De quebra-cabeças psicológicos e narrativas desconcertantes, esses são os melhores filmes de mistério e suspense que você pode assistir na Netflix no momento.
Eu nunca imaginei falar isso, mas estamos vivendo um dos piores momentos da história humana. A boa notícia é que – mesmo enquanto esperamos para ver se o mundo pode encontrar uma maneira de se manter unido – também estamos vivendo um tempo que permite intermináveis distrações e entretenimentos para manter até os nossos mais tolos medos à distância.
Como historicamente tem sido o caso, os filmes são o ponto zero para muitos em busca algo que melhore a alma assombrada. Hoje em dia, mais do que nunca, isso inclui relaxar em casa e desfrutar de algumas horas de insanidade cultural. Embora aparentemente não haja fim para os tesouros cinematográficos que se pode descobrir, já que estamos vivendo a era do streaming, não podemos deixar de sentir que essa incerteza torna o momento melhor do que nunca para mergulhar em um bom filme de mistério e suspense. E a boa notícia é que existem muitos mistérios implorando para serem descobertos na Netflix.
De quebra-cabeças psicológicos e narrativas desconcertantes, esses são os melhores filmes de mistério e suspense que você pode assistir na Netflix no momento.
The Discovery
A mortalidade é uma condição que nos aflige desde quando nos entendemos por espécie. Datam-se de dezenas de milênios atrás os primeiros rituais funerários registrados e a narrativa escrita mais antiga da História que se tem notícia remete à epopeia de Gilgamesh, de aproximadamente 5000 a.c, sobre um imperador que busca a imortalidade mas defronta-se com a negativa dos deuses que lhe avisam da morte como condição natural e inevitável de se ser humano. Seguindo a linha desta temática que nos é tão cara, que gerou religiões e civilizações, “The Discovery” é um filme que trata da possibilidade de vida após se morrer. Assunto poderoso, complexo e conflituoso; e que por isto mesmo, ao ser tratado, merece a devida grandiosidade – coisa que a produção original da Netflix não faz.
Em elenco estrelado, com Jason Segel (“How I Met your Mother”), Rooney Mara (“Millenium”, “A Rede Social”) e Robert Redford, a história acompanha o neurologista Will (Jason Segel) em um mundo em que foi descoberto cientificamente que existe “algo” após a morte, apesar de não se saber exatamente o quê; descoberta responsável por uma onda de suicídios por todos os lugares. Na jornada, Will conhece Isla (Rooney Mara) ao ir em direção a sua ilha natal, onde vai visitar seu pai, Dr. Thomas Harbor (Robert Redford), o responsável por descobrir o novo “plano de existência” pós-“morte”. (Leia mais sobre o filme aqui).
Ao Cair da Noite
O filme narra a história de Paul (Joel Edgerton), que lida com uma ameaça não identificada que aterroriza o mundo. Seguro em um lar isolado, ao lado de sua esposa Sarah (Carmen Ejogo) e o filho Travis (Kelvin Harrison Jr), Paul vive medo, dor e paranoia em meio a recursos escassos para sobreviver no dia a dia. Quando o jovem casal Will (Christopher Abbott) e Kim (Riley Keough) e seu filho pequeno são acolhidos pela família, cresce o sentimento de pânico e desconfiança, ao mesmo tempo em que os horrores do mundo exterior parecem cada vez mais próximos. Mas isso não se compara aos horrores dentro da casa, onde Paul descobre que proteger sua família pode custar até a sua própria alma. (Leia mais sobre o filme aqui).
Freaks
O filme traz a jovem Lexy Kolker no papel de Chloe, que vive com seu pai, Henry (Emile Hirsch, finalmente num bom papel em uma produção de nível), em uma casa escura e empoeirada. A questão é que seu pai insiste que ela não pode sair de casa, em nenhum momento, sob nenhuma circunstância. E porquê ela não pode sair? No início não fica muito claro, nem para o espectador e nem mesmo para Chloe, mas Henry é categórico ao afirmar que sair da casa pode significar suas mortes.
A intimidade claustrofóbica da primeira porção do filme é forte. Em poucos minutos já fica abundantemente claro que a garota Kolker é um verdadeiro achado, e que ela é a âncora da produção. Seus diálogos com Hirsch são impecáveis e possibilitam que o público tenha uma crescente curiosidade sobre o misterioso relacionamento entre os dois. Num minuto, Henry é um pai amável e carinhoso, no minuto seguinte, está trancando sua preciosa garotinha no armário, supostamente para sua própria segurança. Mas seria esta realmente a verdade ou há algo ainda mais sinistro que Henry está escondendo? (Leia mais sobre o filme aqui).
Todos Já Sabem
Todos Já Sabem, primeiro filme do diretor e roteirista iraniano Asghar Farhadi falado na língua espanhola, com produção de Pedro Almodóvar e um enorme elenco encabeçado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín.
Em uma chave de thriller mais intensa que de seus longas anteriores, que ainda possuíam elementos de mistério em meio a um drama naturalista e cheio de camadas, Farhadi cria aqui um “whodunit” à sua maneira e dá início a Todos Já Sabem de forma notável. A introdução, que apresenta mais de uma dezena de personagens que se reúnem em uma cidadezinha para comemorar o casamento de um familiar, trata a todos como pessoas de interesse em um mistério que se revelará apenas posteriormente. A montagem recorre frequentemente a ângulos que representam o ponto de vista das personagens, incluindo até mesmo um drone, criando um efeito desorientador. (Leia mais sobre o filme aqui).
Wheelman
Sempre tem algo acontecendo em Wheelman, o que torna a experiência magnética – ainda que demasiadamente rápida, mais parecendo o episódio de uma série do que um longa. O que, no fim, conta a seu favor. É um plot interessante e divertido por sua ambientação, mas seria cansativo caso se estendesse demais. O clímax, aliás, é intenso e, tecnicamente, um dos momentos mais chamativos do projeto, pontuando com elegância a narrativa. Pode não ser, num todo, memorável, mas é um bate e volta carismático o suficiente para deixar o espectador apertadinho no banco do carona por pouco mais de uma hora. (Leia mais sobre o filme aqui).
February
February (ou The Blackcoat’s Daughter) é escrito e dirigido por Osgood Perkins que é simplesmente filho de Anthony Perkins. Isso mesmo! O eternizado Norman Bates de Psicose (1960). Oz, como é creditado, se mostra muito seguro em sua estreia na direção, optando por uma narrativa que, além de extremamente lenta e minimalista, vai contra o estilo do cinema de horror mainstream atual.
O roteiro, também escrito pelo próprio Oz, é bem sutil e daqueles que conforme o filme avança, tudo vai se configurando um puta quebra-cabeça cabuloso pra montar. Não há apelação com sustos gratuitos aqui. Tudo se sustenta pelo clima tenso e depressivo das personagens, nas quais, tudo gira em torno. Neste aspecto, o longa lembra o ótimo filme vampiresco sueco Deixe Ela Entrar (Låt den rätte komma in, 2008), inclusive por suas paisagens gélidas e desoladoras. (Leia mais sobre o filme aqui).
Noite de Lobos
Baseado no livro Hold the Dark de William Giraldi, a adaptação cinematográfica conta a história do naturalista especialista no estudo de lobos, mas agora aposentado e escritor Russell Core que recebe uma carta de ajuda escrita por Medora Sloane, mãe que teve seu filho possivelmente morto por lobos, assim como outras três crianças da região. Agora, Russell Core terá que rastrear os animais nas montanhas do Alaska, e vingar em nome da mãe do garoto.
Curiosa é a semelhança entre Noite de Lobos e o ótimo Terra Selvagem, faroeste metade contemporâneo, metade revisionista do diretor Taylor Sheridan. Em ambos, temos protagonistas rastreando tipos de predadores, no caso do filme de Sheridan tratam-se de predadores sexuais, e no filme original Netflix são do tipo natural de espécie.
O excepcional trabalho de Jeremy Saulnier pode ser visto e sentido em cada um dos aspectos técnicos do filme. Saindo do suspense básico e desaguando no terror, assim como seu filme anterior Green Room. Tais predicados já dão as caras no roteiro, que vagueia pelo especulativo e incerto, e se afasta das exposições comuns e falas explicativas. O roteirista e ator Macon Blair compreendeu um dos princípios essenciais, seja para texto ou audiovisual, que é saber que personagem é ação, e vice-versa. A manutenção de certos pontos expositivos abre o leque de opções para o diretor trabalhar diferentes caminhos narrativos, e ajuda especialmente na parte de construção das personagens entre cineasta e atores, em resumo, as vezes menos é mais. (Leia mais sobre o filme aqui).
Sobre Meninos e Lobos
Como diz a mais sábia de todas as leis do nosso mundo, a lei de Murphy, “quando uma coisa tem de dar errado, ela dará”. E é exatamente isso que acontece com os protagonistas de Sobre meninos e lobos (Mystic River, 2003). Sean (Kevin Bacon), Dave (Tim Robbins) e Jimmy (Sean Penn) são três meninos que moram na periferia de Boston e bem cedo acabam descobrindo que o mundo não é um lugar muito bom para se crescer.
Tudo aconteceu muito rápido. Em um minuto eles estavam brincando, no instante seguinte Dave estava dentro do carro, sendo levado por um policial e um padre. Este foi o início do fim de suas vidas.
Nos vinte e cinco anos seguintes, cada um foi para um lado, sem nunca se afastar muito do bairro. Dave não cuidou de seus demônios interiores e até hoje eles o perturbam. Jimmy, já foi preso e, entre outras coisas, tem um mercadinho no bairro em que cresceram. Sean virou um policial e está encarregado de investigar a morte de Katie, filha mais velha de Jimmy. Com este empurrão (ou deveríamos dizer rasteira?) do destino, o caminho dos três volta a se cruzar e é visível que não há saudosismo entre eles.
O Espião que Sabia Demais
O que nos impede de nos matarmos? Seria disciplina, um senso de preservação, um código social, um medo específico? Em Deixa Ela Entrar, fazer o mal é uma tentação sempre presente, estimulada pelo poder de destruir. Para o diretor sueco Tomas Alfredson, o mundo opera numa sucessão de violências a serem contidas – a questão é entender como contê-las.
Muito oportuno, O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy), trata da principal sinuca-de-bico que a humanidade enfrentou nessa ânsia de se matar: a Guerra Fria. É um filme tão moral quanto Deixa Ela Entrar, e que também passa por pequenos dramas domésticos, mas numa escala obviamente muito maior.
A trama se ambienta no início dos anos 1970, quando o Serviço de Inteligência do Reino Unido já se encontra alienado do conflito cerebral entre a CIA e a KGB, embora continue no meio do fogo cruzado. Seria uma posição só melancólica se não fosse perigosa; para todos os efeitos, àquela altura todo espião britânico sabia demais, e livrar-se de um ou outro não faria tanta diferença.
George Smiley (Gary Oldman) é um deles. Integrante do Circus, a divisão de elite do serviço secreto, Smiley é dispensado quando uma operação desastrosa em Budapeste custa o cargo de seu chefe, conhecido pelo codinome Control (John Hurt). O ex-espião então faz o que se esperaria de qualquer empregado público aposentado: vai pra casa. O descanso não dura muito, porém. Suspeita-se que um dos quatro remanescentes do Circus seja um homem duplo, infiltrado pelos soviéticos, e o governo convoca o veterano Smiley para descobrir quem. (Leia mais sobre o filme aqui).
Este artigo foi escrito baseado na lista do site looper, mas com seus respectivos textos originais escrito por críticos brasileiros.
Essa lista testou todos os filmes, todos estão disponíveis na Netflix. Se caso não encontre, a culpa já não é minha. A Netflix tira filme do seu catálogo todo santo dia.
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