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Cebolinha Recuperação a 20ª Graphic MSP por Gustavo Borges

Cebolinha foi um dos primeiros personagens da Turma da Mônica e esse nas últimas semanas, ele estréia a 20ª Graphic MSP, o selo de quadrinhos voltado para o público adulto. Essa é a terceira publicada esse ano, confira as resenhas de JeremiasHorácio . O autor da Graphic Novel do troca-letras é Gustavo Borges um jovem talento do quadrinho nacional. Cebolinha Recuperação traz um lado mais profundo do personagem que vai além do típico antagonista da Mônica que fica elaborando planos mirabolantes para capturar seu coelhinho de pelúcia.

A história tem dois acontecimentos principais. A chegada de Robertinho, um garoto cheio de grana que rapidamente consegue a atenção de todos com seu jeito gabola de contar histórias mirabolantes das suas viagens ou seus aparelhos eletrônicos mais sofisticados. O outro fato já é mais pessoal para o Troca-Letras, o Sr Cebola é demitido e a situação financeira da família aperta cada vez mais.

É bem verdade que esse negócio das Graphic MSP trazer um drama sendo enfrentado pelo personagem da turminha já está muito batido. Porém a proposta do selo, que é trazer histórias adultas para o público de qualquer idade, acaba tendo como ponto forte a questão: como os personagens da Turma da Mônica reagiriam aos dramas do cotidiano? A proposta em si das Graphics acabam vindo com um misto de saudosismo com reflexão existencial. Eu particularmente não me incomodo que a temática não tenha uma grande variação, desde que o autor consiga despertar alguma emoção em mim.

O gibi começa bem bobinho e se você é daquelas pessoas que avalia algo pelo início, provavelmente largará a leitura nas primeiras páginas e será uma pena, pois não terá contato com a essência da obra. As primeiras páginas mostram Cebolinha utilizando a sua imaginação para criar inúmeros personagens. Aqui Gustavo Borges pretende estabelecer uma conexão com a infância do leitor e aqueles momentos em que a gente criou vários personagens e um monte de histórias quando a gente brincava no jardim ou com a caixa de brinquedos no quarto.

Essa introdução leva a temática principal: a reação das crianças aos problemas dos adultos cuja solução estão bem longe das suas capacidades. Cebolinha acaba percebendo como os adultos podem ser bem diferentes vendo o seu pai e o pai do Robertinho, que dispõe de condição financeira para bancar tudo o que o seu filho quer e precisa, mas não dispõe da mesma disposição para passar o tempo com ele, procurando saber sobre os seus gostos e as suas dificuldades. A vivência de um pai acaba sendo bem diferente daquilo que o mesmo gostaria. Mesmo tendo uma boa vontade e nutrido de informações, a construção do pai vai conter também a personalidade daquela pessoa, que se para alguns é uma bela oportunidade reviver a sua infância junto com o filho, para outros aquilo soa estranho, voltar a lidar com emoções infantis que não vivenciou na sua época ou que já abandonara há muito tempo.

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A grande questão é o fato de  que no meio dessa dúvidas dos pais ou padrastos, está ali uma criança que reage a esses acontecimentos e os interpreta à sua maneira. O autor entretanto foca-se no ponto de vista das crianças. Cebolinha é um garoto inventivo, não é a toa que ele tem um caderno para registrar os seus “Planos Infalíveis”. Ele é uma criança que pretende encontrar soluções para tudo, por isso ele imagina que cabe a ele encontrar soluções para a situação financeira da sua família, mesmo que o plano não dê certo, é apenas uma questão do mesmo ser aprimorado. Ao mesmo tempo em que ele se dedica para ser aprovado no ano letivo, ele procura pôr em prática os seus planos para conseguir contribuir com uma grana para os pais, de uma maneira bem discreta para que eles não fiquem sabendo.

A narrativa dramática é apresentada de forma crescente e ao passar de páginas eu ficava com aquela sensação de querer dizer: “Cebolinha, vai brincar, esses problemas não são seus.” Contudo a gente vê aquela criança perdendo as coisas que mais gosta e a situação piorando cada vez mais, para ele não tinha como apenas ver a situação acontecer, era preciso fazer algo. É justamente nos momentos que o autor quer passar a sensação de impotência àquela situação que o quadrinho atinge o seu ápice e me atinge também. O Brasil passa por um período de recessão que parece não acabar e o enredo vem ao encontro dessa situação vivenciada por várias famílias, elas vêem aquilo que  conquistou com tanto esforço ir se perdendo rapidamente.

Gustavo Borges é um gaúcho de 23 anos que eu nem posso desejar sucesso porque isso ele já tem, mesmo ele sendo um artista tão jovem, foi convidado pelo editor Sidney Gusman para criar uma Graphic MSP do seu personagem preferido, já ganhou Troféu Hq Mix com trabalho de coautoria por Edgar, já teve trabalho publicado nos EUA na coletânea The Amazing World of Gumball e na Europa com suas obras Pétalas e A Entediante Vida de Morte Crens. A mim, só resta desejar vida longa a esse artista que demonstra muito potencial para trazer boas histórias.

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Gustavo Borges traz a Turma da Mónica no seu traço estilizado

Veredicto

Os desenhos de Gustavo Borges são bem estilizados e cheio de movimento, eu lembrei muito das animações pós anos 2000 tipo Du, Dudu e Edu nas quais até as cores se moviam, isso demonstra uma conexão do autor com uma estética bem atual. É um tipo de arte que a gente fica na expectativa de como outros personagens da turminha ficariam em seu traço, felizmente esse desejo é atendido na obra. O enredo trabalha bem a proposta dos sentimentos saudosistas e o drama realista, particularmente não tive nenhuma dificuldade em me inserir bem na história, quando eu dei por mim, estava divagando sobre várias coisas entre o meu papel de padrasto e o sofrimento das crianças. Os extras trazem esboços, curiosidades sobre o personagem nos anos 60 e o que eu achei mais legal foi a reação do autor em desenhos ao ser convidado para fazer a Graphic. Cebolinha Recuperação ainda que não inove na temática, consegue desenvolvê-la muito bem, recomendo e muito.

Cebolinha Recuperação pode ser encontrada com capa dura ou mole em 100 páginas coloridas pele Editora Panini.

 

 

Sou psicólogo por profissão e um nerd em tempo integral. Eu gosto de cinema, séries, filmes, livros mas a minha paixão são as histórias em quadrinho que estão presente em minha vida desde a infância. Atualmente cismei em querer escrever, opinando sobre essa minha paixão.