Resenha crítica sem spoiler da primeira temporada de Sangue de Zeus, disponível na Netflix.
Na última década, as adaptações das aventuras dos bastardos do Monte Olimpo andam em baixa no cinema e na TV. De “Fúria de Titãs” (Warner Bros, 2010) à série “Percy Jackson” (20th Century Fox, 2010) as coisas não foram como esperavam. Sem contar que ainda tentaram emplacar “Immortals” (2011) com o Henry Cavill e “Hércules” (2014) com Dwayne “the Rock” Johnson. (Há outros filmes e séries de baixo orçamento – e gosto duvidoso – baseados na mitologia grega, mas preferi nem comentar para não estragar mais).
Tudo isso me deixou tão decepcionado que nem me importei com o anúncio de “Sangue de Zeus” pela NetFlix, mesmo sabendo ter sido criada e desenvolvida pela Powerhouse Animation (o incrível estúdio que fez “Castlevania”). Ainda assim, “Sangue de Zeus” consegue finalmente ser um projeto que valesse a pena assistir? É só continuar a leitura.
O enredo da série segue a história de um jovem semideus chamado Heron, nascido da união entre a Rainha de Corinto, Electra, e Zeus. Escondidos pelo deus/pai/amante, os dois vivem uma vida miserável e faminta nos arredores de uma cidade, até que um exército de demônios em ascensão liderado por um ser misterioso chamado Seraphim, ataca a polis.
Heron, então, parte em uma jornada para compreender sua verdadeira herança. Ao longo do caminho, ele vai desvendar uma complexa teia de amores, mentiras e traições entre deuses e mortais. Uma conspiração ameaça a Grécia e o Olimpo. O destino do mundo agora está nas mãos de Zeus e sua prole.
“Sangue de Zeus” não é simplesmente uma nova versão de uma fantasia grega. O sangue não é só uma metáfora: derrama-se aos baldes. A cada episódio as peças do quebra-cabeça vão se encaixando, revelando uma narrativa cada vez mais envolvente.
Sim, Zeus é mulherengo, mas talvez seja porque nunca tenha tido um pai de verdade, afinal, Cronos tentou comê-lo como fez com seus irmãos. É um Deus com falhas, ultrapassado e mesquinho; apesar disso, se preocupa profundamente com aqueles que ama, mesmo que não tenha vontade de se comprometer com eles.
Essa falha de caráter cria um incrível efeito cascata. Afeta seu relacionamento com Heron, sua esposa Hera e os outros deuses do Panteão. De todos os personagens da série animada, Zeus é sem dúvida o mais desenvolvido. Infelizmente, este nível de complexidade temática não se estende necessariamente aos personagens principais da série: Heron e Seraphim. Há uma ideia interessante de como os dois são duas faces da mesma moeda (ou dracma) que ressoa ao longo da série.
O problema aqui é que os roteiristas simplesmente não lhes dão muita profundidade. É difícil não ver Heron como apenas uma cópia de Percy Jackson. Especialmente porque muito da sua história de fundo segue a mesma narrativa do herói criado por Rick Riordan: ele é jovem, angustiado, ama sua mãe e odeia seu pai ausente, a quem com o tempo se reconcilia. Quanto ao arco do personagem de Serafim, deixo vocês assistirem.
Embora o roteiro da série seja mediana, o ritmo mais do que compensa. Sério, o enredo se move na velocidade da luz. Provavelmente devido ao fato de que os oito episódios, cada um com cerca de 30 minutos, não deixam muito espaço para divagações. Sempre há algo interessante acontecendo, tanto em primeiro como em segundo plano. Seja política divina, drama familiar ou batalhas ferozes.
Por falar nisso, o trabalho de animação em “Sangue de Zeus” é impressionante. Os designs das criaturas, em especial os Gigantes, têm muita personalidade. As vistas e planos de fundo conferem uma sensação de imersão que poucas animações ousaram fazer, das glórias ornamentadas do Olimpo à paisagem infernal do Submundo. Com o tempo e melhorias, mal podemos esperar para ver o que a Powerhouse pode fazer com suas produções futuras.
Mas uma animação não consegue ser boa apenas graças à tecnologia. “Sangue de Zeus” ganha vida por causa de seu elenco de dubladores incríveis. Jason O’Mara como o carismático, mas arrependido Zeus, é o destaque do elenco. Certo, ninguém aqui é obrigado a saber quem são essas pessoas que citarei, porém, Jason O’Mara é o dublador oficial do Batman nas séries animadas da DC Animated Movie Universe. Na versão brasileira, a dublagem tem conta com um grande destaque: o lendário Mauro Ramos.
Derek Phillips faz o melhor com o material dado a ele como Heron, e sua voz combina com a estrutura e modelo de seu personage, que na versão brasileira é dublado pelo incrível Peterson Adriano. Claudia Christian finaliza a lista no papel da Deusa Hera, dublada por Lina Rossana aqui na terra brasilis. São nomes muito poderosos da dublagem mundial que agregam valor à produção.
“Sangue de Zeus” faz o suficiente para se distinguir de todos os seus predecessores na mitologia grega, proporcionando um banquete visual aos telespectadores enquanto tece uma trama ressonante, se não familiar, de deuses, mortais e monstros. Exceto por pequenos problemas de roteiro e um punhado de direções artísticas estranhas – principalmente nas feições humanas, sua primeira temporada é intensa, com muito espaço para crescer.
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Estou acompanhando a 1º temporada, e digo, o enredo é bom e o impacto da animação também é muito ótima, principalmente nas batalhas, multilaçoes e ataques sem censura, ótimo… o que quebra as pernas é a trilha sonora muito repetitiva em quase todas as cenas tem uma orquestra, isso deixa o anime um pouco cansativo de se ouvir.