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Resenha: The Boys – O Nome do Jogo (Garth Ennis e Darick Robertson)

HQ ultra violenta e cheia de humor negro de Ennis e Robertson faz críticas pesadas ao universo dos super-heróis

 

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Imagine um encadernado que tivesse o subtítulo “Tocando um Puteiro!”. É esse o nível do trabalho que os personagens de The Boys têm que fazer. A série é uma criação do irlandês Garth Ennis, conhecido por escrever Preacher e Justiceiro, e de Darick Robertson, parceiro de Ennis em histórias como Fury, Nascido para Matar e passagens no título do Justiceiro.

Na trama acompanhamos o Billy Carniceiro e sua equipe patrocinada pela CIA lidando com um planeta onde os super seres são totalmente irresponsáveis, inconsequentes, paparicados pela mídia e egoístas. Basicamente a visão de Ennis sobre super-heróis, abusando de um humor negro extremamente ácido, muitas cenas de sexo e violência gratuita, outra marca do escritor.

Nesse primeiro volume (que não tem estampado na capa “Tocando um Puteiro!”, infelizmente), chamado o Nome do Jogo, acompanhamos a formação da equipe The Boys. Billy Carniceiro, Hughie Mijão, Leite Materno, o Francês e a Fêmea são agentes extremamente violentos que devem por na linha os heróis mimados desse mundo, nem que seja na base da porrada e da chantagem.

O título foi lançado originalmente pela DC Comics, sob o selo Wildstorm, porém, devido à alta carga de violência e crítica aos heróis, em especial os da própria DC, a editora só publicou as 06 primeiras edições, cabendo à Dynamite Entertaiment publicar o restante da obra, que se encerrou em 72 edições americanas.

O volume 01 publicado no Brasil pela Devir compila as 06 primeiras edições do título, devendo destacar que essa publicação começou em 2010, tendo a editora brasileira publicada esse volume 01 em abril de 2010, o 02º em março de 2012, o 03º em abril de 2013, o 04º em agosto de 2014 e o quinto e o sexto volume só no final de 2017, tendo a promessa de que o sétimo volume da saga sairá no primeiro semestre de 2018. Percebe-se que a publicação pela Devir de The Boys é bastante inconstante, Porém, com o objetivo de terminar a publicação no Brasil, a editora pôs no mercado republicações dos volumes anteriores. Dessa forma, caso o leitor queira conhecer mais dessa obra satírica de Garth Ennis, todos os volumes são facilmente encontrados para a venda.

Apesar de ter sido publicado pela Devir em um formato intermediário, não tendo o tamanho de uma edição americana, mas sendo maior do que o formatinho que chegava em bancas antigamente, o volume brasileiro conta com todas as capas originais, texto de introdução de Simon Pegg e esboços originais comentados de Darick Robertson. Não é um formato que os leitores brasileiros caiam de amores, mas não é um daqueles volumes em capa dura que abundam no mercado, sendo esse formato adotado pela Devir uma edição perfeita para uma rápida leitura, sem precisar encostar a edição em uma superfície para fazer a leitura, diferente dos pesados albuns de capa dura recente.

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Abrindo o volume com uma promessa bem singela de Billy Carniceiro ao olhar para super-heróis voando (“Vou foder vocês. Putos”), o Nome do Jogo é divido em dois arcos, sendo o primeiro (Tocando o Puteiro) mostrando Billy reunindo a equipe, dessa vez com um novo integrante, Hughie Mijão; e a segunda parte (Adeus à inocência) focando em apresentar mais dos seres poderosos, suas perversões e taras descontroladas, além claro de que nessa segunda parte a equipe The Boys já coloque alguns desses mimados na linha.

Cabe destacar que Hughie Mijão é a personificação do ator e comediante inglês Simon Pegg, que participou da nova trilogia de Star Trek e atuou em Todo Mundo Quase Morto. É ele o centro emocional desse primeiro volume. Após ter sua namorada esmagada devido à inconsequência de um super-herói, Hughie recebe a proposta de Billy Carniceiro para ingressar na equipe. Porém, apesar da desculpa de Billy de que precisa de alguém que tenha sofrido na pele atos de inconsequência de super poderosos, o personagem de Hughie não é explorado além disso, não mostrando motivos mais profundos do porquê ele ser merecedor de participar da equipe.

 

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Esse é o mal que afeta essa primeira parte de The Boys. Os personagens principais da trama mal são explorados em suas motivações, como se para mostrar cenas de violência e sexo Ennis tivesse que correr com o roteiro. E alguns personagens são figurinhas batidas para quem conhece a escrita do irlandês. Não se engane, Billy Carniceiro nada mais é que uma versão do Justiceiro/Nick Fury/Jesse Custer já trabalhado pelo escritor, só que o novo personagem agora conta com um senso de humor cínico. Incrivelmente, os heróis que Ennis satiriza são mais explorados do que a equipe The Boys. A história de Estelar ingressando nos Sete (versão da Liga da Justiça) e as baixarias promovidas pela Tropa Terror (uma versão pervertida dos Titãs, também, da DC) mostram muito mais sobre quem são esses personagens do que as 06 edições todas do encarnado mostram as motivações de Leite Materno, o Francês e a Fêmea, por exemplo.

Porém, se Ennis falha no primeiro momento em desenvolver seus personagens, os diálogos e as situações que geram humor negro são o ponto alto da história. É bom deixar claro que o humor do escritor não é feito para todos os leitores. É um humor cínico, cruel, com muita violência e sangue. Nada de novo para quem conhece o trabalho dele em Preacher.

 

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Mas é incrível como Ennis nos pega de surpresa quando resolve escrever algo mais sério e emocional. O encontro entre Hughie e Estelar no Central Park de Nova York mostra bem dois personagens quebrados, que estão em um momento de passagem, tendo que abrir mão de muitas coisas em prol daquilo que desejam. É um momento mais eficiente para conquistar o leitor do que  as cenas gratuitas da Fêmea arrancando o rosto de alguém.

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Na arte, poucos desenhistas encaixam tão bem com a proposta de humor sacana de Ennis. Além do falecido Steve Dillon (1962-2016), um desses desenhista é Darick Robertson. Antigo colaborador de Ennis, o desenhista é a escolha acertada para tocar esse puteiro com o irlandês. Seus momentos de violência desenfreada e as expressões faciais dos personagens passam eficientemente a impressão cínica que esse universo precisa. Nesse ponto, arte e roteiro são um só, tudo em prol da trama.

Contando com um universo rico a ser explorado e com uma arte que faz jus à proposta do quadrinho, The Boys – O Nome do Jogo, com seus diálogos cheios de humor ácido e situações de explodir cabeças (literalmente), faz com que o leitor se sinta impelido a continuar com a leitura pelos próximos volumes (mesmo que seja por pura tara em violência), apesar do pouco desenvolvimento dos personagens títulos dessa obra. The Boys é apenas mais um título de Garth Ennis sacaneando os super-heróis, mas, se o leitor já o conheço, sabe que daqui sairão situações que valerão a pena, nem que seja para rir do humor ácido do escritor.

Nota:
Roteiro: 06/10. O pouco desenvolvimento dos personagens principais e o enfoque nas situações de violência e humor negro travam a primeira parte de The Boys. Mas os bons diálogos e a trama fazem o leitor voltar para conferir um segundo volume.

Arte: 08/10. A arte de Darick Robertson casa perfeitamente com o trabalho de Ennis. As cenas de violências e as expressões faciais dos personagens são o destaque desse volume.

Narrativa: 08/10. Quando roteiro e desenhos estão funcionando em perfeita comunhão, nem que seja para focar nas cenas de violência e depravação, a narrativa se torna prazerosa, fazendo o leitor até esquecer do pouco desenvolvimento dos personagens principais. É uma trama que instiga o leitor a voltar para mais (mas só se ele gostar de um humor extremamente ácido, marca de Ennis)

Acabamento da edição nacional: 7/10. Edição nacional com extras na medida certa (editorial, introdução de Simon Pegg, capas originais, papel de luxo e esboços da obra), tornando a leitura de The Boys agradável, apesar do formato em tamanho médio, bem diferente do formato americano que os lançamentos brasileiros adotaram, podendo assim afastar alguns leitores.
Nota Final: 7.25/10.

 

 

Ficha Técnica:
Capa comum: 152 páginas
Editora: Devir; 1ª edição em abril de 2010. 2ª edição em fevereiro de 2015
Dimensões do produto: 23,8 x 16,2 x 0,8 cm

 

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.