Stan Lee faleceu na segunda-feira, aos 95 anos. Ele era realmente amado por todos. Deixando para trás um legado sísmico, tendo revolucionado a indústria dos quadrinhos e influenciado a cultura pop para sempre.
A influência de Lee é impossível da gente medir, com a Marvel hoje ostentando um alcance que abrange o globo, os personagens da Marvel são mais conhecidos que figuras religiosas ou grandes nomes da música de todos os tempos. O Universo Cinematográfico Marvel, apesar de ser uma ideia de Kevin Feige, deve sua existência aos trabalhos de Lee, Jack Kirby, Steve Ditko e outros visionários da editora.
Embora isso possa já ser desnecessário, Lee impactou milhares de pessoas ao longo de sua vida, a maioria das quais ele nunca conheceu. Inúmeras dessas pessoas não seriam o que são hoje sem Stan Lee. Durante décadas, ele mudou diversas vezes o olhar e a importância dos quadrinhos para compreendermos o lado bom da vida.
Então, em comemoração à vida de Lee, vou destacar em apenas oito das maneiras incríveis como ele mudou os quadrinhos – e os leitores – para sempre.
8. Ele criou os super-heróis mais famosos do mundo
Stan Lee deu à luz dezenas de personagens de quadrinhos ao longo dos anos e, ao fazê-lo, acabou também criando a imagem definitiva do Universo Marvel. Ele, claro, não fez isso sozinho. Com os lendários Jack Kirby, Steve Ditko, John Romita Pai e John Buscema, deram vida a que ficou conhecida pelos especialistas como Marvel Moderna, nascendo o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha, os X-Men, os Vingadores, por exemplo.
A influência de Lee sobre essas respectivas criações foi bastante diversificada, pois ainda escreveu dúzias de edições para cada personagem ou supergrupo. Tudo que ele imaginava escrevia, o cara tinha uma imaginação incrível e sem perceber estava criando escola que praticamente todos os grandes escritores não só de quadrinhos usam, escrever personagens mais humanos. Esses heróis e vilões trouxeram tanta alegria para a vida de crianças e adultos por décadas, e Lee estava na vanguarda de tudo isso. Eles serão imortais.
A dinastia Marvel deve seu sucesso a muitas pessoas, mas Lee promoveu seu sucesso com personagens que eram ao mesmo tempo fantásticos e ao mesmo tempo completamente fáceis de se identificar. Uma abordagem revolucionária, para uma empresa revolucionária.
7. Ele criou os quadrinhos onde podemos refletir o mundo a nossa volta
Antes dos personagens como Homem-Aranha, X-Men e Homem de Ferro, os quadrinhos não gostavam muito de se enraizar na realidade. A Segunda Guerra Mundial trouxe o Capitão América, Super-Homem e Batman reunindo as tropas combatendo o Eixo em seus próprios quadrinhos, mas tipicamente (e especialmente no caso do DC), os quadrinhos eram um lugar para fugir da realidade, um escape – eles contavam histórias de homens que podiam pular prédios altos, assassinos enlouquecidos lutando contra um homem que escolheu o avatar de um morcego para instigar o medo em seus inimigos.
Todas essas criações não eram de forma alguma insignificante, mas chegou a um ponto em que a Marvel se desfez dessa abordagem, e isso ocorreu durante o mandato de Lee na empresa. Um novo mantra foi adotado; agora, as histórias não apenas entreteriam, elas “seriam reflexo do mundo a nossa volta” – uma abordagem que foi exemplificada com a introdução de personagens como Peter Parker, Tony Stark e os X-Men.
Peter Parker não era um homem além das estrelas, ou um bilionário que encontrou consolo em cavernas infestadas de morcegos – ele era um jovem adolescente lutando para sobreviver; da mesma forma, Tony Stark era um personagem nascido diretamente do Zeitgeist da Guerra Fria – um herói moldado do complexo industrial militar – e os mutantes dos X-Men da Marvel, onde uma alegoria do Movimento dos Direitos Civis, com o Professor X uma figura baseada nos princípios de Martin Luther King Jr. (sabiam disso?), e sua contraparte, Magneto, incorporando as tendências mais radicais de Malcolm X.
Essa abordagem seria usada em todas as histórias da Marvel no futuro e Lee estava na frente de tudo isso. A DC só começou a abordar essa linha em seus quadrinhos apenas nos anos 70.
6. Ele foi a primeira celebridade dos quadrinhos
Em uma indústria agora repleta de personalidades e nomes importantes mundialmente, pode ser difícil compreender a celebridade que foi Stan Lee. Ele era efetivamente o rosto da Marvel Comics desde meados dos anos setenta e interagia com os leitores, ao ponto de responder grande parte das cartas que chegavam na Marvel. Ele realmente era muito próximo dos seus fãs.
Lee apareceu em desenhos, dublagens, reportagens e visitou o país dando palestras em eventos e em campus universitários, lembrando que isso tudo ainda era anos 70, ou seja, o cara também era o editor-chefe da Marvel. Esse negócio de ele aparecer nas adaptações de suas criações é antigo, bem antigo mesmo. Mas calma ai, que eu chego jajá.
Hoje, existem dezenas de escritores/criadores que ganharam status de celebridade fazendo quadrinhos, mas Lee foi o primeiro e conseguiu manter e aumentar essa importância a um nível que poucos no setor poderiam igualar.
5. A seção de cartas do Stan Lee
A imagem acima é apenas uma das muitas citações brilhantes encontradas na coluna chamada ‘Soapbox do Stan’, que começou em 1967 e terminou em 1980. Mas antes disso, preciso explicar duas coisas: Dentro da Seção de Cartas, existia uma coluna chamada ‘Stan’s Soapbox’. Nela, Lee respondia aos leitores que protestavam contra o compromisso contínuo da Marvel em enraizar suas histórias no mundo real e assumir questões sociais como preconceito, racismo e igualdade de gênero. Durante 13 anos, existia esse diálogo aberto da Marvel e os leitores, oferecendo uma valiosa ideia no que ele acreditava e como isso moldou a Casa das Idéias.
Basicamente apenas uma pequena parcela de leitores não gostavam da proposta da Marvel, mas foi graças a eles que Stan Lee mostrava seu entusiasmo, autoridade, energia e como ele na maioria das vezes conseguia reverter esses problemas.
4. Ele criou o que conhecemos como Fan base
Stan Lee não foi responsável por todas as conquistas que a Marvel teve durante sua história, ele um dia parou de escrever os roteiros definitivamente. As mudanças aconteceriam naturalmente, porém todas elas teve um pouco de sua mão no final.
Lee estava determinado a promover uma comunidade entre o fandom da Marvel, e se referiu a seus leitores como “Verdadeiros Crentes”, liderados por ele mesmo. Parece coisa de seita, mas isso é real mesmo. Assinando cada mensagem para seus ‘‘crentes’’ com sua marca registrada “excelsior!”. Mas isso foi para frente? Não, muita coisa na Marvel deu errado e isso merece até um especial, mas ainda falando sobre essa parte meia polêmica, muita gente aderiu, o resultado que esses seguidores viraram o que chamamos hoje de Fan base, os caras mais chatos do mundo.
No fundo, ele queria criar uma comunidade de quadrinhos, algo utópico e algo que fazia o bem, mas alguma coisa deu errado neste processo.
O Vídeo abaixo foi uma das últimas entrevistas que Lee deu onde ele fala um pouco sobre essa ideia de comunidade dos quadrinhos.
This quote from Stan Lee highlights the feeling of warmth he brought to the world of comic book readers. It was a secret hideaway for many of us who lived for the dream world he and his collaborators created for us. pic.twitter.com/HOEsnKed5D
— Cool Comic Art (@CoolComicArt) 12 de novembro de 2018
3. Ele deu uma voz ao inaudito
É claro que, para criar a linha editorial da Marvel de refletir o mundo real em metáforas em seus quadrinhos, tenho que falar sobre o tipo de personagens que a editora escolheu para ser essa voz.
Peter Parker era apenas um rapaz geek do ensino médio que sofria bullying. Os X-Men, nascidos em um sistema de opressão simplesmente porque eram considerados “diferentes”, todas as pessoas que a sociedade chamavam de ‘‘estranho’’ se apegou na mesma hora a esses personagens. Você não precisa se encaixar para ser especial.
Os personagens que Lee criou ao lado de Kirby, Ditko e Bill Everett foram uma força importante e muita gente até hoje ainda não percebeu isso. Os que não tinham voz, agora tinham. Lee genuinamente ajudou muitas pessoas, assim como os escritores e artistas hoje sendo Marvel ou não.
2. O Rei das Aparições
Alfred Hitchcock era o rei das aparições em suas obras, mas hoje é Lee quem é o dono do título. Ele apareceu em dezenas de filmes, programas de TV, videogames e histórias em quadrinhos, o que – de certa forma ironicamente – deu a ele uma persona que poderia ter existido bastante feliz em uma revista em quadrinhos.
Essa coisa começou no filme ‘ O Julgamento do Incrível Hulk, de 1989‘, depois disso, ele apareceria em nada menos que 37 filmes, e incontáveis outros projetos animados ou não. Ele se tornou o rosto da Marvel por gerações, do desenho animado do Homem-Aranha dos anos 90, no videogame Spider-Man da NeverSoft, e até recentemente nos títulos LEGO Marvel.
Stan Lee era um homem completamente sinônimo de suas criações e duvido que alguém chegue perto de seu registro de aparições.
1. Ele co-criou os mitos dos quadrinhos mais influentes de todos os tempos
Diga o que quiser sobre a rivalidade Marvel / DC, ou qualquer universo que você preferir, não há como negar a influência que a Marvel Comics exerceu desde os anos 1960, ou o papel que Stan Lee desempenhou mudando a forma como as pessoas pensavam sobre as histórias em quadrinhos.
Hoje, a presença da Marvel pode ser sentida em praticamente todos os lugares. É uma empresa monolítica, cujas criações cativam públicos e leitores em uma variedade de mídias diferentes, e tudo isso foi possível graças ao grupo que abalou a empresa há quase 60 anos, que consistia em Jack Kirby (1917-1994), Steve Ditko ( 1927-2018), e, claro, o próprio Stan Lee – para não falar das dezenas de outros homens e mulheres que influenciariam a Marvel nos anos seguintes.
Pode ser clichê dizer que a passagem de Lee “marca o fim de uma era”, ou mesmo que ele era um personagem “maior que a vida”, mas, neste caso, ambas as afirmações são verdadeiras. Ele afetou muito a indústria do entretenimento e permaneceu seu maior campeão ao longo de toda a sua vida.
Somos todos, a nosso modo, seus verdadeiros crentes.
Se você tem algum tributo que gostaria de deixar em relação a Stan Lee, sinta-se à vontade para deixá-los nos comentários abaixo.
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