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Entrevista | Marcelo Levy (Editora Todavia)

A Todavia se apresenta como uma “editora de narrativas”. Caçula no mercado editorial brasileiro, nasceu do sonho de uma turma boa e experiente, oriunda da Companhia das Letras; e usando seu know-how no metiê montou em pouco tempo um catálogo com obras de peso e nomes de destaque.

Para ficar em alguns autores, a editora já publicou, entre os brasileiros, Edgard Telles Ribeiro e Cristovão Tezza; entre os estrangeiros, Domenico Starnone e Ricardo Piglia. Sem falar nos quadrinhos, a exemplo dos trabalhos seminais de Jeff Smith e Alison Bechedel.

Acompanhamos seu trabalho ao longo de 2018 (as matérias e resenhas podem ser conferidas aqui) e temos agora o prazer de apresentar a entrevista que conduzimos com Marcelo Levy, diretor comercial da Todavia.

Equipe editorial da Todavia, com Levy à direita.

Falamos um pouco sobre o mercado brasileiro, a crise das grandes livrarias como a Saraiva, expectativas para 2019 e lançamentos para o ano, num papo que você confere abaixo:

5C: Quais as expectativas para o mercado editorial brasileiro em 2019?

Levy: Prevemos um mercado mais “normal” em relação ao ano de 2018, com crescimento moderado de produção e vendas.

5C: Que balanço vocês fazem do ano passado (2018), marcado pela crise financeira e a falência das mega stores, como Saraiva e Cultura?

Levy: Um ano de grandes desafios e conquistas, em que a indústria se viu diante da necessidade de rever algumas práticas, não apenas de distribuição, mas também de produção. Para a Todavia, um ano de consolidação:  livros da editora estão hoje presentes nos principais veículos de comunicação e mídias sociais, são oferecidos por boa parte das livrarias do país e começando a chegar também a bibliotecas.

5C: Quais as medidas de cobrança e fornecimento que a Todavia tomou, haja vista as dívidas elevadas das mega stores com a editora?

Levy: Como fornecedores, não há muito o que possamos fazer quando se chega ao quadro de esgotamento que algumas grandes livrarias chegaram. Livrarias são o principal canal para fazer o livro chegar ao leitor. Por isso, fazemos tudo o que está ao nosso alcance para apoiá-las, sejam elas pequenas ou mega lojas. Esse apoio se dá de diferentes maneiras, sempre resguardado o interesse da editora e sobretudo do leitor.

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5C: Vislumbram um novo modelo de negociação como forma de evitar riscos parecidos?

Levy: Do nosso lado, procuramos ser ainda mais criteriosos na seleção dos títulos que publicamos, na definição das tiragens, na escolha das quantidades que devem ir para cada canal de venda. É claro que gostaríamos de reduzir riscos, porém tanto quanto buscar novos modelos de negociação, é importante achar meios de gerir com cautela e eficiência o modelo, seja ele qual for.

5C: Vocês poderiam adiantar alguns dos títulos ou autores a serem lançados esse ano de 2019?

Levy: Lançaremos 50 novos títulos em 2019. Destaques já lançados: Jinga de Angola; Ricardo e Vânia; Os Amantes. A publicar temos:

Mastodonte: A história da fábrica e a construção do mundo moderno, de Josh B. Freeeman. Por que publicamos: o livro mostra como o surgimento da fábrica mudou tudo para sempre: da economia à expectativa de vda, da maneira como as nossas cidades se organizam à nossa relação com o mundo natural.

Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski. O grande clássico da literatura russa na tradução de Rubens Figueiredo.

Memórias de um repórter, Seymour M. Hersh. As memórias de um dos mais importantes repórteres investigativos dos EUA, que expôs ao mundo a verdadeira face da presença americana na guerra do Vietnã.

Sem esquecer do segundo volume de Bone de Jeff Smith e Eu amo Dick, de Chris Krauss.

5C: Qual o título mais bem-sucedido da editora e como ele reflete o público alcançado pela Todavia?

Levy: Valsa brasileira; Belchior, apenas um rapaz latino-americano e Laços são alguns dos livros que tiveram maior receptividade dos leitores e da crítica. Refletem nossa intenção de trazer uma visão renovada sobre assuntos do nosso tempo, não importa se através da ficção, da reportagem ou da ensaística.

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5C: Embora uma das editoras mais novas no mercado, a Todavia foi fundada por profissionais experientes do meio literário, oriundos de uma das majors no setor. Quais os percalços e desafios já enfrentados que se revelaram inesperados nessa trajetória?

Levy: A turbulência na cadeia de distribuição certamente é um dos maiores percalços. Registre-se, porém, que ela atinge apenas uma parte da rede. O maior desafio – que é de toda indústria – continua sendo conseguir ampliar o universo de leitores e os meios de chegar a eles.

5C: Os planos iniciais de se manter numa escala intermediária do mercado editorial brasileiro estão valendo ou a resposta do público permite sonhos maiores?

Levy: A editora tem um plano estratégico montado para os próximos cinco anos. Estamos muito contentes com a receptividade da comunidade editorial – autores e agentes literários daqui e de fora — que nos permitiu publicar obras como O vendido, de Paul Beatty, vencedor do Man Booker Prize; Karen, de Ana Teresa Pereira, vencedora do Prêmio Oceanos; A tirania do amor, do consagrado Cristóvão Tezza e outras de novas vozes da literatura, como Giovana Madalosso, Carlos Eduardo Pereira e Tiago Ferro. O resultado até aqui, especialmente a resposta calorosa dos leitores, da crítica e da cadeia de distribuição, nos deixa ainda mais confiantes de que estamos no caminho certo.

5C: Em 2018, a Todavia publicou Bone, um quadrinho alternativo elogiado e muito premiado. Qual foi a resposta do público para as vendas de Bone? E a editora investirá mais em quadrinhos?

Levy: Publicar quadrinhos é uma de nossas vocações. Já são seis títulos publicados, entre eles o espetacular Baiacu, projeto coletivo inovador coordenado por Laerte, Angeli e Rafa Coutinho, que reuniu grandes craques do gênero. Bone foi muito bem recebido. Devemos fazer uma reimpressão ainda no primeiro semestre. Nossa programação sempre terá quadrinhos.

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br