Não deixe de conferir nosso Podcast!

Crítica | Sex Education, primeira temporada (sem spoilers)

Antes de tudo, preciso adiantar ao leitor meu local de fala: sou fã de Gillian Anderson, uma das atrizes principais da série e isso, provavelmente, interfere em minha avaliação de Sex Education. Ela foi o principal motivo que me levou a maratonar a temporada no dia da estréia. Posso afirmar, inclusive, que apenas a presença dela é motivo suficiente e justificado para isso.

Sex Education estreou na Netflix dia 11 de janeiro, tem oito episódios com cerca de 50 minutos cada. Mas do que trata mesmo? Asa Butterfield interpreta Otis Milburn, um adolescente de 16 anos que passa pela constrangedora fase de intensos desejos sexuais, confrontado com a timidez e inexperiência que não lhe permitiu perder a virgindade.

https://www.youtube.com/watch?v=o308rJlWKUc

Tudo pelo que passa Otis seria bem típico se não houvessem agravantes: sua mãe, Jean Milburn (Gillian Anderson), é uma phd e terapeuta sexual, mãe solteira e com intensa vida “amorosa”. Tudo isso contribui, sobremaneira, para que o jovem desenvolva certo bloqueio com relação à própria satisfação sexual: o rapazinho é incapaz de se masturbar. Sofre, inclusive, nauseas, ao tentar. Que dó.

O melhor amigo de Otis é Eric (Ncuti Gatwa), um gay assumido, mas que também tem suas dificuldades para participar do mundo do sexo. Ncuti Gatwa é, sem sombra de dúvidas, a grande surpresa da série. Interpreta um personagem com suas afetações que, por vezes tão sutis por vezes explosivas, o torna extremamente real, cômico e dramático, protagonizando a cena mais emocionante da temporada (maldito Ncuti, você me fez chorar!).

Outro personagem de destaque é Adam Groff (Connor Swindells), o típico arruaceiro “burrão” que tem problemas em casa, com o agravante de que o pai é também o diretor da escola. Groff é muito simpático em sua idiotice, e é interpretado com um misto estranho de melancolia cômica. Fiquem de olho nele.

LEIA TAMBÉM:  Bem-vindo à Era do Super-herói LGBT

Mas a aventura da série foca mesmo na improvável relação do garoto tímido da sala de aula, Otis, com a badgirl da escola, a personagem Maeve (Emma Mackey). Os dois desenvolvem o inesperado esquema de clínica e terapia sexual escondido dentro da escola onde estudam, isso porque percebem que todo adolescente tem problemas sexuais e atendê-los, pode gerar uma boa fonte de grana.

Otis, entretanto, não parece se importar com o dinheiro, mas com o prazer de estar ao lado de Maeve, uma garota extremamente linda e inteligente. E é neste ritmo que eles vão se envolvendo e tratando os mais corriqueiros problemas sexuais que nos acompanharam na adolescência (ou acompanham por toda a vida!), e que justifica a censura 16 anos da série. Olá peitos, pênis, bundas e vagina, vocês vem sempre por aqui? Sim! Os primeiros 30 segundos do episódio inicial já mostra a que veio: uma série que se chama “Sex Education”, não poderia ser diferente.

É justamente na análise dos colegas feita por Otis, que está a essência da programa: tratar dos problemas dos jovens que estão descobrindo o sexo.  E este é um tema ótimo para iniciar este interessante ano, com toda a família tradicional brasileira. Bola dentro, Netflix!

Mas se você não for daqueles que se deixam levar facilmente pela simpatia apaixonante e química inebriante que exala de Gillian Anderson, ou pelas atuações cativantes dos dramas e comédias dos demais protagonistas, ou mesmo pelo plot da história, e se sentir no meio de mais uma série comum sobre jovens colegiais, você, provavelmente, poderá estar certo.

Isso porque o show não ignora alguns encontros e desencontros na narrativa típicos desta forma de estórias, ou mesmo um ou outro clichê na construção de certo personagem. Para mim, isso é um problema muito pequeno diante de um cenário maior muito mais bem resolvido. É aquele tipo de coisa: “eu sei que isso vai acontecer, mas agora que estou fisgado pelo personagem, preciso saber como isso vai acontecer”.

LEIA TAMBÉM:  Kang, O Conquistador, apareceu no UCM e tudo ficou possível no universo

É justamente na maneira “como” as coisas acontecem que nos deixa intrigados: Jean é quase neurótica em sua mania terapêutica de avaliar as pessoas, inclusive o próprio filho, e, por vezes, lembra a Scully (personagem que Gillian consagrou em Arquivo X), com suas eloquentes frases científicas para tentar explicar as relações mais naturais do mundo. Otis é um jovem tentando descobrir como se masturbar e essas cenas, por si só, conseguem não ser constrangedores, pelo contrário, são muito divertidas! Eric é um gay ateu, único homem de uma família religiosa e tem trocentas irmãs (sério, não consegui contar quantas eram). Groff tem um olhar que só vendo pra tentar entender o personagem, e assim por diante…

Recomendadíssimo!

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos