Antes de começar, entenda uma coisa: franquia Alien não segue a ordem de lançamento. Os filmes mais recentes, na verdade, contam o início de tudo. Para entender a história completa, da arrogância de nossos criadores ao último suspiro de Ellen Ripley, a ordem é esta:
1. Prometheus (2012)
- Quando: (2089–2093)
- Resumo sem spoilers (e com uma pitada de sarcasmo): Um casal de arqueólogos superotimistas (Dra. Elizabeth Shaw e Charlie Holloway) encontra o mesmo mapa estelar em diversas culturas antigas e convence o bilionário Peter Weyland a financiar uma viagem para o outro lado da galáxia. O objetivo? Encontrar nossos “Engenheiros” ou criadores. O que eles encontram é um planeta hostil, um patógeno mutagênico gosmento e a prova de que cientistas brilhantes em filmes de terror tomam as piores decisões possíveis, como tirar o capacete em um planeta alienígena ou tentar fazer carinho em uma criatura que parece uma cobra demoníaca. O filme foca mais na ambição, na fé e na criação, deixando o Xenomorfo clássico de lado para nos apresentar seus terríveis precursores. O filme não mostra diretamente a criação do Xenomorfo clássico — só um protótipo no final (o “Deacon”).
- Onde se encaixa: É o ponto de partida de tudo, estabelecendo a raça dos Engenheiros e o acelerante biológico que, eventualmente, levará à criação da arma biológica perfeita.
2. Alien: Covenant (2014)
- Quando: 2104
- Resumo: Uma década depois, a nave de colonização Covenant está a caminho de um novo paraíso quando intercepta uma transmissão misteriosa de um planeta próximo que parece… perfeito demais. Liderados por um novo capitão instável e acompanhados pelo androide Walter, eles decidem investigar. Péssima ideia. Lá, encontram David, o androide sobrevivente de Prometheus, que passou a última década brincando de Dr. Frankenstein com a gosma preta. Este filme é a ponte direta entre a mitologia dos Engenheiros e o surgimento do Xenomorfo que conhecemos e tememos. Prepare-se para ver a equipe de colonos mais inepta da galáxia ser dizimada de formas criativas.
- Onde se encaixa: Existe debate entre fãs e até dentro da franquia se os Xenomorfos “clássicos” vêm de David ou se ele apenas acelerou um processo iniciado pelos Engenheiros. A versão oficial da Fox/Ridley Scott aponta para David como criador, mas muitos fãs odeiam isso e veem como retcon forçado.
3. Série FX: Alien (Está na metade quando esse post foi escrito)
- Quando: Aproximadamente na década de 2110 (baseada em declarações do criador Noah Hawley).
- O que sabemos: A série, se passa na Terra, décadas antes de Ripley e da Nostromo. A trama irá explorar a ascensão da Weyland-Yutani Corporation e a corrida armamentista entre diferentes conglomerados para obter a tecnologia Xenomorfa. Pela primeira vez, veremos o impacto da existência dessa criatura não em uma nave isolada, mas na sociedade humana. Até o momento a serie é um thriller corporativo misturado com terror, focando na desigualdade de classes. E está valendo muito a pena.
Alien: Earth é um deleite visual que merece palmas — especialmente para fãs que ainda se reconhecem no eco musical da Nostromo. A série é ambiciosa, filosófica e visualmente brutal com monstros tão grotescos que provavelmente fariam Giger revirar no túmulo (ou dar uns tapinhas de orgulho). Mas essa ousadia tem preço: há momentos de congestão narrativa, ritmo irregular e escolhas que se afastam demais do DNA original, a ponto de alienar tanto puristas quanto entusiastas novatos. Mas como eu disse acima, ainda tá valendo a pena.
- Onde se encaixa: Cronologicamente, ela se situa após os eventos de Covenant e antes do primeiro Alien. É o momento em que a “Companhia” começa a ter conhecimento e a cobiçar ativamente o Xenomorfo, preparando o terreno para a Ordem Especial 937 que selou o destino da tripulação da Nostromo.
4. Alien: O Oitavo Passageiro (1979)
- Quando: 2122
- Resumo: O clássico absoluto. Uma obra-prima do terror e da ficção científica. A tripulação do rebocador espacial Nostromo (essencialmente, caminhoneiros espaciais) é despertada do hipersono para investigar um sinal de socorro em uma lua desolada, LV-426. Lá, encontram uma nave alienígena abandonada e uma carga mortal de ovos. Um tripulante é “impregnado”, e o resto é história do cinema. Dirigido por Ridley Scott, o filme é um exercício de tensão claustrofóbica, onde o verdadeiro horror não é só o monstro, mas a ganância da corporação que os enviou para morrer. Apresenta a icônica Ellen Ripley (Sigourney Weaver), não como uma heroína de ação, mas como uma oficial de mandado competente e a única com bom senso.
- Onde se encaixa: É o primeiro encontro oficial da humanidade (pelo menos que conhecemos em detalhes) com o Xenomorfo em sua forma finalizada.
5. Aliens: O Resgate (1986)
- Quando: 2179
- Resumo: Ripley é resgatada após 57 anos vagando pelo espaço em hipersono. Ninguém acredita em sua história, até que o contato com a colônia de terraformação em LV-426 é perdido. Adivinhe onde a colônia foi construída? Exato. Ripley, sofrendo de estresse pós-traumático, relutantemente concorda em voltar como consultora de uma unidade de Fuzileiros Coloniais arrogantes e superarmados. James Cameron troca o terror lento por um filme de ação militar espetacular, com mais aliens, mais armas e uma figura materna icônica: a Rainha Alien. “Get away from her, you BITCH!”
- Onde se encaixa: Expande a mitologia, introduzindo a estrutura de colmeia e a Rainha, e solidifica Ripley como uma das maiores heroínas do cinema.
6. Alien 3 (1992)
- Quando: Imediatamente após Aliens, em 2179.
- Resumo: O filme mais divisivo e niilista da franquia. A cápsula de fuga de Ripley cai em Fiorina “Fury” 161, um planeta-prisão de segurança máxima habitado por presidiários com uma “síndrome de cromossomo Y duplo” e que adotaram uma religião apocalíptica. Ah, e um Facehugger veio de carona. Despojada de armas, tecnologia e esperança, Ripley precisa liderar os piores homens da galáxia contra um único Xenomorfo ágil e aterrorizante. É um filme sombrio, trágico e, para muitos, um final corajoso (e deprimente) para a trilogia original de Ripley.
- Onde se encaixa: Conclui o arco de Ripley de uma forma brutal, explorando temas de fé, redenção e sacrifício. O “Facehugger” que teria escapado na cápsula é uma das grandes polêmicas — o roteiro muda várias vezes quem ele “infectou” (Hicks, Newt ou até o cachorro/boi dependendo da versão).
7. Alien: A Ressurreição (1997)
- Quando: 2381 (200 anos após Alien 3)
- Resumo: Adivinhe? Eles a clonaram! Militares inescrupulosos usam amostras de sangue de Ripley para recriá-la (e a Rainha Alien que estava dentro dela) em uma estação espacial. O resultado é a “Ripley 8”, um clone com DNA de Xenomorfo, força aprimorada e sangue ácido. Claro que os aliens escapam, e o caos se instaura. Este filme é… estranho. Tem um tom quase cômico e bizarro, cortesia do roteiro de Joss Whedon e da direção estilizada de Jean-Pierre Jeunet. É uma aventura de ficção científica mais tradicional, com piratas espaciais e um novo tipo de abominação, o “Newborn”.
- Onde se encaixa: É um epílogo bizarro e controverso para a saga, tão distante no futuro que quase funciona como uma história isolada.
A Importância da Franquia e seu Sucesso Duradouro
Você não se pergunta por que Alien ainda ressoa com tanta força, mesmo depois de mais de 40 anos? A resposta não está apenas na criatura, mas em tudo que a cerca.
- Fusão Perfeita de Gêneros: O primeiro filme não era apenas ficção científica. Era um filme de casa mal-assombrada no espaço. Pegou a estrutura do terror gótico e a jogou no futuro. James Cameron, por outro lado, o transformou em um filme de guerra do Vietnã no espaço. Essa capacidade de transitar entre horror, ação e suspense filosófico deu à franquia uma longevidade incrível.
- O Design de H.R. Giger: Vamos ser honestos. O sucesso de Alien começa e termina com o design biomecânico e psicosexual do Xenomorfo. Não era um homem em uma fantasia de borracha; era uma manifestação de pesadelos, uma criatura que borrava as linhas entre o orgânico e o mecânico, o terror e o desejo. É um design atemporal e genuinamente perturbador.
- O Verdadeiro Monstro é a Ganância Corporativa: A Weyland-Yutani e sua filosofia de “Tripulação Sacrificável” são tão aterrorizantes quanto o alien. A franquia sempre foi uma crítica ao capitalismo desenfreado, onde vidas humanas são apenas um número em um balanço financeiro para adquirir um novo “produto” para a divisão de armas biológicas. Isso é mais relevante hoje do que nunca.
- Ellen Ripley: O Ícone Acidental: Ripley não foi escrita para ser uma “personagem feminina forte”. Ela foi escrita como uma personagem competente que, por acaso, era mulher. Ela não vence pela força bruta, mas pela inteligência, resiliência e instinto de sobrevivência. Ela se tornou o arquétipo da “final girl” moderna e uma heroína para gerações sem precisar de superpoderes.
Por que ainda faz sucesso?
Porque explora medos primais. Medo do desconhecido, da violação corporal (o ciclo de vida do Facehugger e Chestburster é aterrorizante), da escuridão, da solidão e de sermos impotentes diante de algo perfeitamente adaptado para nos matar. Além disso, o universo é rico, “sujo” e palpável. As naves não são palácios brilhantes; são locais de trabalho gordurosos e claustrofóbicos.
A franquia continua a se expandir com jogos brilhantes como Alien: Isolation e agora com a promessa da série da FX e o sucesso último filme Alien: Romulus respondem todas as dúvidas, até porque o conceito central é simplesmente forte demais para morrer.
Agora, se me dá licença, meu detector de movimento está apitando. Provavelmente é só o gato… espero.














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