Não deixe de conferir nosso Podcast!

Resenha | Blood. Uma História de Sangue (Dematteis & Williams)

Lançada pelo selo Epic da Marvel e pela Vertigo da DC Comics, Blood é o tipo de história reflexiva que o leitor tem que entender a proposta do autor para começar a entender do que se trata a trama.

Resultado de imagem para Blood Kent Williams

Quando um autor utiliza a metáfora (figura de linguagem para designação de um objeto/qualidade mediante uma palavra que designa outro objeto/qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança) para que uma história seja contatada, a trama pode fluir por caminhos fantásticos, porém, utilizando-se de simbolismo para tratar acerca do comum. Esse é o caso de Blood. Uma história de sangue, obra de J.M. Dematteis e Kent Williams.

Digo comum porque estamos diante de uma saga de nascimento, amadurecimento e morte de um indivíduo que, por trás de um pano de fundo de uma história envolvendo vampiros, é apenas um homem que nasce, cresce, aprende, ama e chega ao seu fim. Porém, ao final, acaba voltando para o começo de sua narrativa.

Começando e terminando com capítulos chamados de Ouroboros (conceito representado pelo símbolo de uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda, simbolizando o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo, que dá ideia de continuidade e, em consequência, eterno retorno), a trama inicia um ciclo de nascimento, evolução e morte do seu personagem principal.

É dessa forma que a trama se passa em um local indefinido, onde uma Mulher (a figura da mãe, aquela que traz ao mundo) encontra um bebê em um cesto e o cria. Com o tempo, a Velha (figura feminina de autoridade) afirma que o lugar dele é no Monastério (local onde o conhecimento será passado ao menino), sendo educado pelo Irmão e o Pai (é óbvio que são as figuras masculinas de aprendizagem), até o momento onde o garoto irá se virar contra os dois, ganhando a alcunha de Blood (sangue, em inglês), momento no qual ele sai do santuário e conhece o mundo.

LEIA TAMBÉM:  Troféu HQMix 2020: Confira a lista dos vencedores

Nesse mundo, que nunca é definido, Blood encontrará um sábio (importantíssimo para a trama como se mostrará ao final, onde se fecha o ciclo de vida e morte) e se deparará com uma tribo de vampiros, onde encontrará o seu destino na forma de outra Mulher que o alimenta com o próprio sangue (essa seria a metáfora para o amor). Todos esses acontecimentos são apenas do primeiro capítulo da trama, mostrando o quanto passagens importantes e metafóricas estão presentes na obra de Dematteis.

É importante notar que todo começo de capítulo é contato por um narrador diferente que vai desenvolvendo a trama de Blood. Começando por um rei que está a beira de morte e ouve de uma menina (ou seria alucinação?) a história de Blood, essa forma de narrativa ajuda o leitor a identificar as metáforas presentes no texto.

Deu para entender que o texto de Blood. Uma história de sangue não é fácil. Contando com tantas metáforas, muitos personagens e acontecimentos que irão se encontrar no futuro, a leitura desse quadrinho que foi publicado pelo selo Epic da Marvel na década de 1980 e pela Vertigo da DC Comics na década de 1990 é deveras lenta, já que o leitor tem que entender o que está sendo dito pelo texto e pelos belos desenhos de Williams. Se o leitor não entender o que está sendo dito ali,  o que pode ocorrer caso o leitor pense que a trama se trata apenas de uma simples história de vampiros, pode considerar Blood uma história ruim, o que não é.

Porém, não se pode negar que a narrativa de Blood é muito prejudicada por uma falta de foco. O próprio Dematteis afirma em seu prefácio (exclusivo da edição brasileira graças ao trabalho primoroso da editora Pipoca & Nanquim) que histórias são como cavalos selvagens que não podem ser domados. Porém, dar foco e clareza, mesmo em uma história que tem em seu cerne a metáfora, torna a leitura mais apurada do ponto de vista do leitor, o que faz com que ela flua melhor.

LEIA TAMBÉM:  Ursula K le Guin | Conheça sua histórias essenciais!

Quanto aos desenhos de Williams, os mesmos são instigantes. Para quem vê quadrinhos como arte e conhece outros trabalhos de artistas plástico como Dave Mckean (capista de Sandman), a arte pintada de Kent Wliians é um deleite aos olhos.

A edição nacional está belíssima. Contando com um prefácio exclusivo, com as capas originais, tanto da publicação do selo Epic quanto as da Vertigo, o trabalho da editora Pipoca & Nanquim com Blood. Uma história de sangue vem se juntar com outros lançamentos como ESPADAS E BRUXAS, CANNON, MOBY DICK, BEASTS OF BURDEN – RITUAIS ANIMAIS, UM PEQUENO ASSASSINATO MARADA, A MULHER-LOBO, provando que os editores tem um tratamento especial para com os quadrinhos e livros publicados pela editora.

Blood. Uma história de sangue não é um quadrinho fácil, com um texto que não é feito para todos os leitores, e que pode enganar aqueles que queriam uma simples história de vampiros. Com suas belas ilustrações e história cheia de simbolismo, a edição da editora Pipoca & Nanquim, talvez, seja um dos títulos mais ousados publicados, tanto na sua publicação original, quanto atualmente.

FICHA TÉCNICA:

• Formato 17 x 26 cm
• 204 páginas coloridas
• Miolo em papel couché brilho 115 g/m2
• Capa dura com verniz localizado e cor especial
• Lançamento em agosto de 2018, pelo preço de R$ 59,90

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.