Esta resenha não contém spoilers. Já que o anime ainda não acabou. Soará mais como primeiras impressões.
Em meio a um mar de narrativas de fantasia já desgastadas, a temporada de animes de 2025 entrega uma das obras mais inusitadas e genuinamente refrescantes dos últimos anos: Clevatess: Majuu no Ou to Akago to Shikabane no Yuusha. A premissa, por si só, é um ato de genial desconstrução de clichês: o herói (No caso, uma heroína) predestinada morre em seu confronto final contra o Rei Demônio, apenas para ser ressuscitada por seu algoz com uma missão impensável — tornar-se a guardiã e a babá do bebê que herdará o trono das trevas. Transitando com maestria entre a comédia sombria de uma paternidade disfuncional e a brutalidade de um mundo de monstros e magia, Clevatess se estabelece não apenas como uma paródia, mas como uma história surpreendentemente cativante sobre propósito e segundas chances nos cenários mais absurdos possíveis.
Produzido pelo estúdio Lay-duce (O Maidens in Your Savage Season), o anime consegue capturar a essência da obra original. A direção de arte faz um excelente trabalho ao contrastar a brutalidade sombria do mundo das bestas mágicas com a inesperada (e muitas vezes hilária) tarefa de cuidar de um bebê. O design de personagens, adaptado do traço de Yuji Iwahara, é um dos pontos altos, mantendo a expressividade clínica da herónai-cadáver e a fofura ameaçadora do pequeno futuro Rei Demônio.
O primeiro episódio, com sua duração estendida, é uma aula de como estabelecer um mundo e uma premissa bizarra. Ele transita habilmente entre a ação visceral do confronto inicial do herói e o humor pastelão de um guerreiro morto-vivo tentando entender as necessidades de um recém-nascido. Essa dualidade é o motor da série.
O elenco, que inclui nomes como Haruka Shiraishi, Mutsumi Tamura e Yūichi Nakamura, entrega performances que elevam o material. A voz apática e cansada do mundo da protagonista contrasta perfeitamente com os sons de bebê e as reações exageradas dos personagens ao redor, criando um timing cômico excelente.
A escolha de Ellie Goulding para o tema de encerramento foi uma jogada de mestre. Uma música pop melódica fechando episódios sobre um herói-cadáver cuidando do filho do Rei Demônio é o tipo de dissonância que resume perfeitamente o espírito da obra: estranha, inesperada e, de alguma forma, funciona perfeitamente.
Clevatess é, sem dúvida, uma das estreias mais memoráveis e originais do ano. Ele desafia as convenções do gênero de fantasia e isekai, oferecendo uma narrativa que é ao mesmo tempo sombria, hilária e surpreendentemente tocante. É um anime que se deleita em seu próprio absurdo e convida o espectador a fazer o mesmo.
Com certeza, uma recomendação forte e um forte candidato a figurar nas listas de “melhores de 2025”.














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