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Entrevista | Paulo Biscaia Filho.

Entrevista feita por Ivana Machado.

Sobre Paulo Biscaia Filho:

Graduado em Artes Cênicas pela PUC-PR e Mestre em Estudos Tetarais pela Royal Holloway University of London, com tese sobre o Théâtre du Grand Guignol, tema que viria posteriormente a guiar a linha de pesquisa da Vigor Mortis. Professor dos Cursos de Teatro e Cinema da Faculdade de Artes do Paraná¡. Durante 9 anos trabalhou na Cinemateca de Curitiba como Programador de Cinemas, Coordenador e Consultor de Audiovisual. Atua também como diretor, roteirista e editor de cinema e vídeo.  Diretor de diversas montagens teatrais como: Cantos Fúnebres da Esperança(1991) e â”Morgue Story” (2004), “Graphic”(2006, Indicado ao Prêmio Shell RJ de Autor), Marlon Brando, Whiskey, Zumbis e Outros Apocalipses (2013), A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti (2017) e Acordei Cedo no dia em que Morri(2017). Por seus trabalhos em teatro já recebeu 8 Troféus Gralha Azul, inclusive nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Diretor e Melhor Autor.

Em 2012 publicou pela editora Estronho o livro PALCOS DE SANGUE, uma compilação de seus textos para teatro e sobre o Grand Guignol.

No cinema, seu primeiro longa metragem, “Morgue Story“,  participou de mais de 40 festivais internacionais e recebeu oito prêmios, incluindo o de Melhor Filme de Horror no Festival de Swansea, Pais de Gales.  NERVO CRANIANO ZERO, seu segundo longa,  recebeu mais de dez prêmios internacionais, com destaque para o de Melhor Diretor no New Orleans Horror Film Festival e para Melhor Filme no Montevideo Fantastico. Em 2016 realiza seu primeiro longa internacional : Virgin Cheerleaders in Chains, nos EUA.

O cineasta paranaense Paulo Biscaia Filho é o nome de maior sucesso quando o assunto é o terror trash. Seu filme Nervo Craniano Zero é o mais premiado filme de terror nacional dos últimos anos. Paulo é o responsável pela Vigor Mortis, multimidiática companhia de teatro, vídeo e quadrinhos. O público de Teresina poderá debater com o diretor sobre seu mais novo longa e compreender como foi todo o processo de criação desse terror.

 

Antes disso, confira uma entrevista com o cineasta.

  1. Que filme despertou em você a vontade de fazer filmes?

Foi graças a minha obsessão pelo filme “Os caçadores da Arca perdida”, inicialmente pelo interesse histórico, depois pela linguagem cinematográfica, mais especificamente pelo trabalho com atores. Foi vendo um vídeo de bastidores do filme, onde o diretor Spielberg dirigia Karen Allen, que tive um clique que era isso o que eu queria fazer na vida. Esta incrível possibilidade que cinema oferece de contar histórias através de imagens e atores. É isso o que me motiva a fazer cinema.

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O filme que influenciou Paulo Biscaia.

 

     2. Você é conhecido por seus filmes de terror. Como o terror surgiu em sua vida?

Do mesmo jeito que surgiu na vida de todo mundo: morrendo de medo dos filmes do Vincent Price. Hahaha. Depois, literatura. Por meu grande interesse pelas obras Edgar Allan Poe. O universo de pesadelo deste autor inspirou a produção de diversas peças no início da minha vida profissional. Depois acabaram me encaminhando para minha pesquisa de mestrado sobre o Grand Guignol, o teatro de horror de Paris. Essa pesquisa me levou a criar a Vigor Mortis, minha companhia de produção, como um espaço para pensar e exercitar narrativas de horror e violência. 

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Capa da edição número 2, do gibi que leva o mesmo nome da companhia

 

     3. Apesar de sua paixão pelo cinema, sua carreira começou no teatro. Como isso se deu?

Como respondia antes, o meu interesse em dirigir nasceu pelo cinema. Eu tinha 12 para 13 anos quando vi aquele documentário de bastidores. Depois disso, o que eu mais queria era fazer cinema, mas aqui em Curitiba, na época, não havia um curso de cinema. O que mais se aproximava disso era o bacharelado em Artes Cênicas então o teatro acabou acontecendo como um carinhoso acidente na minha vida. Ao mesmo tempo o teatro me afastou dos meus desejos de fazer cinema, ainda mais porque eu me formei no início dos anos 90, quando o cinema brasileiro estava virtualmente morto. No entanto, o teatro me deu oportunidade de exercitar narrativas e de fazer peças que trabalhavam linguagem cinematográfica no palco. Aos poucos, com a democratização do cinema digital, eu fui voltando aos meus objetivos iniciais de dirigir filmes sem deixar o teatro de lado.

    4. Você se formou no Brasil e foi para Londres fazer um mestrado que resultou em uma dissertação sobre o Grand Guignol. De que maneira isso mudou sua percepção?

Mudou apenas tudo. A estética do Teatro parisiense ainda é um dos principais nortes para tudo o que eu faço, seja no teatro, seja no cinema. As estruturas de timing dos roteiros da tradição do Grand Guignol estão presentes em todas as obras que produzo.    

    5. Na volta ao Brasil você montou uma companhia, a Vigor Mortis. Qual foi sua proposta inicial?

O objetivo da companhia era ter um espaço para trabalhar a estética do Grand Guignol e possibilidades narrativas de horror e violência no teatro e no cinema. 

    6. Como foi depois a migração do teatro para o cinema? E como as HQs funcionam neste meio?

Aconteceu aos poucos. No início dos anos 2000, comecei a fazer algumas experimentações com câmeras digitais. Também comecei a integrar vídeo digital em projeções nas peças de teatro. Em 2008 surgiu a oportunidade de fazer uma adaptação para cinema da peça Morgue Story, que tinha feito grande sucesso nos palcos. Eu não fazia ideia se a transposição iria funcionar em uma nova linguagem, mas deu mais certo do que eu previa. Isso acabou dando espaço para novos filmes, novas adaptações, novos públicos e novas experiências de linguagem. 

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    7. O que há de Teatro no Cinema de Paulo Biscaia Filho e o que há de Cinema no Teatro? Ainda, o que há de HQs em ambos “universos Biscaias”?

Essa é a pergunta mais difícil de responder. Ouço pessoas dizendo que meu teatro é cinematográfico demais e que meu cinema é teatral demais. Então não tem uma resposta. A não ser o seguinte: encontrei minha felicidade morando neste lugar crepuscular entre o cinema e teatro, com espaço para visitas constantes da linguagem de quadrinhos. hahahaha!

 8. Como você concilia o trabalho como professor e realizador cultural?

Enlouquecendo. Mas na verdade eles são bastante complementares. As discussões em sala de aula me trazem novas perspectivas que acabam ajudando no processo criativo, assim como as experiências nas realizações alimentam as discussões em sala de aula.

9. Virgens Acorrentadas é sua primeira produção internacional. Como surgiu o convite para dirigir um filme de terror nos Estados Unidos?

Encontrei o produtor e roteirista Gary Gannaway no festival de cinema de horror em New Orleans em 2012. Estava concorrendo com roteiro ainda não realizado e eu estava com meu filme “Nervo Craniano Zero”. Fomos conversando e ficamos amigos. Ele ficou muito interessado na forma como eu conseguia produzir longas-metragens com baixo orçamento. No ano seguinte ele escreveu o roteiro de Virgens acorrentadas. E como o roteiro fala sobre produções de baixo orçamento e também mistura horror e humor, ele se lembrou de mim na hora de montar a equipe do filme. Fiquei lisonjeado e aceitei na hora sem nem mesmo ler o roteiro. O título “exploitation film” já me seduziu na hora. hahaha! 

10. O que existe, no Virgens acorrentadas, divisor de águas na tua cinematografia?

Obviamente o fato de ser a primeira produção internacional é um grande marco. Mas também trabalhar com um roteiro que não fui eu quem escreveu foi um grande desafio. Me manter fiel a visão do roteirista e ao mesmo tempo trazer a minha identidade visual. Nunca tinha feito esse exercício. Foi muito importante e extremamente prazeroso. 

11. Qual expectativa para o lançamento nos Cinemas Teresina? Sei que já estiveste aqui na cidade com outro trabalho, não é mesmo?

Naturalmente espero que o público curta muito filme! Estará adiantada do resto do Brasil, pois a estreia nacional do filme será apenas no dia 9 agosto de 2018. Então, é um grande privilégio refazer esta pré-estreia numa cidade que acolheu maravilhosamente bem o meu espetáculo teatral Vigor Mortis Jukebox quando apresentamos aí em 2015 dentro do programa Palco Giratório. Também é um privilégio poder apresentar o filme em uma sala de cinema tão legal como são as salas nos Cinemas Teresina. Certamente é uma das melhores salas onde já projetamos esse filme. Mal vejo a hora de estar aí com vocês!

Paulo Biscaia Filho
Paulo Biscaia Filho.

 

Formado em administração e radiologia, professor por vocação e geek de coração!