Não deixe de conferir nosso Podcast!

O Gongo Soou: Depois de 35 Anos, Hajime no Ippo Finalmente Sobe ao Ringue no Brasil

O lendário mangá de boxe de George Morikawa era um sonho impossível para os fãs brasileiros. Entenda a importância da obra e os desafios que a impediram de chegar aqui... até agora.

Hajime no IPPO
Reprodução (Instagram)

Sabe aquele seu amigo que, em todo evento de quadrinhos, em todo anúncio de editora, resmungava “tá, mas e Ippo?”. Aquele que mantinha uma chama de esperança, mesmo quando a lógica e as planilhas de mercado gritavam que era impossível? Pois é. Eu sou esse amigo. E ontem, sábado, a Editora MPEG fez o impensável, o improvável, o que muitos de nós já tínhamos arquivado na gaveta do “só em outra vida”. Em um anúncio que pegou a todos de surpresa, Hajime no Ippo, a odisseia do boxe criada por George Morikawa, será publicado no Brasil.

Repitam comigo, para que a ficha caia: Hajime no Ippo vai ser publicado no Brasil. Na verdade, já pode comprar o volume 1 no site da editora.

Para os mais novos, que talvez só conheçam o anime por clipes de lutas lendárias no YouTube, a magnitude disso pode não ser clara. Deixem-me explicar. Não se trata apenas de mais um mangá. Trata-se da chegada de um dos pilares sagrados do gênero de esporte, uma obra que redefiniu o que uma história sobre suor, porrada e superação poderia ser.

 

A Longa Caminhada de Makunouchi Ippo

 

Publicado ininterruptamente no Japão desde 1989, Hajime no Ippo conta a história de Ippo Makunouchi, um garoto tímido e introspectivo que sofria bullying na escola. Sua vida muda quando ele é salvo de uma surra por Mamoru Takamura, um boxeador profissional. Para tentar entender “o que é ser forte?”, Ippo decide entrar no mundo brutal e fascinante do boxe.

O que se segue não é uma jornada de superpoderes ou de um talento nato que resolve tudo. A genialidade de Morikawa está em transformar cada passo de Ippo em uma batalha épica. Cada técnica, do básico jab ao devastador Dempsey Roll, é dissecada, treinada até a exaustão e aplicada em lutas que são verdadeiras aulas de narrativa visual. Hajime no Ippo é sobre o processo. É sobre o sacrifício, a dor, o estudo do adversário e a força mental que separa um lutador de um campeão.

LEIA TAMBÉM:  San Diego Comic Con 2018: Confira os destaques dos primeiros dias de evento!

No panteão dos mangás de esporte, Captain Tsubasa (Supercampeões) nos deu a fantasia e os chutes que desafiavam a física. Slam Dunk nos deu o realismo, o drama e o basquete de rua. Hajime no Ippo fez as duas coisas e elevou o patamar. Ele nos deu o realismo técnico de um esporte de combate com uma precisão quase documental, ao mesmo tempo em que transformava cada luta em um espetáculo mitológico.

A influência de Ippo é sentida em quase todo mangá de esporte que veio depois. A forma como ele equilibra a ação visceral dentro do ringue com o desenvolvimento humano fora dele – as amizades, as rivalidades, as comédias hilárias no ginásio Kamogawa – criou um modelo. Ele nos ensinou que uma história de esporte não é sobre o esporte em si, mas sobre as pessoas que o praticam.

 

O Adversário Mais Difícil: O Mercado Brasileiro

 

Então, a pergunta que ecoa há décadas: se é tão bom e tão importante, por que demorou tanto?

Vamos ser francos. O motivo tem nome, sobrenome e um número assustador: extensão. Hajime no Ippo não é uma série comum. É um monstro que já ultrapassou a marca de 140 volumes no Japão e continua em publicação. Para uma editora brasileira, licenciar uma obra desse tamanho é um risco financeiro colossal. É um compromisso de anos, talvez décadas, que exige uma fé inabalável no público.

Imagine o investimento: tradução, adaptação, impressão e distribuição de mais de 140 volumes. Se as vendas caíssem no volume 20, o prejuízo seria astronômico. Somado a isso, o boxe não tem o mesmo apelo popular no Brasil que o futebol ou o vôlei, o que sempre colocou a obra em uma categoria de nicho para os analistas de mercado.

LEIA TAMBÉM:  Crítica | Blue Period é uma carta de amor à arte

A aposta da Editora MPEG, portanto, não é apenas um ato de negócio; é um ato de paixão. É um reconhecimento de que existe um público leal, formado por décadas de anime e de leitores de scans, pronto para finalmente ter essa obra-prima na estante. É uma aposta na maturidade do nosso mercado, que hoje talvez consiga sustentar um gigante que antes parecia impossível de carregar.

Mas uma coisa é certa: o gongo soou. Para nós, órfãos de Ippo, a espera finalmente acabou. A luta principal vai começar.

Agora, se me dão licença, tenho um boleto de pré-venda para pagar e um lugar na primeira fila para garantir. Demorou, mas o campeão chegou.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.