Caixa de Pássaros (Bird Box), é o mais novo thriller da Netflix. O filme acabou virando uma caixa mista de amor e ódio para mim. Tem muita coisa que te agarra e prende, e então há o final, que infelizmente deixou as coisas com mais perguntas do que respostas.
Dirigido por Susanne Bier (Depois do Casamento, Serena) e adaptado do romance homônimo de Josh Malerman de 2014, Caixa de Pássaros se desdobra em duas linhas do tempo: A primeira, na qual Malorie (Sandra Bullock) tenta cuidar da Garota (Vivien Lyra Blair) e Garoto (Julian Edwards) através de uma paisagem pós-apocalíptica com os três com os olhos vendados; e o segundo, vários anos antes, explicando as circunstâncias que os levaram aquelas três criaturas estarem fazendo uma viagem sem poder abrir os olhos.
O filme começa no momento em que Malorie e as crianças estão prestes a embarcar em sua fuga para um possível porto seguro. Esses momentos são ousados e funcionam bem, mas por que eles estão fugindo? O que está acontecendo no mundo? Embora Malorie explique que é preciso manter as vendas no olhos a todo custo, é esperado que o público descubra o que está acontecendo através de pistas contextuais. Toda essa premissa só funciona nos primeiros minutos.
O manual pós-apocalítico mostrado no filme é algo que vimos um milhão de vezes antes. Um misterioso sinal de rádio, um romance inesperado, a ansiedade em se tornar pai ou mãe, um cara rabugento, um namorado superconfiante, uma presença alienígena quase invisível… Cada peça do quebra-cabeça está lá.
A novidade fica por conta dos monstros. Como implícito, eles são criaturas que matam pela visão. Qualquer um que ponha os olhos neles é levado a cometer suicídio pelos meios mais próximos possíveis, embora as regras se tornem cada vez menos nebulosas à medida que o filme avança, sugerindo que usar uma venda não seja um método infalível para se manter seguro. Qualquer comparação com o Lugar Silencioso não é algo exagerado, a diferença é que as criaturas aqui mantêm-se no mistério de onde saíram e porque fazem aquilo. Tentaram até jogar algumas pistas no meio do filme, mas o desenvolvimento disso acaba sendo esquecido.
Outra coisa que me incomodou foi tratar os doentes mentais como os vilões secundários. Em vez de se matarem ao verem as criaturas, eles perambulam, evangelizando os sobreviventes, forçando-os a abrir os olhos e, assim, condená-los à morte. Não há explicação do motivo, o que só faz a escolha parecer mais irresponsável possível na narrativa.
Para que isso não pareça apenas um texto de defeitos do filme, Bier é capaz de tirar sangue de pedra. Sua direção dá uma sensação de tensão a algumas cenas do filme, incluindo um momento simples em que uma das crianças se afasta, e as cordas que usam para tentarem ficarem juntas começam a desamarrar. O elenco reunido também é composto por artistas pesados, cada um dos quais faz mais do que deveria ser possível a partir de papéis que nunca progridem além dos arquétipos dos personagens. O que é uma pena.
Tem a Sarah Paulson, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Danielle Macdonald, Lil Rel Howery, Tom Hollander e BD Wong, mas apenas Trevante Rhodes e John Malkovich se destacam. O personagem de Malkovich, duas vezes divorciado e uma vez viúvo, é o caranguejo que não gosta muito dos outros, gosta de reclamar, feliz em abandonar os outros, desde que possa garantir sua sobrevivência. Como o galã pós-apocalíptico, Rhodes assume seu segundo papel neste ano (sendo o primeiro em Predador) que prova que ele é o protagonista, com muita habilidade contra Bullock, que por sua vez está fazendo um trabalho incrível.
O fato de Malorie ser a única que ficou cuidando das crianças na linha do tempo do filme da época atual deve ser indicação suficiente do que acontece com todos os outros. Caixa de Pássaros é em sua grande parte se torna um filme solo, por sorte, Bullock está à altura da tarefa, comandando todas as cenas que participa. Além de certas coisas que eu deixo para quem ainda não assistiu que entenda.
O filme é previsível como a maioria dos filmes do tema podem ser, mas ainda há alguns sustos genuínos. A primeira vítima que vemos reivindicada pelas criaturas é um choque, e o pânico inicial, que é caótico o suficiente para sugerir o quão brutal as pessoas podem se tornar para sobreviver, tem o mesmo efeito.
Veredito
Apesar de tudo, o filme entra para a lista de recomendados, especialmente considerando que ele está sendo transmitindo na Netflix. Porém vamos as advertências: Bullock é ótima, mas é forçada a carregar o filme por conta própria. Os monstros são assustadores – mas eles vão diminuindo dentro da lentidão do filme, pois sua natureza nebulosa foi usada apenas como uma brecha do que eles são. Os personagens secundários são divertidos – mas acabam morrendo rapidamente. O filme é bom, prende, mas é lendo e isso pode ser um problema para quem gosta de um thriller.
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