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Crônica – Angra, O Hiato Que Nunca Existiu

No universo do Angra, "férias" é apenas o intervalo entre dois riffs.

Angra
Reprodução

Agosto chegou e, teoricamente, deveria trazer o som mais raro do Angra: o silêncio. Depois de um ciclo insano com Cycles of Pain — turnê mundial, fãs suando camisas em continentes diferentes, guitarras gemendo como se pedissem socorro — o lógico seria imaginar os guerreiros guardando suas armas. O palco apagado, a poeira caindo, os cases fechados. Rafael Bittencourt, o incansável, largando a guitarra e olhando para o horizonte como quem diz: “missão cumprida, por agora”. Fabio Lione, tenor de mil batalhas, finalmente poupando a voz que não é só dele, mas patrimônio mundial do metal. Felipe, Bruno e Marcelo deixando a cozinha rítmica descansar antes que ela ferva demais.

Bonito, não é? Pois é, mas mentira.

Esse tal “hiato” tem toda a consistência de um contrato assinado em guardanapo. A cada pesquisa, vídeo e anúncio que encontrei, a mesma constatação: o Angra não recebeu o memorando das férias. Shows pela América do Sul, datas na Europa, entrevistas com promessas de “próximo passo” no lugar de “descanso”, riffs sendo testados quando deveriam estar testando travesseiros.

A real é que essa banda tem uma alergia quase patológica à quietude. E não é de hoje. Já flertaram com o fim tantas vezes que aprenderam, à força, que o barco só se mantém flutuando se os remos nunca pararem. E assim seguem: um sorriso meio insano, um riff novo no bolso, e zero paciência para “dar um tempo”.

O que existe, no máximo, são micro-hiatos escondidos: o silêncio entre duas notas de Rebirth, a respiração de Fabio antes do refrão de Black Widow’s Web, aquele instante no escuro antes do bis, quando a plateia grita o nome da banda para tapar o vazio. Para eles, esse é o único tipo de pausa tolerável — e, convenhamos, é do tamanho de um suspiro.

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Talvez o “descanso” que sentimos seja mais filosófico. O ciclo criativo de Cycles of Pain acabou, foi tocado, dissecado, aclamado. Página virada. Mas, para o Angra, página em branco não é convite ao ócio; é provocação para começar a rabiscar a próxima saga.

E nós, fãs, entramos no mesmo jogo masoquista: pedimos silêncio, eles respondem com um solo de três minutos. E, no fundo, ainda agradecemos. Porque, cá entre nós, o Angra parado seria como palco sem luz — tecnicamente possível, mas completamente errado.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.