Primeira HQ da parceria entre a Marvel e a Riot Games, League of Legends: Ashe – Mãe de Guerra acerta em seu belo trabalho de arte, mesmo com problemas nas cenas de ação, e ao contar uma história que se sustenta sozinha, sem a necessidade de prévio conhecimento do jogo que deu origem ao quadrinho.
A frase já se tornou lugar comum e todo fã de quadrinhos já deve ter ouvido pelo menos uma vez: os videogames estão matando as hqs. Sendo mais interativos e chamando mais atenção dos jovens, os games já alcançaram a condição de arte, como obras como The Last of Us, Red Dead Redemption 02, The Witcher 03, Skyrim, citando apenas obras mais recentes, e vários outros, podem comprovar para quem tiver um controle em mãos e quiser se maravilhar nesses vários mundos.
Jogar videogame evoluiu a tal ponto que campeonatos anuais são realizados com prêmios milionários, ganhando o status até de esporte para muitos. E League of Legends é um desses exemplos. O MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) da Riot Games representa uma modalidade de jogos online, onde vários jogadores interagem ao mesmo tempo, em competições acaloradas.
Para ter ideia da escala do quanto movimento LoL (sigla que os jogadores se referem a League of Legends) o prêmio do campeonato de 2018 foi de US$ 2,4 milhões, algo em torno de R$ 9,2 milhões, e foi assistida por 99,6 milhões de pessoas. O campeonato de 2019 vai ocorrer esse ano em novembro na cidade de Paris.
Os números são de encher os olhos. Então, expandir a obra para outras mídias, como cinema e animações, é um movimento óbvio, haja vista a enorme base de fãs. É daí que nasce a parceria da Riot Games, dona de LoL, e a Marvel Comics. No final de 2018, as duas produtoras lançaram League of Legends: Ashe – Mãe de Guerra em 04 edições singulares, a cargo do roteirista da própria Riot Odin Austin Shafer, que aqui faz sua estréia nas HQs, e da promissora desenhista Nina Vakueva.
Que fique bem claro o seguinte, quem está escrevendo essa resenha nunca jogou LoL, pois o que me chama atenção ainda são os jogos single player, onde se joga sozinho. Ou seja, não conheço a mitologia do game, seus personagens, suas regiões e o seu vasto arsenal. O objetivo ao ler essa obra e analisá-la é saber se League of Legends: Ashe – Mãe de Guerra funciona como quadrinho.
E, para a sorte dos leitores, sim, Shafer acertou ao contar sua história de uma forma que os não iniciados no game possam acompanhar a saga de Ashe nas terras geladas de Freljord.
Como dito, não sei se Ashe é uma personagem jogável em LoL. O que me interessa é se sua história será bem contada aqui nesse quadrinho.
Na primeira parte da trama, que são capítulos 01 e 02, somos apresentados à personagem principal Ashe, às tribos de Freljord, a relação matriarcal dessas sociedades, a figura dos glacinatas (seres que dominam a manipulação de gelo e tem uma resistência maior ao frio) e a busca sem medir esforços de Grena, mãe de Ashe, para descobrir um antigo mito.
A história funciona, já que está focada em uma linha narrativa e não em sobrecarregar o leitor com várias informações ao mesmo tempo e, para quem se sentir perdido, pode ver os vários termos usados no glossário ao final da edição da Panini.
Porém, nem tudo corre tão bem na saga de Ashe, porque há muito para ser contado em um espaço tão pequeno de páginas. A relação dos personagens são boas, com exceção de algumas motivações rasteiras, em muito devido à pressa em fechar a história, como as decisões e intenções de Maalcrolm e a facção que faz parte. Tudo é muito corrido, apesar das boas interações entre os personagens.
Porém, se o desfecho da primeira parte é corrido e as intenções mostradas não convencem como deveriam, quando Ashe encontra a selvagem Sejuani e sua tribo, a personagem secundária dá um novo gás à história, roubando praticamente o protagonismo, com seus atos cruéis e suas decisões impiedosas. Infelizmente, novamente, essa segunda parte, que são os capítulos 03 e 04, acaba de forma muito rápida, mas prometendo mais para o futuro, se já não foi mostrada nos games, o que seria um banho de água fria nos leitores.
Na arte, Nina Vakueva entrega um bom trabalho. Com seus traços finos e que lembra em muito os mangás, os desenhos estão caprichados, apesar da artista ainda falhar muito na transição das sequência dos quadros. O leitor pode ficar perdido em alguns momentos, em especial na parte 01 e 02 dessa edição nas cenas de ação. Mas nada que atrapalhe a leitura e os belos desenhos, que contam com uma excelente colorização da própria Vakueva e de Chris Blythe, que reforça região gelada e implacável de Freljord.
O trabalho editorial da Panini está caprichado em League of Legends: Ashe – Mãe de Guerra, apesar do preço salgado de R$ 49,90. Contando com as 04 edições americanas lançadas recentemente, a edição conta com as capas originais de Yasmini Putri, um mapa de Runeterra (mundo de Lol), glossário, design de personagens, roteiro e artes originais, um introdução e o conto Silêncio para os amaldiçoados de Shafer, que deu origem à história desse encadernado de capa dura.
Porém, a editora não colocou no encadernado as datas dos lançamentos nos EUA das edições originais.
Contando com um roteiro que não cai na maldição das adaptações de jogos, já que o principal aqui é a história a ser contada, League of Legends: Ashe – Mãe de Guerra funciona muito bem como quadrinho, com seus personagens e elementos sendo bem apresentados, por mais que o texto corra em muitos momentos, suprimindo muito o desenvolvimento de alguns personagens e terminando tudo de forma abrupta. É uma boa estréia para o roteirista iniciante Odin Austen Shafer, auxiliado pela bela arte de Nina Vakueva, que precisa melhorar suas cenas de ação, já que seus desenhos são muito bons. Tudo isso é uma oportunidade perfeita para trazer os milhões de jogadores de League of Legends para uma boa leitura de quadrinhos, em um bom encadernado, mas caro, da Panini.
Ficha Técnica
- Capa dura, com 144 páginas
- Editora Panini
- Lançamento em julho de 2019
- Preço de capa: R$ 49,90
- Tamanho: 17 x 26 cm
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