O primeiro longa de Glauber Rocha, realizado em 1962. A princípio, o filme era para ser dirigido pelo cineasta baiano, amigo de Glauber, Luiz Paulino dos Santos. Glauber percebeu depois, no início das filmagens, que Luiz Paulino queria apenas namorar uma garota envolvida nas filmagens; demitiu-o e tomou as rédeas do filme, que estava sendo realizado na praia de Buraquinho, perto de Salvador.
Sob o comando de Glauber, Barravento é um dos maiores registros históricos da cultura negra no litoral baiano, onde o espectador se dá conta das diversas manifestações religiosas do Brasil negro, incluindo danças, batuques, rituais e cantorias de extrema beleza. Um lindíssimo filme em preto & branco que tem como um momento especial a lindeza monumental da atriz Luíza Maranhão, negra e nua correndo pela praia. Mas não fica só nisso.
Todos sabemos do comprometimento filosófico (mais que ideológico) de Glauber Rocha com o materialismo histórico, que é tão-somente um método de análise da história humana criado por Marx & Engels baseado nas relações de produção e trabalho – instrumento de conhecimento que não foi superado até hoje por um método melhor, embora a turma da direita que está no poder (no momento) no Brasil reduza-o ao costumeiro nome de “comunismo”, cujos postulantes e defensores (os “de esquerda”) têm o costume simplório de comer criancinhas.
Glauber é sutil. No meio de todas essas possibilidades fílmicas, o cineasta baiano introduz o conflito de classe, encarnado na pessoa do ator Antônio Pitanga, que faz o papel do negro revolucionário e liberto, Firmino, que larga suas origens naquela praia, vai para a capital Salvador onde se politiza, volta e estabelece o conflito de interesses das dezenas de pescadores de xaréu daquela comunidade, que passam a cobrar maior participação dos ganhos junto ao dono da rede de pesca que os explora todos os dias sem piedade.
Vi Barravento na Escola Parque, em Brasília, nos anos ’70, numa daquelas fabulosas mostras de cinema promovidas pelo inesquecível professor Rogério, do Departamento de Desenho da UnB. O filme é uma ruptura que anunciava o gênio indomável de Glauber – e eu o considero melhor do que o clássico Terra em Transe que Glauber fez logo depois. Consagrando-se, na época, como um dos maiores cineastas do mundo. Veja o filme completo:
A morte prematura de Glauber Rocha nunca comprometeu o seu desempenho visceral na cultura brasileira. Louco, visionário, gênio, “Monsieur Rochá” fez-se um marco definitivo no cinema nacional e do mundo, portanto, merece ser o orgulho de todos os brasileiros. Dá um close na cara dele!
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