No início desta semana, todos nos surpreendemos com a indicação de Logan para o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. E tal fato já pode ser considerado algo histórico dentro do gênero dos filmes de super-heróis. E o mais curioso é que longa de despedida de Hugh Jackman na pele do Wolverine conseguiu essa proeza justamente por fugir de certos padrões de seus “colegas.”
Um filme que possui um bom roteiro precisa apresentar uma boa história com diálogos curtos, objetivos e inteligentes. Algo que sabemos que não é abordado em filmes de super-heróis, que costumam ter monólogos sobre heroismo e apresentar certas falas que são clichês no momento de evitar em desastre ou um apocalipse. Mas não é o que aconteceu com Logan.
O décimo filme da franquia X-Men possui momentos simples, mas de grande impacto: pedidos desesperados de ajuda, relacionamento conciso entre os mocinhos e vilões e cenas de interação entre dois velhos amigos. No caso, de Logan e o Professor Xavier.
O diálogo claro, objetivo e eficiente é uma das razões que explicam por que Logan conseguiu a indicação para Melhor Roteiro Adaptado. E mesmo que os roteiristas Scott Frank, Michael Green e James Mangold (diretor do filme) não consigam ganhar a estatueta mais desejada de Hollywood, eles já fizeram história ao quebrar uma barreira para o gênero de ficção: Logan ser tornou o primeiro filme de super-herói, inspirado em quadrinhos, a receber uma indicação ao Oscar por conta de sua história. Não é pouca coisa.
Sim, Logan não é o primeiro filme de super-herói a receber uma indicação ao Oscar. Vários títulos já receberam essa honra, mas praticamente apenas no lado técnico por conta de seus efeitos especiais, fotografia e som, por exemplo.
Heath Ledger vencer o Oscar póstumo por Batman: O Cavaleiro das Trevas, na única vez em que um ator que participou de um longa do gênero foi indicado para atuação. E já existe um precedente com relação ao roteiro: a animação Os Incríveis, da Pixar, recebeu uma indicação por Melhor Roteiro Original, em 2005.
Mas esse momento é diferente. É a primeira vez que uma história de super-herói adaptada dos quadrinhos chegou tão longe. Logan não é uma adaptação de uma única HQ, mas deve seu crédito a Mark Millar e Steve McNiven, que criaram a história do “Velho Logan”, que inspirou boa parte do filme.
De qualquer forma, todos os personagem do filme surgiram nas páginas dos quadrinhos da Marvel (com a exceção de Laura/X-23, que surgiu nos desenhos dos X-Men antes de aparecer em HQ’s). E de certa forma, essa indicação é uma espécie de legitimização desse tipo de publicação. É uma prova de que as páginas dos quadrinhos são muito valiosas, se forem aproveitadas da forma ideal.
Também vale ressaltar que Logan é um produto da Marvel, mas que não foi feito pela Marvel Studios (de propriedade da Disney), mas sim pela Fox, que tinha em mãos os direitos dos X-Men antes da Disney comprá-la.
Quando a Marvel Studios lançou o poderoso Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), a Fox teve muitas dificuldades para enfrentar de igual pra igual esse novo e inesperado rival. Mas podemos dizer que isso mudou um pouco nos últimos anos, após o estúdio optar por aproximações diferentes em seus filmes de super-heróis. Deadpool, a série de TV Legion e, claro, Logan, são os maiores exemplos disso.
Com a recente compra citada acima, nem é preciso dizer que existe uma grande chance dos X-Men serem absorvidos na fórmula do UCM, cheia de brincadeiras e referências à cultura pop. Por mais que seja uma ideia espetacular e aguardada pelos fãs, também podemos lamentar. O motivo é que os X-Men da Fox se distinguem um pouco por não fazerem muito uso desses aspectos. O amargurado, brutal e angustiado Logan de seu mais recente filme não se encaixaria muito bem em Guardiões da Galáxia, por exemplo.
E essa é a imagem mais fresca que os fãs tem em mente do herói nos cinemas. Assim, muitos esperam que a Disney tenha em mente como que Logan é um filme único e tente não mudar muito essa visão para o UCM, que é claramente mais voltado para famílias, crianças e adolescentes.
Por fim, Logan foi um verdadeiro prêmio para os fãs que acompanham a franquia X-Men desde o primeiro filme. E por conta disso, sua indicação também pode modificar o gênero de super-heróis em outro aspecto: é uma prova de que até mesmo um título que faz parte de um universo conectado pode e deve ter um roteiro escrito de forma mais madura e diferente, que fuja de certos padrões que conhecemos e que não precise ser outra “engrenagem” que faça esse universo funcionar.
Logan decidiu arriscar bastante ao se aventurar em um território desconhecido para o gênero. Mas só por que os estúdios precisam lidar com um universo compartilhado não significa que precisam fazer tudo da mesma forma com frequência. É interessante deixar os roteiristas terem uma certa liberdade e arriscarem abordar certas coisas. Logan fez isso e foi recompensado com uma indicação para o Oscar.
Adoramos o atual boom de filmes de super-heróis, mas se ele quiser sobreviver por vários anos, precisa realizar algumas mudanças e quebrar certos paradigmas. E Logan é uma prova de que isso é algo mais que possível.
Tradução: Augusto Ikeda
Texto Original: Vulture
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