As histórias são definidas por um começo, meio e fim. E os finais costumam ser uma das coisas mais difíceis de se acertar. Termine uma história bem e ela ficará com você para sempre. Mas acabe mal e toda a experiência será um trauma. Poder ser um final banal, esperado, limpo, apressado, enfim, se não funcionar, não será um final.
Estamos vivendo em um momento onde prequels, sequências, spin-offs, reinicializações, remakes e o caralho de asa está na moda, parece que os roteiristas estão evitando a dificuldade de chegar num bom final, eles estão simplesmente NÃO … TERMINANDO … QUALQUER COISA. Seja um suspense que deixa o público ofegante ou uma cena pós-créditos que configura a próxima aventura de uma grande saga no cinema, espera-se que cada final deixe a porta aberta para mais. E é essa ideia de quando “mais” que virou necessário e que deixou tudo incerto e as vezes bastante chato o cinema, TV e o entretenimento.
Obviamente, há uma situação comercial clara nisso tudo, além disso, é mais fácil convencer o público em algo que eles já conheça. Existem tantas marcas (séries, filmes, jogos) amadas por aí, prontas para um reeboot, prontas para se ganhar muito dinheiro? Essa linha de pensamento certamente parece mais atraente do que fazer o trabalho de inventar uma nova história do zero. Na verdade, é o pensamento que está na moda nesta indústria.
Além disso, há o fator nostalgia. Nostalgia é um universo confortável e explorar isso faz coisa acontecer de uma forma boa para eles e para nós. A nostalgia é como se fizesse parte da gente, como se fosse nossa própria família.
Eu sempre estou lendo Harry Potter, sempre estou lendo O Senhor do Anéis, eu sempre estou ouvindo minhas bandas preferidas de 20 anos atrás. Mas a nostalgia também pode ser um campo minado: fazê-lo bem é capturar a essência e o espírito do original sem pisar demais em solo sagrado. As expectativas são sempre altas, e elas quase nunca são dadas da forma como a gente queria que fosse.
Mas, meu maior problema com a cultura do reboot é o seguinte: a questão implícita de pôr que [essa história] deveria existir nunca é respondida. Defenderei o direito de um roteirista/estúdio/produtores de explorar mais mundos de determinado universo que já existe, se eles construírem com desejo de fazer aquilo porque gostam. Mas também espero que eles sejam capazes de justificar o porquê. Por que essa história? Porque agora? O que te motivou, além do dinheiro, a contar? Por que o público deveria se importar?
Eu acredito que as histórias devem ser contadas com intenção, amor e dedicação. Os estúdios estão caindo sobre si mesmos tentando criar seus próprios universos cinematográficos sem se preocuparem com todos os problemas que cria: enredos superlotados, hordas de personagens subdesenvolvidos, diálogos vazios, cenas cheias de CGI sem sentido e narrativas fracas. Todo espetáculo, nenhuma substância. A maioria dessas histórias não estão sendo mantidas por amor genuíno aos personagens ou ao mundo. São puramente produtos.
No entanto, isso não quer dizer que todos os reboots sejam automaticamente terríveis. Existe um potencial excitante nestes mundos que serão contados novamente. Mas a pergunta que fica no ar é: “por que” ainda merece ser contadas? Por exemplo, o “reboot” de Buffy The Vampire Slayer provocaram um debate imediato. Nos sites e redes sociais o que se falou que a série precisava voltar, ser “contemporânea” e vai construir uma nova mitologia baseada na original e também contará com “uma atriz negra entrando no papel de Buffy.” Da minha perspectiva, há duas interpretações potenciais aqui: uma das quais na verdade, pode ser muito bom, enquanto o outro me faz querer bater minha cabeça contra a parede.
A noção de ver uma nova história dentro do Buffyverse apresentando novos personagens, uma nova Caçadora é imensamente excitante. O conceito de Caçadora naturalmente se presta à reinvenção: “Em toda geração, nasce uma Caçadora. Somente ela exercerá a força e a habilidade para combater os vampiros, os demônios e as forças das trevas.” Em 2018, qual o significado do conceito de Caçadora e como uma mulher negra experimentaria de maneira única esse significado e esse poder?
Estruturalmente também, a série original era profundamente ambiciosa e inovadora. Entre os episódios, flutuou de drama para comédia, horror para romance, corredores do ensino médio para paisagens do sonho e episódios silenciosos para musicais. Ele explorou temas como amizade, família, amor, perda, medo, morte e, o mais importante, a vida. A série transcendeu o gênero e se tornou algo especial que nunca havia existido na televisão antes. Então, no momento em que nossas ideias sobre o que é possível a partir de histórias de séries de TV estão sendo derrubadas – leia-se reformuladas – por coisas como a Netflix, como um novo desafio pode se formar e estruturar de uma maneira diferente? Isso poderia realmente ser legal de explorar.
No entanto, se isso for um reboot completo da série Buffy original, com novos atores literalmente entrando nos personagens de Buffy, Willow e Xander, Eu não estou interessado. É estranho raciocinar os papéis existentes para os atores negros e chamá-los de “progressistas” em vez de inventar papéis novos e originais que eles possam ter. É preguiçoso recauchutar o mesmo terreno, as mesmas batidas de uma história que já vimos. A nova Buffy terá os mesmos traços de caráter de Buffy, de Sarah Michelle Gellar? Se sim, já foi feito. Se não, então por que se incomodar em chamá-la de Buffy?
Para mim, a história de Buffy foi contada. Funcionou de 1997 a 2003 e se eu quiser revisitar essa história, vou assistir novamente a série. Não, não era perfeito, nada é. Mas estava completo. Acabou. E se espera que esse novo reboot atinja todos os momentos favoritos que gostamos do original, qualquer que seja a nova narrativa em potencial que possa existir, nunca obterá o tempo e o espaço adequados para o desenvolvimento. É sobrecarregado com muito peso e expectativas. Mas esse peso não precisa existir. Eles poderiam respeitar a história de Buffy e escolher, em vez disso, construir algo novo dentro do universo que ela nos fez amar.
Como Buffy nos ensinou, devemos pensar muito sobre as consequências de levantar algo dos mortos que provavelmente deveria permanecer em seu túmulo. Se os roteiristas estão drenando sucessos do passado, como será a próxima geração com suas referências da cultura pop para se identificar? Os fins não são fáceis, nem deveriam ser. Mas, em algum momento, tanto o público quanto os criadores precisam reconhecer quando deixar algo acontecer. Nem tudo precisa, ou merece, um encore* – especialmente quando há tantas novas histórias apenas esperando para serem contadas.
Encore significa: “de novo, mais, ainda”.
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