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Resenha | 1Q84 (Haruki Murakami)

1Q84 (Haruki Murakami)

Texto Jackson Rocha
Haruki Murakami é dos escritores nipônicos mais conhecidos da atualidade, autor de diversos best-sellers a nível internacional, com sua obra traduzida para mais de 50 idiomas, contemplado com diversos prêmios literários importantes, sendo muitas vezes apontado como candidato a um possível prêmio Nobel de literatura. 1Q84 é uma de suas obras mais ambiciosas, alcançando um considerável sucesso de público.
A trilogia, publicada entre os anos de 2009 e 2010, nos traz a história de um mundo que, apesar de semelhante diversos aspectos, é bastante diferente do nosso. Pra começar, existem duas luas no céu, uma maior, praticamente igual a nossa, é uma menor, esverdeada, com cor de musgo. Nesse mundo também habita o Povo Pequenino, entidades de imenso poder e influência. Murakami encanta com sua capacidade criativa ao descrever o ambiente e a mitologia onde as suas personagens estão inseridas.
Aomane e Tengo são os protagonistas da narrativa. Cada capítulo nos traz eventos envolvendo cada um desses personagens, nos contanto a mesma história em linhas narrativas diferentes, que seguem seu caminho para se entrelaçarem no final. Inicialmente, é difícil entender a relação entre os dois: Aomane é uma instrutora de artes marciais que secretamente trabalha como assassina profissional, enquanto Tengo é um professor de matemática que tem aspirações de se tornar escritor. Duas pessoas tão diferentes, com vidas tão distintas, mas que são unidas por um aperto de mãos no passado.
A história começa quando Aomane desce as escadarias de uma via expressa a caminho de um dos seus trabalhos. Ali, sem saber, ela acaba por adentrar em um mundo novo, chamado por ela de 1Q84, já que no “seu mundo”, estava no ano de 1984. Tengo, por sua vez, é convencido por Komatsu, seu editor, a reescrever, como um ghost writer o romance A Crisálida de Ar, de Eriko Fukada, uma garota disléxica de 17 anos.
Como citado anteriormente, o ponto forte da obra é a criatividade. Durante os romances, somos apresentados a vários personagens e situações interessantes. O cultos religioso da comunidade de Sakikage, o seres mágicos conhecidos como Povo Pequenino, a crisálida de ar, sente outros, formando uma mitologia própria, bastante atrativa. Se há algo que o autor faz bem é atrair o leitor, mantendo o suspense e liberando as informações pouco a pouco, quase que a conta gotas, para mantê-lo imerso na leitura.
O estilo narrativo do autor é simples, com um linguagem direta, de fácil entendimento. Talvez esse seja um dos pontos para o seu sucesso: ao não usar uma linguagem deveras rebuscada, o escritor cria histórias democráticas, acessíveis ao grande público. Entretanto, Murakami tem uma tendência a descrever demais os fatos, por vezes tornando-se repetitivo, fazendo com que a leitura seja cadenciada de uma forma lenta, que pode incomodar em alguns momentos, já que alguns fatos são castigados em demasia, de uma forma maçante.
Outra crítica a obra seria a excessiva enrolação para se chegar ao final. Apesar de apontar a suspense como um dos pontos positivos, em alguns momentos a demora para se resolver certos eventos incomoda, parecendo que a obra poderia ter sido condensada em bem menos que as cerca de mil páginas da trilogia. Quanto ao final, esse pode ser decepcionante para quem chega ao fim da obra curioso para entender toda a mitologia criada. Não há um verdadeiro clímax. O final em aberto casa com a história desenvolvida, mas fica aquela curiosidade por conta das perguntas que ficaram sem resposta, principalmente com relação ao Povo Pequenino. Mas talvez esse seja o objetivo do autor: que o leitor se sinta parte do mundo de 1Q84, com todos os seus mistérios.
Cabe ressaltar as diversas referências presentes na obra, da tão importante Sinfonietta de Janacék, passando por BeatlesTchecovJung, são inúmeras as citações a cultura pop e literatura clássica presentes na obra. Curiosamente, apesar do título, o 1984 de Orwell não é uma delas (seria uma grande trollada do autor? haha). Essas trazem um diferencial a leitura, assim como um certo humor ácido do autor, principalmente na hora de descrever os personagens, principalmente Ushikawa.
Enfim, 1Q84 é, apesar de tudo, um bom livro. Sua mistura de temas e referências forma um caleidoscópio que merece ser apreciado. Apesar de não poder ser enquadrada como um dos grandes clássicos da literatura contemporânea, cumpre bem o seu papel, trazendo uma divertida experiência para o leitor, além de criar uma curiosidade para conhecer mais a obra do autor.

Haruki Murakami

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