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Crítica | The Alienist (1ª Temporada)

The Alienist está disponível  no catálogo da Netflix, uma produção original TNT baseada no livro homônimo de Caleb Carr. E parece que o brasileiro não vem prestando atenção nesta série incrível. Pode ficar tranquilo, essa crítica NÃO CONTÉM SPOILERS!

“No século 19, acreditava-se que pessoas que sofriam de doenças mentais eram alienadas de sua verdadeira natureza. Os especialistas que as tratavam eram então conhecidos como alienistas.”
É com essa explicação que se inicia cada episódio da 1ª temporada de The Alienist, nos transportando para a cidade de Nova Iorque em 1896, onde o assassinato grotesco de um garoto de programa, vestido de menina, desperta o pânico da população e o interesse de um alienista, o alemão Dr. Laszlo Kreizler (Daniel Brühl). Acostumado a tratar crianças, Laszlo vê semelhanças entre a descrição deste assassinato e o de um de seus pacientes, um menino que gostava de usar as roupas da irmã gêmea.
Impedido de comparecer à cena do crime por uma rixa de adolescência com o comissário da polícia – Theodore Roosevelt (Brian Geraghty) – o doutor pede que seu amigo John Moore (Luke Evans), ilustrador do The New York Times, desenhe o cadáver. Convencido de que os assassinatos foram obra de uma mesma pessoa, Laszlo acredita ser capaz de traçar um perfil psicológico do assassino e capturá-lo.
Quando o filho de uma rica e proeminente família se torna suspeito, o comissário Roosevelt passa a sofrer ameaças de seu antecessor e até mesmo do prefeito da cidade para fazer vista grossa. Em sua vontade de prender o assassino, permite que o alienista monte uma equipe de investigação e estude os próximos corpos. O time então é formado por Laszlo, Moore, Sara Howard (Dakota Fanning) – secretária de Roosevelt – e os gêmeos judeus Marcus (Douglas Smith) e Lucius (Matthew Shear) Isaacson – sargentos-detetives.
Todos sofrem com o desprezo de uma sociedade hipócrita, que realiza eventos contra a crueldade à crianças, mas as deixa morrer de frio nas ruas. Laszlo é visto como charlatão e Sara deveria seguir seu papel natural, casar e ter filhos. Os gêmeos Isaacson sofrem com o antissemitismo e têm sua investigação forense, em uma época muito distante de CSI, incompreendida e menosprezada. A exceção é Moore, um homem respeitado pela sociedade, que várias vezes nos faz questionar sua importância no grupo.
Abraçando o gênero de thriller psicológico do livro em que foi inspirada, a 1ª temporada de The Alienist serve para provar que o Dr. Kreizler está correto: o homem é fruto da sociedade em que está inserido. E essa afirmação é válida para todos os personagens, não apenas para o assassino.
Como Moore, traído pela ex-noiva e assombrado pelo afogamento do irmão, se perde em bebidas e prostitutas. Ou Sara, a única mulher em uma delegacia cheia de homens, onde todos a subestimam e zombam de seu trabalho. Quando Laszlo se mostra uma exceção e a trata como igual (para o bem e para o mal), já esperamos que ele desperte seu interesse. Mas não é só isso, temos em seu passado com o pai a resposta para suas escolhas na vida e em sua incapacidade de acreditar nos sentimentos de Moore.
Mas nenhum personagem é tão complexo como o próprio Dr. Kreizler. Com uma análise psicológica fria e insensível da vida e vícios de seus companheiros, Laszlo se mostra incapaz de perceber que ele seria seu paciente mais interessante. Na busca pelo assassino, chega à conclusão que o homem dominador se atrai sexualmente por quem o faz sentir diminuído, mas não parece conectar isso ao fato de seu desconforto perante uma dominatrix. Ou como um defeito congênito, que não permitiu a total formação de seu braço, o tornou tão consciente de si que não permite transformar em ato sua atração pela criada Mary (Q’orianka Kilcher) e o faz magoar todos à sua volta. Mas principalmente, o fato de sua busca incessante pelo motivo psicológico que leva cada um à cometer atos violentos estar enraizada em seu pai.
É evidente que, por ser o principal, Laszlo é o personagem mais desenvolvido e explorado, mas não é possivel enxergá-lo sem o alemão Daniel Brühl. Assim como Benedict Cumberbatch e Sherlock, Brühl interpreta Laszlo de maneira tão sólida e não exagerada que o espectador chega ao ponto de acreditar que o ator tem essa personalidade em seu dia-a-dia.
Porém, em meio à referências de figuras históricas (como Jesse Pomeroy e J.P. Morgan) e belos figurinos, a 1ª temporada de The Alienist luta contra o ritmo lento de seu material de origem, um calhamaço de mais de 500 páginas. Além disso, o elenco brilhantemente escolhido e os cenários deslumbrantes servem para nos desviar do fato que a trama nos parece familiar, talvez pelo gênero ser tão explorado por Hollywood.
Se vale a pena ser assistida? Com certeza, já que seus defeitos são facilmente oprimidos pelos acertos. Isso pode ser observado pela aceitação do público americano e os planos para uma possível segunda temporada.

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