Esta é uma crítica sem spoiler de The Umbrella Academy que acaba de ficar disponível pela Netflix.
Estava de luto por causa de Defensores, Demolidor, Punho de Ferro? Esqueça eles. A Netflix tem sua nova franquia de super-heróis, mesmo eles sendo imprevisíveis e esquisitos.
The Umbrella Academy se concentra em uma família disfuncional de heróis, que são criados por um bilionário excêntrico e emocionalmente distante e encarregados de salvar o mundo da aniquilação. A premissa é bem simples assim mesmo. O problema envolverá saltos temporais, macacos cidadãos… quer dizer, macacos falantes e dançantes. A história tem muito mais em comum com a Patrulha do Destino (Doom Patrol da DC) que você imagina. O criador dessa confusão, Gerard Way, citou em entrevista que usou a Patrulha como fonte de inspiração para criar seu próprio grupo de desajustados, e é por isso que é tanto irônico quanto estranhamente poético que a Netflix está lançando a série no mesmo dia em que a DC Universe está estreando sua versão adulta da Patrulha do Destino, baseada na fase de Grant Marrison, que o Gerard é bastante fã!
E só para não esquecer: The Umbrella Academy tem as mãos de um brasileiro na versão original em quadrinhos. O querido e incrível Gabriel Bá, que desenha a obra. O nome dele aparece nos créditos. É um orgulho para mim e para os brasileiros.
The Umbrella Academy é genial. Eles misturaram humor autoconsciente com uma narrativa elegante como uma forma de desconstruir um gênero já saturado. O primeiro episódio teve um trabalho pesado para apresentar aos espectadores as sete crianças superpoderosas que foram adotadas – ou, mais exatamente, compradas – por Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) ainda bebês para serem criados como salvadores do mundo, ao mesmo tempo em que estabelece as dinâmicas familiares perturbadoras que os deixaram distantes emocionalmente quando adultos. O primeiro episódio traz muita informação para os espectadores, mas consegue tornar isso interessante e envolvente – graças em grande parte ao seu elenco carismático de atores inspirados. A trilha sonora é consistentemente incrível, adicionando uma energia louca às cenas.
Há algo que prende você a todos os membros da família Hargreeves. Do superforte – e super-reprimido – Luther, ou conhecido como Número 1 (Tom Hopper), para o perverso e viciado em drogas de Robert Sheehan, Klaus (número 4), que pode falar com pessoas mortas; ou todos os caminhos que levam à Vanya de Ellen Page (Número 7), que pode … tocar violino muito bem, mas passou sua vida como uma pessoa normal e não tentando salvar o mundo toda semana como faziam seus irmãos superpoderosos.
Mas a verdadeira estrela da série é Aidan Gallagher como Número Cinco, um viajante do tempo excêntrico, que ficou preso no futuro por décadas, que volta ao presente e ficou preso em sua forma adolescente. No futuro, ele testemunhou o iminente apocalipse. O retorno do Número Cinco (e sua advertência sobre o fim do mundo) é o catalisador de grande parte da história, e Gallagher atinge o equilíbrio perfeito de parecer jovem, mas com uma mente de idoso, sem nunca parecer precoce. Depois de alguns episódios, você estará convencido de que o garoto de 15 anos realmente é um velho rabugento no corpo de uma criança, e seu riso – especialmente em combinação com a alegre loucura de Sheehan – é o destaque da série.
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Embora a série seja uma adaptação bastante fiel, mas simplificada, dos quadrinhos de Way e Gabriel Bá (com alguns desvios fundamentais), a interação entre os irmãos é mais convincente do que o mistério em sua essência. O drama familiar ficou como uma reflexão em segundo plano por causa da dinâmica dos atores, roteiro, direção e música. Você provavelmente vai se divertir mais tentando descobrir as várias divergências, rivalidades e conexões que forjaram e quebraram esse grupo do que tentar decifrar todas as pistas que estão levando ao apocalipse. Diego (David Castañeda), também conhecido como Número Dois, é um solitário espinhoso que passou sua vida tentando sair da sombra de Luther, mas as feridas profundas que ele carrega de uma vida inteira como um lobo solitário criam um arco de personagem surpreendentemente comovente. Da mesma forma, Allison (Número Três) de Emmy Raver-Lampman a único membro da família que parece tentar aprender com seus erros do passado, e sua relação com Luhter e Vanya dão à temporada o mais próximo que teremos de uma família.
A série também é elegante como o inferno. As cenas de ação – das quais existem muitas – são filmadas com um toque cinético e visualmente único, elas nos dão uma sensação impressionante de dinâmica sem nunca se sentir confuso. A Netflix e a Universal Cable Productions, o estúdio por trás da série, definitivamente não se importaram com os gastos – muitos dos efeitos são cinematográficos, especialmente o lindo trabalho da Weta (Produtora de Efeitos Especiais do Peter Jackson) sobre Pogo, o assistente chimpanzé de Sir Reginald, que parece ter saído direto da guerra do filme o planeta dos macacos.
As piadas sujas não são tão meticulosas quanto Deadpool ou a Patrulha do Destino, mas seu senso de humor é vigoroso, dando-lhe uma atitude divertida e às vezes deliciosamente doente e sangrenta.
A temporada, no entanto, perde força do meio para o fim – uma falha que anda aparecendo bastante nas séries da Netflix – eles ficam em círculos no enrendo, especialmente envolvendo o Número Cinco. A coisa só melhora quando aparece os assassinos Hazel (Cameron Britton, de Mindhunter, mais uma vez roubando todas as cenas em que ele está) e Cha-Cha (A fada Mary J. Blige). Outros personagens coadjuvantes, como um policial sem sorte, a detetive Patch (Ashley Madekwe) e o interesse amoroso de Vanya, Leonard (John Magaro), parecem sempre mal-humorados, estando ali mais para tapar buracos do que fazer algo de importante na narrativa.
Ainda assim, The Umbrella Academy deu um passo que a maioria das séries de heróis não conseguiram e se tornou uma das mais confiáveis séries do gênero em anos. Os caras foram arrogantes e se deram bem. Quando a equipe finalmente se une pelo bem do universo, é quase uma obra-prima.
Veredito
O Showrunner Steve Blackman criou uma nova série de super-heróis hilária, subversivamente estilosa e surpreendentemente comovente que serve como uma desconstrução engenhosa de uma das minhas histórias em quadrinhos preferidas. É ambicioso, pode durar várias temporadas, apesar de algumas barrigas e alguns personagens de apoio subdesenvolvidos, porém, esta é uma série inegavelmente diferente e inovadora. Simplesmente assistam.
Imagens: Netflix
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