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Crítica | The Batman

The Batman de Matt Reeves é aterrorizante de bom, esta resenha crítica não contém spoilers.

The Batman
Warner Bros. DC

The Batman de Matt Reeves é aterrorizante de bom, esta resenha crítica não contém spoilers.

Você já havia assistido ou lido que o Batman é um herói sem medo. Mas você nunca viu Robert Pattinson transformado no Batman e se entregar tão bem assim.

The Batman de Matt Reeves é quase uma ópera. Uma peça teatral fervente e repleta de uma atmosfera noir esfumaçada. Além disso, o filme é repleto de contradições em muitos aspectos: o amálgama ideal do Batman e seus mais de 80 anos de história; é um filme sobre sua vingança sombria ambientado numa Gotham cheia de referências até da era Adam West.

De outras maneiras, é subversivo, foge um pouco da noção popular como as pessoas enxergam o Cavaleiro das Trevas. Bruce usa maquiagem nos olhos, tem o físico mais magro que já vimos do personagem até aqui, além de ser um fracasso em conviver socialmente com as pessoas. A todo momento percebemos pelo seu olhar o quanto ele facilmente viraria a chave e se tornaria um sociopata calculista cuja riqueza não pode comprar as respostas para seus problemas. E é a primeira vez que Batman se sente perigoso.

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Robert Pattinson como Bruce Wayne (Warner Bros./DC)

The Batman será outro divisor de águas, com sua visão única de um herói icônico que é mais um vigilante selvagem do que um cruzado procurando por justiça.

The Batman se passa em seu próprio universo. Desde o início, Matt Reeves foi contra deixar easter eggs que expandem o que criou para outros filmes da DC. Neste cânone, “The Batman” é quase uma entidade conhecida com capacidades desconhecidas. Ele se tornou uma lenda urbana nos últimos dois anos em Gotham. Quando seu sinal está no céu, os criminosos estremecem de medo e fogem de cantos e becos escuros por causa da fúria do vigilante. “Eu não posso estar em todos os lugares…Mas eu sou as Sombras… e o medo é extremamente eficaz”, narra Pattinson no papel de Bruce Wayne/Batman nos primeiros cinco minutos de filme. 

Mas Bruce Wayne suspeita que seus esforços pouco fizeram para tirar Gotham City de sua apatia. O que é pior, ele não tem a confiança dos cidadãos da cidade que tanto defende. Até mesmo a polícia desconfia dele. O desespero de Batman de que seu trabalho foi em vão é comprovado por uma série de assassinatos de celebridades políticas de Gotham, cometidos pelo enigmático cérebro de O Charada (Paul Dano)  – cujos olhos brilham intensidade animalescos por trás de óculos translúcidos e cuja primeira aparição é uma das introduções mais assustadoras da história de um filme de super-heróis.

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Juntando-se a Pattinson e Dano está Jeffrey Wright como Jim Gordon, um tenente do Departamento de Polícia de Gotham que arrisca seu distintivo trabalhando com Batman. Na maquiagem, um irreconhecível Colin Farrell interpreta o Pinguim, dono de um clube de mafiosos e além de ser o centro da corrupção de Gotham, enquanto John Turturro é o mafioso Carmine Falcone. Andy Serkis é o Alfred muito paternal, e Zoë Kravitz é fascinante como Selina Kyle/Mulher-Gato.

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Warner Bros. DC

É fácil criticar The Batman à primeira vista. Trinta e cinco anos após o seminal O Cavaleiro das Trevas Ressurge de Frank Miller, 17 anos após Batman Begins de Christopher Nolan e seis anos após Batman vs Superman, enquadrar The Batman através do filtro corajoso dificilmente é engenhoso. Além disso, as óbvias inspirações de quadrinhos do Batman, de O Longo Dia das Bruxas a Silêncio, até os contos recentes de Scott Snyder e Tom King, todos se conectam ao mesmo mesmo tema: O lado Sombrio do herói.

Olhando assim, a gente entende porque Robert Pattinson foi escolhido por Matt Reeves para o vigilante de Gotham. Ele quis contar uma história do Batman pelos detalhes.

A visão de Gotham City de Reeves é texturizada, a história se desenrola em apenas alguns locais, o que dá ao Batman uma sensação incomum de contenção. É um lugar encharcado por causa da chuva, como se a própria natureza quisesse lavar a sujeira. Aqui, a cidade mais famosa dos quadrinhos fica entre a elegante Chicago de Nolan e o cemitério gótico de Tim Burton. O próprio inferno.

Em The Batman, Gotham City apesar de ser o inferno, ainda não é o purgatório. É um maldito lugar cheio de corpos, ambições e corrupção por todos os lados. 

O filme de Reeves é NOIR de ponta a ponta;  intercalado com narração e, pela primeira vez, temos um Batman fazendo um trabalho de detetive real, não simplesmente sentado atrás de um PC ultra moderno. Mas o que dá ao Batman um ar de perigo é o quão excêntrico ele é. 

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Em desafio aos Batmans anteriores, que transformaram o estilo de vida playboy de Bruce Wayne em uma fantasia masculina aspiracional, Pattinson interpreta um homem rude com diversos problemas emocionais e sociais. Este Batman não está vivendo a velha história de origem, sua origem é mais furiosa. Pattinson lembra alguns momentos do Bruce Michael Keaton, cuja abordagem era de um bilionário recluso no filme de Burton de 1989.

Pattinson passa a maior parte do tempo de execução do filme fantasiado de Batman. É uma escolha criativa de Reeves, que argumenta que Batman é a verdadeira identidade e Bruce Wayne é a máscara. Isso já foi abordado nos quadrinhos algumas vezes e até mesmo no cinema, mas ainda assim, Reeves conseguiu fazer a coisa diferente.

Apesar da ausência do romance, Pattinson pode ser o Batman mais sensual do cinema. Embora não haja nada explícito, a abundância de couro e umidade do Batman exala erotismo dentro dos limites da classificação indicativa do filme. Tem muita referência ao romance “Morcego/Gata” visto nos quadrinhos de Tom King. Zoë Kravitz e Robert Pattinson são magnéticos como um casal, mas seus princípios são diferentes.

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Warner Bros. DC

O andar do Batman é pesado e um dos detalhes mais incríveis do filme. The Batman é metódico e deliberado. Ele exerce o poder de uma detonação termonuclear na delicadeza de uma agulha envenenada. O filme apresenta alguns dos cenários de ação mais emocionantes já construídos, além de muitos momentos tensos e eufóricos. No entanto, é um filme que foca mais para dentro do que para fora. Mesmo o clímax emocionante do filme, alimentado por uma dose literal de adrenalina, sublinha sua ideia central: este Batman é totalmente diferente de qualquer iteração do herói que você já viu antes. E a trilha sonora do filme feita por Michael Giacchino é a cereja do bolo. O tema principal lembra um pouco a marcha imperial do Darth Vader.

The Batman são muitas coisas – emocionante, engraçado e assustador, bem como muito longo e excessivamente tramado – mas é principalmente uma reinvenção completa de um ícone que, por pura vontade, mostra por que ele sempre está na moda.

Um dos filmes de 2022. Simplesmente recomendo.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.