O site da livraria Quinta Capa não surgiu com o objetivo de apenas apresentar notícias sobre a cultura pop. Como dito em nosso editorial, queremos apresentar análises, resenhas e opiniões sobre um leque enorme de opções disponíveis aos apaixonados pelos quadrinhos, livros, cinema e animações, assim como outros assuntos comuns ao nosso público.
Com esse objetivo, buscamos entrevistar quem trabalha diretamente no mercado brasileiro de quadrinhos e mangás. Dessa forma, apresentamos abaixo a entrevista conduzida por nosso editor Thiago Ribeiro com Cassius Medauar, jornalista, tradutor e gerente de conteúdo da JBC, maior editora especializada em mangás no Brasil.
O seguimento de mangás da editora JBC iniciou seus lançamentos em 2001, com títulos como Sakura, Samurai X (Rurouni Kenshin), Video Girl Ai e Guerreiras Mágicas de Rayearth. Os mais de 120 lançamentos que a JBC realizou, até o momento, são dos mais variados temas: desde ação e ficção científica, até comédia e romance. Dentre vários sucessos publicados, grandes autores como Masami Kurumada, Takeshi Obata, etc, foram apresentados ao público brasileiro.
Na entrevista, falamos acerca do mercado nacional de mangás, a importância dos quadrinhos digitais e lançamentos físico, os lançamentos da editora e ainda são revelados os lançamentos para 2019.
5C: É inegável que com o advento da internet os fãs podem ter acesso ao conteúdo dos quadrinhos/mangás no momento em que ele é lançado no mundo. Também, é inegável que a JBC tem intenções de diminuir esse lapso temporal, sendo a publicação de Edens Zero, de Hiro Mashima (mesmo criador de Fairy Tail), um acontecimento único nos mangás no Brasil, já que o capítulo da semana é lançado aqui no mesmo dia que no Japão, em formato digital. Como é a parte de editar esses títulos, já que as editoras japonesas costumam promover negociações pesadas para que um mangá saia em outro país?
Cassius Medauar: Foi difícil convencer os Japoneses a nos deixar entrar nesse projeto de simulPub, mas o fato de ser um autor já publicado pela JBC e de a gente já estar publicando mangás digitais da Kodansha acabou facilitando bastante o aceite desse projeto. A parte de edição é relativamente tranquila depois que o trabalho semanal entra na rotina!
5C: E os arquivos? São mandados com antecedência para a editora JBC, fazendo a tradução e a adaptação antecipadamente?
Cassius Medauar: Sim, os japoneses nos mandam o material de 7 a 10 dias antes da data de publicação.
5C: Pelo trabalho e esforços empregados, o retorno de Edens Zero é o que a JBC espera?
Cassius Medauar: Sim, estamos gostando bastante do retorno. Após a entrada dos capítulos semanais de Edens Zero, as pessoas começaram a descobrir mais os mangás digitais da JBC. Mas ainda é um mercado bem pequeno e o projeto é de longo prazo.
5C: A publicação do volume 01 em formato impresso é uma política que a JBC quer manter, fazendo com que o material chegue para diferentes públicos em diferentes formatos (digital e físico)? Ou investir em uma mangá que não se sabe ainda quando acabará é uma aposta arriscada?
Cassius Medauar: Acreditamos que quadrinhos digitais e físicos se complementam, um não vai acabar com o outro. Portanto, o digital é apenas mais uma opção que damos aos nossos leitores de poderem ler os mangás JBC.
5C: As negociações com os artistas japoneses são extremamente difíceis, como muitas editoras brasileiras gostam de falar para o público. Há negociações já em andamento para o lançamento de outros títulos que estejam saindo nesse momento no Japão para serem lançados em terras brasileiras simultaneamente?
Cassius Medauar: Sim, já há negociações em andamento.
5C: 2017 e 2018 foram anos repletos de lançamentos para a JBC. Fullmetal Alchemist (que está chegando ao final), Akira (tendo lançado 03 volumes até aqui), Cavaleiros do Zodíaco Lost Canvas (um título há muito pedido), entre outros. Porém, esses foram os anos em que a crise do mercado editorial cresceu, tomou forma e fez desabar muitas coisas que, até então, pareciam certas, como o envio dos títulos da JBC para as bancas de jornais. A atitude de focar em livrarias e megastores (que também estão em crise) não gera temor na editora?
Cassius Medauar: Não, temor nenhum. Já trabalhávamos diretamente com livrarias e lojas especializadas há um bom tempo e, é claro, todo mundo que está no mercado editorial já sabia da crise. Por isso a JBC já estava se preparando para todos os cenários.
5C: Focar em um público que abandonou as bancas de jornal é uma decisão temporária? Ou a editora entende que investir nesse segmento também pode trazer novos leitores?
Cassius Medauar: Acreditamos que é possível conseguir novos leitores em muitos lugares, como a internet, por exemplo. Não eram apenas as bancas que geravam novos leitores. O mundo mudou.
5C: O retorno das grandes livrarias e megastores, nesse momento, está sendo mais lucrativo do que as vendas em bancas de jornais eram há cinco anos, por exemplo, ou o mercado encolheu e a JBC teve que se adaptar a ganhar menos, mas continuar lançando títulos?
Cassius Medauar: Não tenho como responder essa pergunta.
5C: Como está a estratégia da editora para vender seus títulos para as livrarias?
Cassius Medauar: Como falei acima, já fazemos isso há bastante tempo.
5C: Akira, Blade – A Lâmina do Imortal, Eden, Ghost in the Shell. Todos foram lançados pela JBC com um formato mais luxuoso, mas com o valor de capa mais elevado. A resposta dos compradores desses títulos mostrou que vale a pena investir em um formato mais caprichado para os mangás? Ou títulos como Seven Deadly Sins, que é lançado ainda em papel jornal e mais barato, dão um retorno maior?
Cassius Medauar: Tanto deram certo que continuamos e ampliamos os lançamentos assim. Já existe uma base de fãs que lê desde o começo dos anos 2000 e que quer títulos mais bem cuidados. Há espaço pra todos os formatos.
5C: A editora Devir tem o selo Tsuru, responsável pelo lançamento de mangás renomados, como Uzumaki, Nonnonba, O homem que Passei e Tekkon Kinkreet. A JBC teria planos de lançar um selo voltado apenas para grandes nomes dos mangás em formato luxuoso?
Cassius Medauar: Não. Nós já fazemos isso dentro do nosso selo normal. Temos Otomo, Shirow, Natsume Ono e Inio Asano, entre outros.
5C: Por falar em Seven Deadly Sins, o anime é lançado pela Netflix, fazendo com que muitos tenham contato com a história. Ter uma anime de sucesso ajuda a editora JBC a vender seus mangás, como em Fullmetal Alchemist e My Hero Academy?
Cassius Medauar: Sim, isso sempre ajuda bastante.
5C: As editoras de quadrinhos e mangás, hoje, parecem querer um maior contato com seu público, sendo exemplos o canal de youtube da editora Pipoca & Nanquim e o próprio Henshin Online da JBC, lançado todas as sextas. Fazer essa ponte está trazendo novos leitores?
Cassius Medauar: Eu acredito que sim. Mas acho que ter um contato mais direto é fundamental hoje em dia, independentemente de gerar ou não novos leitores.
5C: Como é a estratégia de publicidade para que um mangá desconhecido do grande público, como Edens Zero, que está ainda sendo lançado, se torne famoso no Brasil?
Cassius Medauar: Não dá pra falar em detalhes porque varia muito de momento e de mangá para mangá. Mas, grosso modo, é divulgar, divulgar e divulgar nos lugares certos.
5C: Pelo que é dito por você, Cassius, no Henshin Online, é importante a JBC manter sempre seu estoque renovado, não deixando que algumas edições fiquem esgotadas. Quais títulos e volumes da JBC serão relançados?
Cassius Medauar: Nesse primeiro momento, Fullmetal, My Hero Academia, The Seven Deadly Sins, O Cão que Guarda as Estrelas, Death Note Black Edition e Akira. Mas isso é algo dinâmico e outros entrarão todos os meses.
5C: Existe alguma possibilidade de Hunter x Hunter ser relançado em formato de luxo, como foi Fullmetal Alchemist?
Cassius Medauar: Existe a possibilidade, mas, por enquanto, não está nos nossos planos.
5C: Vamos falar de 2019. Algum lançamento que você poderia nos adiantar? (Por favor, diga Nausicaa)
Cassius Medauar: Vamos começar o ano com Rosa de Versalhes e Battle Angel Alita – Last Order. Depois teremos Fire Punch, Hokuto no Ken e Ghost in the Shell 1.5.
5C: Quais são suas expectativas para o mercado de quadrinhos/mangás no geral para 2019? A crise vai continuar ou a recuperação judicial de grandes editoras e distribuidoras, além das livrarias, irá ajudar a sanar as finanças das editoras, fazendo com que elas retornem para as bancas de jornal?
Cassius Medauar: Não tenho a menor ideia. Torço para que tudo melhore, mas não tem como saber.
5C: Em um podcast do MDM – Mehlores do Mundo, você afirmou que a editora JBC não teria retorno ao fornecer seus títulos para plataformas digitais como o Social Comics. Você poderia explicar mais sobre essa decisão?
Cassius Medauar: Não foi isso que eu falei. Nós, inclusive, temos lá no Social Comics todos os nossos mangás nacionais. O que falei é que os japoneses não aceitam o modelo de negocio em streaming e que, por enquanto, só nos permitem vender títulos digitais em formato e-book.
5C: Qual mangá que, se pudesse, você roubaria da concorrência para serem editados na JBC?
Cassius Medauar: Acho que Dragon Ball. Adoraria poder editar Dragon Ball de novo.
5C: Obrigado pela atenção e pela paciência, Cassius.
Cassius Medauar: Imagina, eu que agradeço.
Leave a Reply