A espera terminou e, após um final de semana tenso(eleições), este é um dos bálsamos que a alma do fã necessitava: Doctor Who finalmente estreou sua décima primeira temporada! E dessa vez com tudo novo: showrunner novo, protagonista nova(o clássico personagem mudou de sexo e nem precisou de cirurgia) coadjuvantes novos e até mesmo um compositor novo(sai Murray Gold, entra Segun Akinola).
Tudo novo, tudo mudado… e era exatamente o que a franquia precisava.
Estréia ambiciosa
Tal qual o especial de cinquenta anos (em 2013) e o último especial de natal, a estréia da nova temporada de Doctor Who foi marcada por estréias em várias salas da rede Cinemark de todo o país. E não só isso: o Crackle, aplicativo de streaming da Sony, adquiriu os direitos de exibir a nova temporada da série e ainda liberou gratuitamente os dois primeiros episódios, sendo que o primeiro foi liberado neste domingo (07/10) a partir das 16:00.
A felicidade no rosto de quem assistiu #DoctorWho no Cinemark junto com os amiguinhos! A #JodieWhittaker estava linda e já to amando! @doctorwhobrasil pic.twitter.com/GZAad4IiEQ
— Evelyse Lima (@Lyselv) 8 de outubro de 2018
A BBC não está brincando para promover a nova temporada. Em maio, a mesma fechou uma parceria com o Twitch para exibir gratuitamente 500 episódios da série clássica. A intenção era atrair uma nova audiência para a série, cuja audiência já não era mais tão grande. Peter Capaldi, em sua estréia na série como o Doutor anterior, teve uma audiência de 6,8 milhões de espectadores, número menor que as estréias de Matt Smith e de David Tennant.
A estréia de Jodie Whittaker garantiu um pico de 9 milhões de espectadores.
E não é para menos: a escolha de uma mulher para o papel é histórico. Não é uma idéia nova, pois começou a ser concebida ainda na década de 80, mas apenas agora pode finalmente ser implementada. E finalmente podemos ver como Jodie Whitaker, a atriz escolhida para ser a Doutora, se saiu no papel.
Mas será que essa audiência toda foi devido à controvérsia de ter uma mulher em um papel historicamente masculino?
Novidades
Chris Chibnall entrou com carta branca para fazer muitas mudanças em Doctor Who. A mudança já é percebida ainda nas primeiras imagens. Isso se deve às novas câmeras encomendadas pelo produtor, que visavam dar à série um ar mais cinematográfico. Deu a impressão de estar vendo um filme de Doctor Who; imagino se nas exibições no Cinemark este visual não ficou ainda mais intenso.
A trilha sonora também teve uma mudança radical: Murray Gold esteve no comando desde a continuação da série em 2005 e sua despedida ocorreu no último especial de natal. A tarefa de substituir um compositor tão experiente e premiado é árdua e o anglo-nigeriano Segun Akinola tem o potencial: ele já foi indicado ao prêmio Jerry Goldsmith pela trilha sonora do curta Dear Mr. Shakespeare, e tem um currículo invejável como ter se graduado com honra no Conservatório Real de Birmingham, além de ter um mestrado em composição para filmes e televisão. O impacto de suas composições já se faz ainda nos primeiros dez minutos do episódio, quando temos uma breve noção de como pode ser o novo tema de apresentação. Ele soa mais forte e impactante. Mas saberemos apenas no segundo episódio, quando teremos a nova apresentação.
Novo tema de Segun Akinola
Também na trilha sonora, temos o tão atual uso da “buzina cinematográfica” para efeito dramático. Há várias composições especiais para cada momento: animação, drama, desafio… uma nova coleção de sons está ali, só à espera do whovian!
O episódio
O episódio tem seu início pouco depois dos eventos do especial de natal Eram Duas Vezes(Twice Upon a Time, no original). Após a regeneração e os problemas com a TARDIS, a Doutora cai e vem pousar justamente onde alguns de seus futuros companions se encontram. E chega bem à tempo de salvá-los de uma estranha criatura que causou a abrupta parada do trem momentos antes. Porém este nem mesmo representa o verdadeiro perigo que terão de enfrentar.
Reveja aqui a regeneração e o momento da queda.
Assistir a esta estréia é interessante pois aqui vemos o quanto a Inglaterra é rica e diversa. A série sempre se preocupou em retratar gente mais comum, mas aqui vemos uma Inglaterra pouco vista mesmo na série. E nem falo do elenco diverso: o personagem de Bradley Walsh, Graham, a Doutora e outro coadjuvante ali são basicamente os únicos personagens caucasianos. Ryan Sinclair(Tosin Cole, o Tenente Bastian de O Despertar da Força) e sua avó Grace(Sharon D. Clarke são afro-britânicos, e Yasmin Khan(Mandip Gill) é indiana. O que ressalto é que estamos em Sheffield, ao sul do condado de Yorkshire e o sotaque dos habitantes é um pouco mais diferenciado do que esperaríamos da série; o que mostra o quanto o país tem muitas facetas.
Aqui nesse vídeo você tem uma idéia do que estou falando.
E quanto à Doutora? Jodie Whittaker surpreende. Ela já tem uma carreira promissora, tendo atuado em vários filmes e séries e tendo sido indicada a vários prêmios também, além de sempre receber aclamação da crítica. Sua indicação ao papel foi alvo de controvérsia por fãs que não aceitavam uma mulher em um papel que sempre foi masculino. Porém teve muito suporte de boa parte dos fãs e de outros profissionais que atuaram na série, principalmente por atores que já estiveram no papel.
Change my dears and not a moment too soon – she IS the Doctor whether you like it or not!
— Colin Baker (@SawbonesHex) 16 de julho de 2017
“Mudança meus caros e no momento certo – ela É a Doutora gostando vocês ou não!”- Colin Baker, o 6º Doutor
E ela não faz feio: bonita, carismática e mantendo o sotaque de Yorkshire(a diversidade inglesa), Jodie manteve o caráter excêntrico e eufórico do personagem. Com tantas encarnações do personagem, não há como termos um novo Doutor e não compararmos a outros que vieram antes. Impossível não lembrar dos personagens que foram encarnados por David Tennant e Matt Smith ao vê-la em ação: o jeito de cientista maluca quando ela resolve construir uma nova chave de fenda sônica e o clímax tornam impossível não lembrar deles.
A tradição de gosto bizarro por roupas se mantém no final, quando ela finalmente resolve se livrar dos farrapos que pertenciam à sua forma anterior. O senso de humor dela também é sensacional e a personagem se mostra uma provocadora quase inconsequente ao lidar com o vilão do episódio.
Os companions também são outro caso à parte. Há tempos não tínhamos tantos parceiros para a personagem. A tradição manda que sempre haja apenas uma companion feminina, mas os dois primeiros Doutores chegaram a viajar com duas ou três pessoas sempre. A maioria das outras encarnações viajava apenas com uma mulher, com apenas algumas exceções(caso do quinto Doutor). Agora temos o retorno de três companions, o que parece simbolizar um recomeço.
Ryan por um momento me lembrou o Mickey, da primeira temporada. Portador de dispraxia(condição que afeta o desenvolvimento motor), Ryan não consegue sequer andar de bicicleta, o que o frustra bastante. Ele também tem problemas para aceitar Graham, que é casado com sua avó. Ele tinha potencial para ser um reclamão e mimado, mas se mostra bem mais simpático e independente que o irritante Mickey, da primeira temporada. Sua condição também é mais uma forma de diversificação e há potencial para a série explora-la.
Yasmin é uma policial em treinamento que quer mais do que resolver conflitos bobos de trânsito e tem a chance de fazer parte de algo maior quando atende à uma chamada estranha, feita por Ryan. Logo ela se vê envolvida em algo para o qual seu treinamento não a preparou.
Graham é a grande surpresa aqui. Bradley Walsh é multitalentoso: já jogou futebol profissionalmente, cantou(tendo sido o mais vendido músico inglês estreante de 2016), escreveu e atuou. Não sabia o que esperar do personagem e o que temos é um humilde motorista de ônibus, que quer ser aceito pelo neto de sua esposa. Graham é um cara simples, amável e sensível. Ele brilha em um dos momentos mais tocantes do episódio. Desconfio que pode haver um prêmio para ele ano que vem.
Quanto à trama, mais grandes mudanças. Steven Moffat, ao assumir a série, destacou bastante os tons épicos e dramáticos da mesma. As ameaças eram sempre maiores que a vida e o tempo, o planeta e o universo sempre estavam em jogo. Também fazia o possível para emocionar o espectador e existem vários momentos na série em que era impossível conter as lágrimas.
Essa cena de Vincent And The Doctor é o maior exemplo.
Chibnall, no entanto, prefere algo mais contido. Quem já viu os episódios escritos por ele, tem uma noção do tipo de episódio que ele prefere. A nova temporada é como uma aventura do Homem-Aranha, enquanto as histórias da era Moffat pareciam Liga da Justiça. Neste episódio, que foi escrito por ele, temos um vilão ameaçador, porém em uma escala menor. Ele não deixa de ser mais uma contribuição ao rico mito de Doctor Who, que já nos apresentou várias raças alienígenas e criaturas diferentes com suas peculiaridades. Inclusive há vários ganchos para um possível novo encontro com esta espécie alienígena, além de várias outras possibilidades.
A abordagem mais simples de Chibnall dá uma sensação estranha. Estávamos tão acostumados ao estilo bombástico de Moffat, que não dá pra deixar de imaginar como certas cenas seriam feitas com ele. A cena em que a Doutora se apresenta e revela seu nome certamente teria muito mais intensidade. Porém, a abordagem feita aqui foi mais do que apropriada.
Retornando aos companions, aqui eles mostram um valor que anteriormente não era tão destacado. Por mais genial que a Doutora seja, ainda lhe falta competências que só as pessoas comuns têm. E aqui é que os humanos se destacam: mantendo os pés no chão, cada um dos companheiros que a ajudam dão sua contribuição para a vitória. O trabalho de equipe mostrado neste episódio traz de volta uma valorização destes que há muito a série não tinha. Os companions agora são mais do que uma conexão emocional ou passageiros, aqui eles são tão heróis quanto a Doutora. Suas motivações e anseios são um caso à parte e, mais do que ver a Doutora em ação, será um grande prazer vê-los crescer.
E respondendo ao meu questionamento mais acima: embora a curiosidade possa ter sido um fator determinante para o pico de audiência citado, o primeiro episódio mostra o frescor que a série precisava para cativar uma nova audiência. E a reação dos fãs parece ter sido positiva. E, de acordo com um grupo de pesquisas de audiência, a nova Doutora parece ter surtido efeito em uma jovem audiência feminina também. De fato, o público infanto-juvenil parece ter aprovado a nova personagem.
Fãs de diferentes idades dando o seu feedback.
A nova temporada de Doctor Who começou muito bem e terminou com um excelente gancho para o próximo episódio. E ainda deixou alguns mistérios no ar que poderão ainda ser abordados nesta temporada. Para quem está curioso e interessado, a Sony adquiriu os direitos de exibição desta temporada e está transmitindo através de seu serviço de streaming, o Crackle. E, pra facilitar(como mencionado anteriormente), os dois primeiros episódios serão liberados de GRAÇA no aplicativo. Se gostar do que vê, dá pra assinar e acompanhar este novo momento desta maravilhosa série.
Link para conferir Eram Duas Vezes e o episódio A Mulher Que Caiu Na Terra:
https://doctorwho.crackle.com/v2/index.html
Confira também uma prévia do próximo episódio:
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