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Paul Auster: 3 Leituras Essenciais

Paul Auster completou, no último 3 de fevereiro, 72 anos. Nascido em Newark, estado de Nova Jersey, morou por quatro anos na França, antes de retornar ao seu país natal e estabelecer-se de vez no Brooklyn, famoso bairro de Nova York onde ambienta diversos de seus romances. A identificação de Auster com a região é tão grande que em 2006 foi declarado pelo presidente desse Distrito o dia 27 de Fevereiro como o “Paul Auster Day”.

O maior escritor americano vivo apresenta em seus trabalhos uma marca própria que encanta e prende quem se aventure pelas suas obras: o poder do acaso, o peso da memória, o uso da metalinguagem e uma sadia humanidade desenvolvida em personagens que perambulam pelo mundo sem saber ao certo para onde se dirigem. A partida se faz com o destino em branco.

No Brasil, o autor é editado pela Companhia das Letras, que realiza um competente trabalho de tradução e apresenta os volumes em bonitos projetos gráficos. Porém, alguns de seus livros infelizmente se encontram fora de catálogo, e romances consagrados como Leviatã, A Trilogia de Nova York e Timbuktu precisam ser procurados em sebos e afins.

Mas acredite, a busca valerá a pena: a força narrativa de Auster é poderosa e forjada na linha tênue entre vivência e imaginação. Ganhador de diversos prêmios e honrarias, como o prestigioso Príncipe das Astúrias, celebramos seu aniversário indicando três de seus trabalhos fundamentais. Todos se encontram disponíveis, incluindo seu lançamento mais recente, que indicamos aqui anteriormente.

.4 3 2 1 (816 páginas, preço sugerido R$ 89,90): O que define uma vida? Quais escolhas formam um indivíduo? o que constrói uma identidade? Em 4 3 2 1 , o mais ambicioso romance de Paul Auster, essas questões são levadas às últimas consequências. Romance finalista do Man Booker Prize 2017. Archie Ferguson é filho de Stanley e Rose, nascido no dia 3 março de 1947. Este é o único dado indiscutível de sua biografia. Pois, em 4 3 2 1 , Paul Auster constrói não uma trajetória, mas quatro diferentes percursos de vida trilhados por Archie. Desde o êxito de A trilogia de Nova York , de 1987, sua estreia na ficção, Auster tornou-se um dos principais nomes da literatura contemporânea, publicando grandes sucessos de crítica como Leviatã e Desvarios no Brooklyn.

Após um hiato de sete anos, o escritor retorna à prosa com seu projeto mais ousado: pensar o que aconteceria com um mesmo personagem se as suas relações e condições — financeiras e familiares — fossem outras, como se a mesma pessoa habitasse universos paralelos Neste brilhante exercício literário, Auster instiga uma profunda meditação acerca de um dos temas mais recorrentes em sua obra: o poder do acaso. O resultado é um romance monumental, uma reflexão sobre o que nos torna humanos, o que podemos controlar e tudo o que há de mais imprevisível no destino de cada indivíduo.

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.Homem No Escuro (168 páginas, preço sugerido R$ 49,90): Os fãs de Paul Auster e da melhor literatura norte-americana moderna têm muito que comemorar com este Homem no Escuro. Cruzando as memórias de um homem de setenta e dois anos que viveu intensamente cada instante de sua vida com as realidades iníquas e violentas de um mundo em pé de guerra, e ainda por cima encontrando espaço para uma subtrama labiríntica de corte fantástico e orwelliano, Auster mostra aqui, em grande estilo, toda a sua maestria ficcional. August Brill, crítico literário aposentado, recupera-se na casa da filha, em Vermont, Estados Unidos, de um acidente de carro em que quase perdeu uma perna.

Quando o sono se recusa a dar as caras, Brill permanece na cama e libera a imaginação para tecer histórias que o ajudem a desviar o foco mental das vicissitudes que ele gostaria de esquecer: a morte recente da mulher, o assassinato do namorado da neta no Iraque e a dolorida solidão da única filha, abandonada pelo marido. Em meio a divagações de toda ordem, Brill constrói um mundo paralelo em que os Estados Unidos se acham mais uma vez numa guerra civil sangrenta. À medida que a noite em claro avança, adensa-se a trama do insone, ameaçando engolfar seu próprio criador numa delirante vertigem autopunitiva.

No fim da madrugada angustiante, a neta Katya vem lhe fazer companhia, com perguntas incisivas que o remetem a um torvelinho de lembranças, boas e más, do casamento dele com a falecida Sonia, cantora lírica e mãe de Miriam, com quem dividiu os grandes momentos de sua vida. Com sua prosa a um tempo refinada e contundente, Homem no escuro é o romance dos tempos atuais, um livro que força o leitor a se confrontar com a noite sombria até mesmo quando celebra uma existência feita de alegrias comuns.

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.Invisível (280 páginas, preço sugerido R$ 54,90): Adam Walker recorda os acontecimentos da primavera e do verão de 1967, quando era um jovem poeta e estudante de letras na universidade de Columbia, Nova York. Quarenta anos depois, os fatos incontornáveis daquele ano, em que se vivia a Guerra Fria e a crescente oposição à Guerra do Vietnã, somam-se a eventos pessoais decisivos, que o vão acompanhar até o fim da vida. Ele rememora o estranho encontro em uma festa e a posterior relação tumultuada que desenvolve com dois estrangeiros: o suíço Rudolf Born, professor visitante de relações internacionais na mesma Universidade Columbia, e sua enigmática e sedutora companheira, a francesa Margot.

O professor Born propõe ao jovem poeta financiar um projeto de revista literária, acalentando a ideia de ter sua biografia escrita por Walker. O rapaz fica intrigado com a rápida simpatia que desperta no casal, mas a oferta é boa demais para ser recusada. Aos poucos, porém, passa a desconfiar das intenções de Born, uma combinação de raivoso analista político, intelectual cínico, dândi espirituoso. Um evento imprevisto e trágico vai fazer com que a relação entre o estudante prodígio e o enigmático professor se torne áspera e, depois, doentia, levando a história de ambos a Paris.

A narrativa de Adam Walker, hoje com mais de sessenta anos, porém, mostra-se incapaz de dar conta da complexidade dessa história revisitada nos meandros da memória e nos limites da linguagem. Vozes de outros personagens ganham o primeiro plano: Jim, antigo colega de Adam, que se tornou James Freeman, escritor de sucesso, a quem Walker recorre para que lhe ajude a terminar a narrativa; a irmã Gwyn, por quem ele sente um irresistível desejo incestuoso; Cécile, enteada francesa de Born, que manteve um diário dos tempos em que conheceu e se apaixonou por Walker.

Em Invisível, Paul Auster compõe um romance feito de diferentes vozes e tempos narrativos. Narradores e formas narrativas se alternam, aceleram o ritmo da leitura, reservando descobertas e mudanças de rumo até as últimas frases do livro e deixando o leitor sem fôlego.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br