Pat Hobby já foi considerado, erroneamente, alter ego de F. Scott Fitzgerald. Ambos tiveram, como roteiristas em Hollywood, uma relação conflituosa com a indústria do cinema. Compartilhavam também uma queda pelo álcool e pelas mulheres.
Mas as semelhanças terminam aí. Protagonista dos últimos contos produzidos por Fitzgerald, Hobby é um personagem igualmente cômico e melancólico. Seus dias de glória ficaram para trás, no tempo do cinema mudo, que ele relembra com nostalgia enquanto tenta arrumar bicos para pagar suas dívidas. Ele bajula produtores, flerta com secretárias, junta trocados para apostar em corridas de cavalos, na vã tentativa de sobreviver numa indústria que o rejeita como uma peça obsoleta e inconveniente.
Com tradução e apresentação de José Geraldo Couto, estas dezessete histórias foram publicadas originalmente na revista Esquire entre janeiro de 1940 e maio de 1941. Nelas, Hobby vive as mais diversas aventuras, ou antes, desventuras. Num dos contos, se passa por guia turístico para levar um casal de caipiras endinheirados às mansões das grandes estrelas. Em outro, tenta chantagear um grande produtor em função de um crime ocorrido há décadas. Em “Pat Hobby, pai putativo”, descobre que tem um filho biológico, rico herdeiro de um rajá indiano.
Com humor e leveza, Fitzgerald comprova aqui seu talento para criar a atmosfera de uma época e um local privilegiados e, sobretudo, sua sensibilidade para expressar as várias nuances do fracasso humano. A publicação conta com 176 páginas e preço sugerido R$ 49,90 pela editora Todavia com belo projeto gráfico de Flávia Castanheira, evocando os cartazes de Hollywood à época em que as histórias são ambientadas.
Francis Scott Key Fitzgerald (1896-1940) estreou na literatura em 1920 com o romance “Este lado do paraíso” e publicou, entre outros, “O grande Gatsby”, “Suave é a noite” e “All The Sad Young Men”. Postumamente foram publicados o romance inacabado “O último magnata” e “The Crack-up”, uma seleção de ensaios, notas e cartas editada por Edmund Wilson. Os problemas com o alcoolismo e a degeneração mental de Zelda, sua mulher, mais tarde o afastariam da literatura. Estava quase esquecido, trabalhando em Hollywood, quando sofreu um ataque cardíaco fatal em casa, em Los Angeles.
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