Texto da Cynthia Osório.
“Não me abandone jamais” além de um trecho chiclete da música dos Paralamas do sucesso (dsclp n pude evitar😂🙈) é um filme adaptado do romance de mesmo título, e é dele, o romance, que “to fazendo arrudeio” pra começar a falar porque não sei fazer resenha. Mas vamos lá. Minhas impressões.
Kathy H. narra suas memórias de infância adolescência e recente passado da vida adulta, boa parte vividas num internato inglês, Hailsham. Os acontecimentos aparentemente triviais, que a narradora-personagem conta, vão ganhando relevância aos poucos, é como o leitor vai entendendo do que realmente se trata a história. Sim, a narrativa nos “engana” de início, não há grandes reviravoltas, mas há pequenas surpresas que aparecem conforme a memória da Kathy H. permite.
O autor, que eu não conhecia, traz essas memórias de um jeito vago, impreciso, como de fato é nossa memória, que, às vezes, se confunde com sonhos e desejos. Achei hábil e sensível a sua precisão na imprecisão. Kazuo Ishiguro (o autor), é japonês, foi viver na Inglaterra ainda criança, ganhou premio Nobel de literatura em 2017. Vou me manter na distância segura de falar apenas isso sobre ele.
Então, kathy H. está com 31 anos, é cuidadora há mais de 11, prepara-se para ser doadora e enquanto isso reencontra-se com sua própria vida. Mas cuidadora de quê? De quem? Doadora pra quê, pra quem, de quê? “Que porra é essa?”Essa pergunta a gente se faz logo de início e é ela que nos leva até o final do livro. É difícil dar esta resposta sem estragar as surpresas da narrativa, rica em detalhes sensoriais e emocionais. Junto com kathy H., em suas memórias, aparecem principalmente Tommy e Ruth. Além deles, outros colegas de internato e os ” guardiões”, uma espécie de tutores do internato. Os alunos têm nome, o sobrenome é escrito apenas com a letra inicial, é um boa alegoria que o autor usa e que indica a desumanidade que os cerca.
É uma história triste. Contada com alegria e saudosismo sereno, porque a personagem tem esse temperamento. Ambientado num contexto de pós-segunda guerra mundial (da década de 70 à de 90), onde os avanços das ciências médicas e a preservação da vida após o caos eram anseios, “Não me abandone jamais” é sobre morte e vida, principalmente sobre o percurso entre uma e outra. A realidade no internato, e depois de lá, é limitada o que traz certa ingenuidade às personagens e ao mesmo tempo torna, no olhar deles, o trivial fundamental (por exemplo, a música que Kathy costumava ouvir “never let me go”, título original do livro). O olhar deles para o mundo e para si, através de Kathy, nos faz refletir sobre o que temos, sobre certezas e incertezas. O que me prende à leitura: a reflexão e a curiosidade a respeito da natureza das sensações e sentimentos de kathy H. numa circunstância distópica. É fácil se identificar porque sentir é humano. É uma boa viagem com kathy H. ao volante. Atentai bem ao percurso mais que ao final da viagem.
P.s. Ah, vi o filme depois, mas dá pra ler legal, mesmo tendo visto antes, porque apesar do roteiro parecer muito com o que a gente tende a fazer na cabeça enquanto lê, a riqueza de detalhes na leitura traduz muuuuuuito melhor a viagem. O filme é bom, emocionante, O livro é ótimo, mais real e mais dolorido também.
Está ótimo pessoal parou.
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