Resenha crítica da segunda temporada de The Alienist: Angel of Darkness sem spoiler.
Assistir a uma peça de época se esforçando para acompanhá-la, tentando fazer relações com as atuais circunstâncias políticas e sociais, pode ser cansativo. Para quem duvida, assista a apenas dois episódios de “The Alienist: Angel of Darkness”, a continuação da adaptação da TNT/Netflix de 2018 de “The Alienist”, de Caleb Carr, para entender o significado disso. Na verdade, apenas o primeiro episódio já basta para compreender o que estou falando.
Antes de começar a falar sobre a série, ressalto que deixarei “The Alienist”, como no original, porque acho divertido de ler e escrever. Além disso, “O Alienista”, é claro, me lembra Machado de Assis, e uma coisa não tem relação alguma com a outra. Inclusive, quando a primeira temporada da série foi anunciada, ainda em meados de 2017, muita gente confundiu as coisas por causa dos nomes. Como sempre gosto de pontuar, esse texto é todo formal, então a série merece ser levada um pouco a sério.
Bem, para quem chegou aqui de paraquedas, “The Alienist” é uma coleção de livros de thriller policial de Caleb Carr, um autor mundialmente aclamado por seus best-sellers, que já foram traduzidos para mais de vinte idiomas. Além disso, Carr já teve seus textos publicados em canais de renome, como The Washington Post, The New York Times e The Wall Street Journal. Nascido em Manhattan, vive atualmente em Nova York, com sua gata siberiana, Masha, “muito bonita e muito feroz”, segundo o próprio autor.
Nos primeiros minutos da segunda temporada, já assistimos Sara Howard, de Dakota Fanning, correndo na sua carruagem pela principal via da virada do século 20, em Nova York. Quando ela se dirige, rigidamente e plena, à equipe, em sua agência de detetives, já deixa bem claro que a produção vai conseguir falar de um momento delicado das mulheres da virada do século – sua atuação na luta pela igualdade de gênero.
Sara Howard, agora sozinha e determinada a fazer seu nome como uma detetive numa sociedade totalmente machista, é uma mulher séria que leva a sério o fato de que o mundo a leva a sério. Em uma sala cheia de homens assistindo a uma mulher condenada injustamente, prestes a ser executada, ela se opõe e cita Thomas Jefferson para eles. Infelizmente, o argumento é inútil, como seu desanimado colega, Dr. Laszlo Kreizler (Daniel Brühl), a lembra com rígida formalidade. No lugar, o único homem que tem um sopro de vida e emoção correndo nas veias, como sempre, é o jornalista John Moore (Luke Evans), mas apenas porque ele é um homem culto com um pouco de pontas ásperas nas bordas de suas calças.
Quem assiste à segunda temporada de “The Alienist” certamente assistiu à primeira e, por isso, claro, conhece os personagens citados acima. Um dos problemas da série, porém, é que se passaram quase dois anos entre uma temporada e outra, o que faz esse drama e esse peso que sentimos ao assistir, em muitos aspectos, terem chegado tarde demais. Então, se você não costuma ler ou assistir a coisas desse universo atmosférico da era vitoriana, passará batido pela série, mesmo ela estando recheada de bons atores, cenários e produção impecáveis.
A equipe de detetives, liderada pelo alienista analítico e desapaixonado Kreizler, move-se dentro das belezas e grotescos daquele mundo com bastante suavidade, apesar de, na segunda temporada, Sara Howard, da Dakota, ser a protagonista do começo ao fim.
Os episódios iniciais cumpriram o desafio que Carr estabeleceu com relação à descritividade de seu romance de 1994, que era simples o suficiente para um leitor se perder na elaborada formalidade dos quartos que esses personagens atravessaram e até mesmo em seus longos e exaustivos jantares em restaurantes explodindo riqueza e nobreza.
Porém, não consigo falar muito mais sobre esses aspectos, porque arrastei os 08 episódios, que poderiam ser assistidos em uma semana, por longas quatro semanas. Mesmo considerando que os fãs da série tenham gostado do título desta temporada, dadas as informações, transformações e lutas raciais que fizeram um 2020 inesquecível, para a TNT, “Angel of Darkness” foi escolhida meses antes de a série estrear.
Se você está em dezembro de 2020 e não sabe do que estou falando, por favor, pode parar a leitura agora.
A escolha é natural, dada a audiência constante e o apelo do foco da segunda temporada em Sara, enquanto ela luta para progredir em sua profissão e para ajudar a causa dos direitos das mulheres e do sufrágio. Contra esse pano de fundo, está um mistério sinistro de oito episódios, envolvendo o sequestro ritualístico e assassinato de crianças.
“Angel of Darkness” pode ser ambientado em 1897, mas o destaque intencional do roteiro para as semelhanças entre aquela época e a atual é óbvio. Como a introdução do próprio Carr a este mundo e seus personagens conhecidos, a disparidade entre os ricos e os mais pobres é desenhada com a nitidez de uma navalha e tornada tangível por meio de uma diferença nos níveis de iluminação e sujeira, que a produção da série fez de propósito.
Nem um pouco da qualidade atmosférica do original é perdida nos anos que se passaram entre as duas temporadas; ainda é uma série gloriosamente incrível e brutal de se absorver. Entretanto, a seriedade de evocar os paralelos entre o jornalismo sensacionalista da América da virada do século 20 e a versão de hoje parece ter subido às cabeças e aos corpos dos atores. Se a relativa rigidez de Fanning era desculpável em “The Alienist”, devido à ideia de que a confiança de Sara em seu intelecto era nova e constantemente estava sendo atacada no mundo machista, aqui ela calcificou suas emoções – o que é uma pena. O Kreizler de Brühl parece ainda mais rígido que antes. Ainda assim, alguém poderá gostar disso.
Ele é apenas um personagem entre vários outros secundários que aparecem com um desenho bidimensional, o que é uma boa notícia para Evans, que se sai bem no meio disso. Contudo, no final, acaba não sendo importante tudo isso.
São atores incríveis, todos que participaram da segunda temporada de “The Alienist”. Então não se precisa exigir demais, já que darão conta do recado.
Por fim, se o objetivo de “Angel of Darkness” é falar com o agora e nos fazer pensar, essa trilha só levou a um beco sem saída. Mesmo assim, vale a pena ir até o final.
The Alienist: Angel of Darkness está disponível na Netflix e no Canal da TNT.
Revisão da Professora Leila Rachel.
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