém pode viver uma guerra sem ser transformado.

Ele totalmente contra o Nazismo

O Hobbit foi um grande sucesso, como todos sabemos, e sempre que algo é um grande sucesso, há pessoas de todo o mundo que querem utilizá-la de outra forma. De acordo com a Newsweek, um editor em Berlim escreveu a Tolkien para perguntar sobre a impressão de uma tradução alemã de O Hobbit. Na carta, a editora explicava que eles realmente queriam publicar O Hobbit à venda na Alemanha, mas antes que pudessem fazer isso, Tolkien teria que provar que tinha “descendência ariana”.

Além de proibir a versão de O Hobbit em Alemão, ele mandou uma carta resposta para a editora que queria os direitos de publicação na Alemanha. 

“Lamento não ter sido claro quanto ao que você quer dizer com arisch (Ariano). Não sou de origem ariana: isso é indo-iraniano; tanto quanto sei, nenhum de meus ancestrais falava hindustani, persa, cigano ou qualquer dialeto relacionado. Mas se devo entender que você está perguntando se sou de origem judaica, só posso responder que lamento não ter ancestrais desse povo talentoso.”

Tolkien
Assinatura original do J. R. R. Tolkien

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para saber mais sobre o autor indico o texto escrito por Cristina Casagrande “J.R.R. Tolkien: arte, teoria e literatura” e e essa lista incrível sobre segredos do autor 10 Fascinating Facts About JRR Tolkien You Probably Didn’t Know.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.