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Entrevista | Paulo Roberto, gerente editorial da Devir

O site da livraria Quinta Capa não surgiu com o objetivo de apenas apresentar notícias sobre a cultura pop. Como dito em nosso editorial, queremos apresentar análises, resenhas e opiniões sobre um leque enorme de opções disponíveis aos apaixonados pelos quadrinhos, livros, cinema e animações, assim como outros assuntos comuns ao nosso público.

Com esse objetivo, buscamos entrevistar quem trabalha diretamente no mercado brasileiro de quadrinhos e mangás. Dessa forma, apresentamos abaixo a entrevista conduzida por nosso editor Thiago Ribeiro com Paulo Roberto Silva Jr, gerente editorial de conteúdo da editora Devir, uma das maiores editoras especializada em quadrinhos e mangás no Brasil.

 

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Fundada em 1987 em São Paulo, a Devir foca na criação de universos de ficção, tornando acessíveis movimentos culturais que não existiam fora dos países onde foram originalmente criados; procurando desenvolver os mercados da imaginação e tudo o que diz respeito à fantasia, aventura, ficção científica, jogos e quadrinhos. A empresa de edição e distribuição de jogos e de publicações para os mercados português, brasileiro e espanhol, se tornou uma especialista em traduções e adaptações de muitos produtos diferentes, focando no chamado entretenimento inteligente: jogos de estratégia, jogos de Role-Play, jogos de cartas colecionáveis e de miniaturas, livros e hqs.

 

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5C: A Devir recentemente reimprimiu o vol. 01 de THE UMBRELLA ACADEMY – SUÍTE DO APOCALIPSE, aproveitando assim o lançamento da série na Netflix. Saber que os quadrinhos são uma fonte de inspiração para filmes, séries e cartoons, que são lançados de forma muito rápida, torna o trabalho da editora também mais dinâmico, já que ela tem que aproveitar a empolgação dos lançamentos em outras mídias?

Paulo Roberto: É muito difícil antecipar títulos que serão transpostos de alguma forma para alguma outra mídia, mais difícil ainda é saber quando isso vai acontecer. Nosso trabalho é focado em trazer quadrinhos de qualidade. É claro que é sensacional quando acontece dele ser adaptado para uma série ou filme e naturalmente que tentamos alinhar nosso marketing e campanhas comercias para aproveitar ao máximo a exposição e atenção que a propriedade atrairá. É o que aconteceu com o UMBRELLA, que vocês citaram, e, também, com DEADLY CLASS e THE BOYS.

 

5C: Aproveitando o assunto da questão do lançamento em outras mídias dos personagens envolvidos de quadrinhos, a editora já tem um levantamento se a estréia de séries e filmes impulsionam as vendas dos quadrinhos? Podemos até usar como exemplo DEADLY CLASS, pelo canal Syfy, e THE UMBRELLA ACADEMY, pela Netflix.

Paulo Roberto: Sim, impulsiona, mas quando conseguimos alinhar em tempo nossos lançamentos ou reimpressões às datas dos lançamentos em cinema ou TV, há uma exposição maior que gera resultado nas vendas. Mas isso nem sempre acontece, temos casos de grande sucesso, como 300 de Esparta e Sin City, mas também tragédias como Os Substitutos e Os Desbravadores.

 

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5C: Em 2018, o mercado brasileiro de quadrinhos sofreu uma grave crise, tendo ocorrido o fechamento de várias lojas e, até mesmo, a falência de grandes grupos editoriais. Poderia nos dizer como foi esse ano para a Devir

Paulo Roberto: Foi um dos anos mais difíceis que o mercado enfrentou, não só o de quadrinhos, todo o mercado editorial sofreu, toda a cadeia de “material impresso” foi afetada, uma das maiores gráficas do país fechou as portas. Com a Devir não foi diferente. Tivemos que rever nossos planos editoriais, cancelar projetos, rever preços, tiragens, políticas de desconto… etc.  Mas não é a primeira crise, nem a última, que enfrentaremos. Os leitores ainda estão aí, precisamos encontrar novas formas de alcança-los.

 

5C: Com vários lançamentos de peso em 2018, como Paper Girls, Imperdoável, Dias Gigantes e o selo Tsuru, as vendas foram afetadas de alguma forma pela crise?

Paulo Roberto: Todos os títulos acima são best-sellers, mas, não fosse a crise, sem dúvida teriam vendido muito mais e financiado novos lançamentos para 2019.

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5C: A Devir é uma das grandes distribuidoras de quadrinhos no Brasil, fornecendo até mesmo para nós, da livraria Quinta Capa. Por isso, pode não ter sido afetada pela crise das bancas. Mas como a editora encara esse fator do fechamento das bancas de jornal, principal formadora de leitores no país?

Paulo Roberto: O assunto “Bancas” daria um livro à parte. A crise que afetou as bancas está diretamente ligada à Dinap (ou sei lá como eles se chamam agora) e a Editora Abril, que foi a dona da p*** toda. Um sistema de distribuição ineficiente que foi envenenando as bancas do país até chegarem ao estado terminal que se encontram hoje. Há muito que as bancas não são uma parada para quem gosta de ler, talvez seja pra comprar cigarro, jogar no bicho ou tomar ki-suco.  A distribuição da Devir,  que além de quadrinhos fornece Jogos de tabuleiro, card games e toda uma gama de material geek, é focada em atender as lojas especializadas, como a Quinta Capa, e eu gostaria de ver as lojas especializadas, como vocês, substituindo com qualidade o buraco que as bancas estão deixando.

 

5C: As vendas para as comics shops foram afetadas?

Paulo Roberto: Falando exclusivamente da distribuição de quadrinhos, para que vocês tenham uma ideia, houve uma perda de 40% do faturamento em 2017, além de um crescimento de clientes inadimplentes.

 

5C: Por falar em vendas, uma empresa que se firmou com força em 2018 foi a Amazon, alguns acusando-a de praticar descontos predatórios em relação à concorrência. Porém, no mesmo ano, a Devir publicou produtos exclusivos para a loja, como as versões em capa dura de Imperdoável, Lazarus e, agora em 2019, Liga Extraordinária 1898. As vendas através da Amazon estão se mostrando mais satisfatórias do que as pra comics shops? Esses produtos exclusivos são decisões editorais ou pedidos da própria Amazon?

Paulo Roberto: Discutir Amazon, assim como bancas de jornal, também é assunto para um longa-metragem, cheio de heróis, vilões e reviravoltas no roteiro. Mas a Amazon tem sido uma parceira vital para todas as editoras do país, e tem viabilizado projetos que, sem eles, teriam sido engavetados. Claro, todos nós sabemos da fábula do lobo em pele de cordeiro, mas isso é uma outra história.

As ofertas de edições exclusivas são decisões da editora, normalmente produtos de high profile selecionados de acordo com o perfil de cada cliente. São oferecidos à Amazon, às redes de livrarias e também às Lojas especializadas (através de uma “modalidade” que chamamos de “Coletividade”). Naturalmente que existem condições para que cada projeto de exclusividade seja viável (uma quantidade ou um valor mínimo) e nem sempre esses números são atingidos ou interessam às partes.

 

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5C: Já que falamos de Liga Extraordinária 1898, vamos tirar esse elefante branco da sala do leitor de quadrinhos no Brasil. Primeiro, como foi a aquisição e publicação desse volume há muito esperado, pois os direitos dos primeiros volumes de Liga pertencem à DC Comics, editora que tem a Panini como representante no Brasil

Paulo Roberto: A-HA! Pertencem à DC… para a publicação nos EUA. Os direitos internacionais não são deles. Aliás, a nova edição americana do “Jubileu” da LOEG (League of Extraordinary Glenteman) também está em pré-venda, lançada pela Vertigo.

O preço? 75 USD (R$275,00). A título de curiosidade, a Liga já foi publicada no Brasil pela Pandora, Devir e Panini. Com o lançamento de Tempest (último volume da Liga Extraordinária), a Devir será a primeira editora a ter em seu catálogo essa obra-prima completa.

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5C: A decisão de lançar em um volume só, compilando as duas primeiras histórias da criação de Alan Moore e Kevin O’Neill, com todos os extras devidos fez com que a edição passasse da marca dos R$ 200,00 do preço de capa. Para o lançamento de um volume tão luxuoso e caro, em um mercado que ainda está em crise, foi feita alguma pesquisa de mercado ou apenas uma decisão editorial de lançar assim?

Paulo Roberto: Não foi feita uma pesquisa formal. Mas sempre é feita uma avaliação. E a conclusão é que um volume único traria uma melhor experiência para o leitor e também um maior valor agregado. Possibilitando ainda a inclusão de diversos extras que a tornam uma edição única no mundo.

 

5C: Por quê lançar com dois preços diferentes, um para Amazon (R$ 199,00) e outro para livrarias (R$ 230,00) ? 

Paulo Roberto: É uma promoção. O valor de R$199,90 será praticado pela Amazon e por uma lista selecionada de lojas especializadas que participaram da “Coletividade” e apostaram nesse título. A compra combinada desses parceiros permitiu que oferecêssemos o título a esse valor em quantidades limitadas. A Amazon também ganhou uma capa exclusiva.

 

5C: Entregar um produto com preço mais baixo para uma loja conhecida por dar descontos agressivos não é um estímulo para que o leitor só compre nela, em detrimento aos outros concorrentes?

Paulo Roberto: Seria se essa fosse nossa política comercial. O que não é o caso, pelo contrário, somos defensores da distribuição especializada. As mesmas condições, foram oferecidas a todos os players do mercado, alguns apostaram, outros não.

 

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5C: Vamos falar de planos para 2019. Quais os lançamentos para o primeiro semestre? Algum título que está em discussão?

Paulo Roberto: Já anunciamos alguns. Da Image, teremos os sensacionais Black Science de Rick Remender (Deadly Class) e Matteo Scalera e a minha HQ preferida no momento, Skyward. Ainda nesse trimestre esperamos lançar o primeiro volume da aguardada Biblioteca Eisner, que irá reunir os clássicos de Will Eisner publicados pela Devir.

Também será um ano de continuidade da grande maioria dos nossos títulos, com exceção de O Abrigo e Carta 44, que muito provavelmente serão guilhotinados pelo fraco desempenho.

 

5C: Em 2018 a Devir cumpriu a promessa de voltar a publicar títulos que estavam de certa forma parados, como The Boys, Lumberjanes e Imperdoável. A resposta de vendas para essas continuações foi boa?

Paulo Roberto: Dos três, Lumberjanes foi o único que teve um resultado abaixo do esperado para suas sequências. The Boys, que em breve ganhará uma série pela Amazon Prime, e Imperdoável tiveram uma performance bastante positiva nas vendas.

 

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5C: O selo de mangás Tsuro deu um show em 2018, com lançamentos como Nonnonba, Uzumaki, Tekkon Kinkreet e Marcha para Morte. Quais os lançamentos já programados para 2019?

Paulo Roberto: Acho que com o sucesso do selo Tsuru, todos esperam novidades… e… teremos novidades para 2019! Mas gostamos de mistério! Já anunciamos “Um Bairro Distante” do Taniguchi durante a Virada Nerd, mas… esse não será necessariamente o próximo título do selo que lançaremos… mistério… =)

 

5C: Os quadrinhos Devir estão indo de forma rápida para a plataforma digital Social Comics, mostrando que o mercado online de quadrinhos é uma realidade. Como estão os planos para 2019?

É, como sempre digo, um canal de distribuição. Temos todo interesse em abastecê-lo da melhor forma possível.

 

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Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.