“A Pele do Homem” entra de cabeça em um tema complexo com uma premissa quase cômica. A ideia de Bianca se transformar em Lorenzo para ter liberdade é um golpe de mestre, mas a execução levanta algumas sobrancelhas. A narrativa usa a “pele mágica” como um atalho conveniente, o que pode ser visto como uma forma de simplificar um problema social profundo e complexo. O leitor é convidado a rir das hipocrisias da Renascença, mas a história não nos dá tempo suficiente para digerir as angústias de Bianca em sua jornada de identidade.

Apesar da premissa intrigante, a HQ corre o risco de ser didática demais. O contraste entre a vida de Bianca e a de Lorenzo é tão gritante que chega a ser óbvio, quase como um sermão ilustrado. As descobertas de Bianca sobre a vida de seu noivo e a dupla moral da época são apresentadas de forma direta, sem muita nuance. Isso pode ser visto como uma falha na escrita, que opta pela clareza em detrimento da profundidade psicológica. A crítica social é servida em uma bandeja, não é algo que o leitor precisa desvendar.

A HQ se sustenta no conceito e na sua relevância contemporânea, o que a torna um sucesso de crítica. No entanto, é justo questionar se, sem a força de sua mensagem social, a obra seria igualmente aclamada. A trama de Bianca se apaixonando pelo noivo como um homem, e o drama que se segue, não é particularmente inovador. Em muitos momentos, a história parece mais uma ferramenta para a crítica de gênero do que uma narrativa autônoma com personagens complexos e falíveis.
Em suma, “A Pele do Homem” é uma obra importante e bem intencionada, mas sua abordagem direta e o uso de uma solução mágica para um problema mundano a impede de ser uma verdadeira “obra-prima” do ponto de vista da narrativa. A HQ é eficaz em sua mensagem, mas a complexidade humana de Bianca, a mulher por trás da pele, é, ironicamente, a parte menos explorada.














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