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Por onde começar e quando parar de ler “Constantine”

Constantine raiz vs Constantine nutella
Constantine raiz vs Constantine nutella

Às vezes, eu meu pergunto: por onde começar a ler Hellblazer? E, logo depois, penso: que triste foi o dia em que desisti do Constantine…

Deixa eu contar essa história… Sou do tempo que comprava Hellblazer naqueles papel jornal vagabundo e cheirosos, publicado pelas mais diversas editoras e que bibliotecário nenhum conseguiria por em ordem cronológica, umas coisas assustadoras de editoras que nem lembro mais o nome: Brainstore? Tudo em Quadrinhos? Sei lá! Que seja…

Então, durante muito tempo, garimpei os títulos do punk e mago mais cafajeste do cenário udigrudi pelos sebos empoeirados da cidade, já que não havia mais título periódico dele em banca e o jeito era comprar os antigos e maltratados que encontrava pelo caminho.

Juntei um monte, desde os títulos antigos do Monstro do Pântano àquelas lindezas da coleção “Vertigo” original, da editora Abril.

Quando o personagem partiu para a Panini, as coisas começaram a se arrumar e todos nós, fãs, precisamos tirar o chapéu para a editora, que organizou a casa toda, publicando o personagem cronologicamente, como acompanhamos nas séries Origens, Infernal, Demoníaco, Assombrado, Amaldiçoado…

Por onde começar…

Nós sabemos que é sempre difícil ter um ponto de partida quando se quer começar a ler um personagem com quem nunca trocamos figurinhas antes, e com Constantine não seria diferente. Quase sempre, os autores que vão surgindo ao longo das 300 edições iniciais do título Hellblazer, trabalham as histórias colocando os personagens que nosso mago sacaneou no passado como assombração com quem ele tem de lidar. Aí, os neófitos podem ficar no vácuo.

Por isso, normalmente recomendo “A Cidade dos Demônios” como uma introdução para quem quer entender qual é a do “herói”, porque é uma HQ completamente fora da cronologia, algo que não requer background, além de muito bem desenhada pelo Sean Murph.

Outro gibi fechadinho do Constantine que você pode começar a ler é a Pandemônio. Nessa HQ você já pega o traço diferentão do Jock, além de ter a oportunidade conhecer seu “escritor original”, Jamie Delano, nos brindando com uma história típica do Constantine apostando almas numa mesa de “poker” contra deuses e demônios. Biscoito finíssimo.

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Mas se você quer mesmo mergulhar e experimentar a vida podre do Constantine, procure pelos quadrinhos escritos pelo Jamie Delano, na primeira série da Panini Origens, do volume 1 ao 8. “Ah, mas a primeira tá esgotada…” NÃO INTERESSA! Compre e leia a que encontrar! O bom desses “contos” antigos é que a maioria são histórias fechadas. Acho que no volume 3 dessa Origens tem uma curtinha do Neil Gaiman chamada “Abrace-me”, um exemplo claro do que devem ser as histórias do mago para o resto da vida e que você tope com o midinho se discordar.

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Garth Ennis também é bom, mas prefiro o “autor original”. E não! O autor original não é o Alan Moore. Constantine era só um figurante rotineiro em Monstro do Pântano quando o mago de Northampton o criou. Acho que até o Rick Veitch usou mais o Constantine em Monstro do Pântano do que o Moore. Então, quem é realmente o autor original do personagem, em seu título próprio, é o Jamie Delano. Ali tá a nata e a base para tudo o que foi criado depois.

Ainda estamos aqui falando aqui sobre como você pode começar a ler Hellblazer. E uma das coisas bacanas que li, e que é mais recente, é “O Passeio”, escrito pelo Andy Diggle. Nessa HQ, (INÍCIO DO SPOILER) Constantine volta até o prédio que fora o manicômio onde foi internado muitos anos atrás e invoca uma encarnação dos seus sentimentos ruins, das suas culpas e frustrações e essa criatura lovecraftiana surge e começa a devorá-lo. Ele consegue lutar e transforma aquele monstro em um bebê. É triste e melancólico a cena em que ele leva o bebê até o topo de um penhasco, abraçando-o enrolado em um cobertor, e o atira lá de cima, para se chocar contras as pedras e as ondas… Simplesmente lindo (FIM DO SPOILER).

Por onde não deves trilhar…

Beleza! Então te dei algumas dicas pra pra você começar a ler Hellblazer. Agora, vamos falar sobre os caminhos mais obscuros, ou melhor dizendo, os caminhos mais limpinhos pelos quais você não deveria passar.

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O dia em que eu decidi parar de ler Constantine, desistindo da continuidade de uma coleção de algumas décadas, foi meses após o início dos Novos 52. Desculpe, acho que a moda de falar mal dos Novos 52 já até passou… Mas tudo bem, até onde eu li do título “Constantine” (os cara começaram errando, abandonando o título Hellblazer), era uma palhaçada onde o personagem estava todo arrumadinho, onde a estética punk do personagem fora jogada no lixo, em troca de algo que não me descia bem.

Mas o ponto de virada mesmo foi lendo Liga da Justiça Dark, onde Constantine era o líder da equipe (!), que por si só é uma ideia ruim, apesar de sempre tentarem mostrar na HQ que o grupo não era coeso e que o JC usava de todos os seus subterfúgios pouco éticos para tentar manter certa unidade do grupo. Mesmo assim, foi nas páginas tristes de Liga da Justiça Dark, que o personagem aparece usando uma armadura de cota de malha e uma espada para lutar, mão-a-mão, contra um vilão maligno lá que agora tenho orgulho de ter me fugido o nome.

Enfim, Constantine usando armadura e espada? Sendo que ele estava enfrentando magia e tinha à sua disposição um depósito inteiro de artefatos místicos, como bem mostrava a HQ… Não deu. Fechei as Novos 52 e nunca mais abri. Me chamem de velho. OK! Mas tenho muitas Jamie Delano pra ler…

 

Pra não dizer que não falei de flores.

Não posso recomendar nada de Constantine da série Novos 52 porque, do pouco que li, nada me agradou. Entretanto, escrevi uma matéria recentemente onde resenho a hq “Fantasmas do Passado” que, até onde entendi, é fruto dessas reformulações “modernozas” do personagem, mas que gostei bastante, onde a autora, Ming Doyle, consegue rejuvenescer o público do personagem sem, entretanto, fugir das bases que o tornam o John nosso cretino mais querido.  Fica ai, inclusive, mais uma dica para começar a ler o personagem.

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos