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Crítica | Estou pensando em acabar com tudo (Netflix)

Charlie Kaufman está de volta no seu mais novo filme: Estou pensando em acabar com tudo

Eu estou pensando em acabar com tudo
Netflix

Charlie Kaufman está de volta no seu mais novo filme: Estou pensando em acabar com tudo.

Depois de terminar o último filme do roteirista/diretor Charlie Kaufman, que joga tantas coisas em você enquanto assiste que você que só queremos ele acabe logo e saia daquela loucura “poética” durante duas horas e quatorze minutos. Eu queria conversar com mais pessoas e perguntar o que elas acham de “Estou pensando em acabar com tudo”, já que para mim, foi muito difícil pegar o fio da meada logo de cara.

É esse tipo de filme, envolto em uma espessa mortalha de ambiguidade totalmente intencional que sempre ameaça se tornar a cada enquadramento em becos sem saídas de uma narrativa, se beneficia do tipo de revelação que surge da discussão e premissa.

Foi complexo escrever esse texto, essas palavras que está lendo neste momento, leitor, passou por umas seis revisões e cortes de parágrafos inteiros, mas eu consegui falar de “Eu estou pensando em acabar com tudo” sem dá qualquer grande spoiler.

Quando acabei de assistir ao filme ao lado da minha esposa a única coisa que tinha em mente era: What’s Really Going On? Por onde eu começarei a resenha desse filme, meu deus?

E para ser justo: este é o tipo de filme sobre o qual é quase impossível escrever ou falar sem revelar O Que Está Realmente Acontecendo, a menos que alguém se atenha aos ossos da trama. E isso, é algo que não sei fazer. Porém, vamos lá, o que lerá nos próximos parágrafos é literalmente o texto mais complexo que já fiz na vida. E algumas palavras difíceis foi totalmente intencional.

A premissa de “Estou pensando em acabar com tudo” é sobre um jovem casal (Jessie Buckley e Jesse Plemons) que fazem uma longa viagem de carro durante uma tempestade de neve para jantar com os pais do cara (Toni Collette e David Thewlis) em sua fazendo no meio do nada. Eles jantam. As coisas ficam estranhas e coisas estranhas acontecem. O casal volta para a cidade. A neve piora. As coisas ficam ainda mais estranhas e coisas ainda mais estranhas acontecem.

É o tipo de história que torna tão reconhecível e indelevelmente um filme que apenas Kaufma faria. Eu não sou fã de sua linguagem, mas muita gente é, porém, não quer dizer que não gostei, apenas fui lento em compreender o que ele queria dizer e me esforçarei em fazer apenas isso aqui, sem estragar o que realmente está acontecendo e deixar tudo ambíguo.

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Este não é, para ser claro, um filme que tem uma grande reviravolta que deve ser protegida a todo custo. Não é um quebra-cabeça que, uma vez resolvido, abre mão de tudo que o tornou interessante em primeiro lugar. Por um lado, você sabe logo nos primeiros minutos que teremos diversos momentos internos, principalmente da personagem de Jessie Buckley. Seus pensamentos não chegam ao final, pois o sempre hesitante e complexo personagem de Jesse Plemons atrapalha isso. Essas duas pessoas não estão na mesma sintonia, embora uma delas claramente deseje que elas estejam. Assim, as coisas entre eles e ao redor deles mudam sutilmente. Eles interagem até com você.

Superficialmente, a crítica que Kaufman parece querer que o filme faça – aquela que ele insiste continuamente nos diálogos do casal, especialmente nas duas longas viagens de carro que constituem o primeiro e o terceiro atos do filme – é mais ou menos isso: Nós, humanos, subsistimos de narrativas falsas, fabricadas, derivadas e emoções inautênticas para nos distrair do que é Verdadeiro, Original e Real.

Mas Kaufman não joga isso de cara, ele vai criando um monte de pistas em “Estou pensando em acabar com tudo”.

Mas sejamos reais, ou, você sabe a noção do Real, especialmente como é apresentada aqui, algo simples, mas entendiante ou o filme vira o tipo de pepita pseudo-intelectual solipsista de “sabedoria” recebida e pré-digerida que você deve se lembrar sendo cuspida pelo mais tendencioso e arrogante tuiteiro cinéfilo que ler Bukowski pelo resto da vida.

E já existem pessoas fazendo isso que acabei de citar acima.

O verdadeiro alvo de Kaufman não é nada tão abstrato e anódino como a “vida moderna”, ou a maneira como ela nos encoraja a cair na preguiça intelectual e de pensamentos. “Eu estou pensando em acabar com tudo” tenta assumir posições e formar identidades que copiamos de coisas que lemos, assistimos e ouvimos. Não, ele está dirigindo seu escárnio zombeteiro para as pessoas (vamos encarar os fatos: os homens, esmagadoramente) que mentem para si mesmos sobre seus próprios dons, que abraçaram com entusiasmo a necessidade de serem vistos como os mais inteligentes, os mais especiais, e que decididamente falham em se conectar com os outros por causa disso.

Sendo este um filme Charlie Kaufman, estamos todos aqui razoavelmente seguros em supor que ele está falando de si mesmo e a outros como ele.

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Ao longo do filme, vemos memórias de desprezos passados ​​- e uma vida inteira de humilhações absolutas – misturadas com um desejo desesperado de ser, e sempre ter sido, aceito, abraçado, validado. Para receber cada tapinha de cada um, receber noções sobre a vida, as artes visuais e o cinema, e os ensaios de David Foster Wallace. Uma referência a “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”?

E Kaufman é de fazer trabalho conceitual em seus projetos, despejando esse peso enorme sobre os ombros de seus atores, especialmente quando você continua batendo neles com mudanças contínuas e misteriosas de humor, motivação, caracterização, história de fundo e, não à toa, o guarda-roupa que parece negar a eles a base emocional que é fundamentação para representar a arte. Nessas variações de estética do diretor vale dizer que é uma coisa muito complexa de compreender se o telespectador só quer apenas se entreter.

Mas o trabalho Jessie Buckley é incrível, modulando sua performance para acomodar a direção que o vento gelado de Kaufman está soprando, de cena em cena. Plemons é discreto e aterrorizante na maneira como passa de ranzinza e ressentido a suplicante e deplorável a estoico e ilegível. Eu gosto muito desse ator e foi um dos motivos de assistir ao filme. Thewlis é por sua vez assustador e comovente, e Collette é uma performance que você se pega assistindo com a boca aberta e admiração. Podem adicionar mais uma cena de jantar em família extremamente desconfortável a um perfil do IMDB já repleto delas.

“Estou pensando em acabar com tudo” pode ser pessimista, mas evita a misantropia sombria de grande parte do trabalho de Kaufman. Sua milhagem pode variar, é claro, mas descobri um momento, no final do filme, em que um personagem parece se perdoar por viver uma vida vazia e emocionalmente atrofiada, silenciosamente de tirar o fôlego, nem parece Kaufman!

Não é um sentimento que eu estava preparado para estender ao personagem em questão, nem acho que Kaufman espera que o público o faça. Mas foi bom ver Kaufman se deixando levar – ou pelo menos, o self que ele vê no espelho – por um segundo, já que ele passou muito de sua carreira se flagelando para nossa diversão.

“Eu estou pensando em acabar com tudo” está disponível na Netflix.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.