He-Man e os Mestres do Universo. Uma franquia que, tal qual o Esqueleto tentando invadir Grayskull, insiste em não morrer. Você pediu uma lista de segredos? Não? Foda-se, terá mesmo assim, pois o baú de Etérnia está cheio de curiosidades, fracassos retumbantes e uma pitada de “por que caralhos fizeram isso?”. Então, pegue sua espada (ou um petisco, tanto faz) e vou desvendar os mistérios da marca que definiu a masculinidade de uma geração… e depois a confundiu um pouco.
1. A Marca e os Brinquedos: O Segredo do Sucesso (e algumas bizarrices)

O sucesso de He-Man não foi um golpe de sorte, mas uma aula de capitalismo selvagem dos anos 80.
- He-Man, o Bárbaro… ou melhor, o Viking?: As primeiras concepções do herói, pelo designer Mark Taylor, mostravam uma figura muito mais sombria e bruta, com um capacete de chifres, claramente inspirado em guerreiros vikings e na obra de Frank Frazetta. A Mattel, sabiamente, achou que um bárbaro com cara de poucos amigos não venderia lancheiras e mandou dar uma “aparada” no visual, resultando no príncipe loiro que conhecemos.
- Nascido para Vender: Não se engane, o desenho da Filmation (1983-1985) foi criado com um único propósito: ser um comercial de 22 minutos para a linha de brinquedos da Mattel. A Comissão Federal de Comunicações dos EUA havia relaxado as regras sobre programação infantil e publicidade, e a Mattel mergulhou de cabeça. Foi uma das primeiras e mais bem-sucedidas sinergias do tipo, criando um modelo que seria copiado à exaustão.
- O “He-Man” Brasileiro da Estrela: No Brasil, a Estrela foi a responsável por fabricar os bonecos. E como é de praxe na nossa terra, tivemos nossas próprias “gambiarras”. Algumas figuras tiveram cores e acessórios ligeiramente diferentes. Colecionadores hoje buscam raridades como o “Multi-Faces” com pintura nacional ou as versões de personagens que vinham em embalagens da Estrela, tornando-os itens únicos no mercado de nostalgia.

2. O Desenho Animado (1983): Moral, Censura e Animação Reciclada
A série animada da Filmation é um ícone, mas também um poço de segredos de produção e decisões, no mínimo, curiosas.
- He-Man, o pacifista: Por mais forte que fosse, He-Man raramente (para não dizer nunca) socava um inimigo. Sua Espada do Poder era usada para desviar raios, quebrar objetos e, no máximo, virar um vilão de cabeça para baixo. Essa violência “light” era uma exigência para evitar a censura e as fúrias das associações de pais. He-Man resolvia tudo na base da força bruta… sem encostar em ninguém. Uma lição de vida.
- A Animação Econômica: A Filmation era mestre em economizar. A icônica cena de transformação do Príncipe Adam em He-Man era reutilizada em todos os episódios. Aliás, diversas outras animações de corrida e movimentos de personagens eram recicladas à exaustão para cortar custos. Uma vez que você percebe, não consegue mais “desver”.
- Esqueleto, o Tio de He-Man? Essa revelação bombástica não veio do desenho original, mas dos minicomics que acompanhavam os bonecos e foi solidificada na série de 2002. Keldor, o irmão do Rei Randor, após um acidente com ácido que desfigurou seu rosto, se tornaria o vilão Esqueleto. Isso transforma a eterna briga pelo castelo em uma treta familiar de proporções shakespearianas.
- As Lições de Moral Mais Aleatórias: Todo episódio terminava com um personagem olhando para a câmera e explicando a moral da história. Muitas vezes, a lição tinha uma conexão tênue, ou nenhuma, com o enredo do episódio. Era quase como se eles tivessem uma roleta de “bons costumes” e sorteassem um tema no final de cada produção.
3. Os Quadrinhos: Onde a Bizarrice Não Tinha Limites

Se você acha o desenho estranho, espere para ver o que acontecia nos quadrinhos, que exploraram a franquia sob os selos da DC Comics, Marvel e outras.
- He-Man vs. Superman: Sim, aconteceu. Na revista DC Comics Presents #47, Esqueleto viaja para a Terra e manipula a mente do Superman, forçando-o a lutar contra He-Man. Como a magia é uma das fraquezas do Homem de Aço, He-Man consegue vencê-lo. Uma heresia para alguns, um deleite para outros.
- He-Man e os Thundercats: Em um crossover mais recente da DC (2016), os heróis de Etérnia se encontram com os de Thundera. O vilão Mumm-Ra chega a roubar a Espada do Poder, se tornando absurdamente poderoso, e Esqueleto, claro, tenta tirar uma casquinha da situação.
- Etérnia é um Planeta Anão? Uma teoria de fã, baseada em informações de uma biografia da linha de brinquedos Classics, sugere que Etérnia é um planeta minúsculo, com apenas 10km de diâmetro, por ter uma anã branca em seu núcleo. Isso explicaria por que todos os reinos e locais de interesse parecem ser vizinhos. Faz sentido? Não muito. É divertido? Com certeza.
4. O Filme de 1987: Um Fracasso Glorioso e Bizarro
O filme Mestres do Universo (1987), estrelado por Dolph Lundgren, é uma obra-prima do “tão ruim que fica bom”.
- Cadê Etérnia? Para cortar custos, a maior parte da trama se passa na Terra. Os produtores da Cannon Films acharam que construir os cenários fantásticos de Etérnia sairia caro demais. O resultado foi He-Man, Esqueleto e sua turma correndo por uma cidadezinha americana, comendo frango frito e confundindo um sintetizador de música com uma arma cósmica.
- Dolph Lundgren Quase Foi Dublado: O sotaque sueco de Dolph Lundgren era tão forte que os produtores quase o dublaram. Após muita insistência (e talvez algumas ameaças veladas do ator), sua voz original foi mantida, para o bem ou para o mal.
- Frank Langella, o Melhor Esqueleto: Em contraste, a atuação de Frank Langella como Esqueleto é frequentemente elogiada como o ponto alto do filme. Ele levou o papel a sério e criou um vilão teatral e ameaçador, que ele mesmo considera um de seus papéis favoritos.
- O Fim das Filmagens… e do Estúdio: O dinheiro da produção acabou antes que a batalha final entre He-Man e Esqueleto fosse filmada. O diretor Gary Goddard teve que implorar aos executivos por mais verba para gravar um final minimamente decente. O fracasso retumbante do filme nas bilheterias foi um dos pregos no caixão do estúdio Cannon Films. Uma sequência, que já tinha roteiro e até cenários sendo construídos, foi abortada e seus conceitos foram reaproveitados em outro clássico trash: Cyborg (1989), com Jean-Claude Van Damme.
5. As Séries da Netflix: A Polêmica e a “Revolução”
A Netflix tentou ressuscitar a franquia duas vezes recentemente, com resultados… controversos.
- Mestres do Universo: Revelação (Revelation): Anunciada por Kevin Smith como uma continuação direta da série clássica, a animação de 2021 causou fúria em uma parte dos fãs. O motivo? He-Man “morre” no primeiro episódio, e o protagonismo passa para a Teela. O marketing foi acusado de ser enganoso, vendendo uma série sobre o He-Man que mal contava com o herói. Smith, com sua sutileza habitual, rebateu as críticas, gerando ainda mais polêmica. Apesar da controvérsia, a série incluiu easter eggs para os fãs mais dedicados, como a aparição de Gwildor, personagem do filme de 1987, canonizando de certa forma o longa.
- Mestres do Universo: Revolução (Revolution): A sequência, lançada em 2024, tentou corrigir a rota, dando mais destaque a Adam/He-Man e sua jornada contra uma nova ameaça tecnológica liderada por Hordak. A série foi mais bem recebida, aprofundando a mitologia, explorando a relação entre magia e tecnologia em Etérnia e solidificando Teela como a nova Feiticeira. A crítica elogiou a evolução dos personagens, mas alguns ainda sentem que falta o “espírito” mais simples da série original.
6. O Futuro: Um Novo Filme e a Volta ao Universo
A pergunta que não quer calar: voltaremos ao Universo dos Mestres do Universo? A resposta é sim, mas talvez não como você se lembra.
- O Filme da Netflix que Morreu na Praia: Antes do filme atual, a Netflix estava desenvolvendo um live-action que teria Noah Centineo (Para Todos os Garotos que Já Amei) como He-Man. O projeto foi cancelado em 2023, supostamente por questões orçamentárias. O custo projetado era de mais de 200 milhões de dólares, e a Netflix, em um período de contenção de despesas, teria pedido um corte para 150 milhões, o que foi considerado inviável pela equipe criativa.
- O Novo Filme Live-Action (2026): A Mattel não desistiu. Um novo filme, agora pela Amazon MGM Studios, está em produção, com direção de Travis Knight (Bumblebee, Kubo e as Cordas Mágicas) e Nicholas Galitzine (Vermelho, Branco e Sangue Azul) no papel principal. A estreia está prevista para 5 de junho de 2026.
- Uma Nova Origem: A sinopse oficial já causa calafrios em alguns fãs. A trama seguirá o Príncipe Adam, que aos 10 anos caiu com sua nave na Terra e foi separado de sua Espada do Poder. Quase duas décadas depois, ele encontra a espada e é transportado de volta para Etérnia para defender seu planeta do maligno Esqueleto. Sim, de novo, a trama começa na Terra, um dos pontos mais criticados do filme de 1987. A controvérsia já começou, mas o diretor Travis Knight e o roteirista Chris Butler (ParaNorman) têm crédito no mercado de animação, o que gera uma ponta de esperança. O elenco ainda conta com Jared Leto como Esqueleto, Camila Mendes como Teela e Idris Elba como Mentor (Man-At-Arms).
Então, sim, nós voltaremos a Etérnia. Se será um retorno triunfal ou mais um capítulo bizarro na história da franquia, só o tempo (e as bilheterias) dirá. Uma coisa é certa: pelos poderes de Grayskull, a jornada de He-Man está longe de acabar. E, honestamente, seria bem menos divertido se acabasse.














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